Com licença!
Perdão por lhe tirar
Da tirania do WhatsApp,
Do Facebook que espia,
Invade a intimidade do que se alia,
Esconder da meninada o tablet,
Que gruda como chiclete.
Da escravidão da internet
Que as relações derrete,
Embora faça você navegar
Em plataformas de frio polar
Por lhe enganar,
Com o seu falso e virtual calor.
Ih, pegou.
É só encher a cara
Que a prosa mole dispara!
Diga logo:
Cadê o velho de barbas brancas,
De gorro e folgadas roupas vermelhas,
No lance de mágica, em centelhas,
Que faz a festa com as crianças
De cabecinhas raspadas, de tranças,
Magricelinhas, gordinhas,
Negras, amarelas,
Índias, branquelinhas,
Tão novinhas,
Meias-solas (desculpas!) e velhinhas?
E não é que o danado,
Correndo atrás de cachês,
Nas portas de lojas, no comércio,
Nos shoppings, nas cabanas,
Nas casinhas enfeitadas, bacanas,
Não encontrou tempo para subir o morro,
Levar um agrado aos da viela, favela,
A quem o dinheiro não dá trela?
Como igual sucede aos que, pobres,
Expulsos para as periferias das cidades,
Vítimas de preconceitos e atrocidades,
No máximo, sobrevivem sem os cobres.
Em situações de miséria, não conseguem sonhar alto,
Patinam na lama, longe do asfalto.
Quando encontra o granfino,
Para a foto da social coluna,
Encolhe a barriga, bailarino.
Sorri, o bigode arruma.
Ao fazer média com o emergente,
Do cartão de crédito, endividado,
Desesperado pensa, displicente:
Pelo governo foi enganado.
É, para fazer uma extra,
Noel se finge de cansado,
Limpa as botas, suspende a sesta.
Por ser pai, também está preocupado.
Ao chegar a meia-noite,
O personagem desaparece.
A fantasia se rasga no estalo do açoite.
A sua família o revê, e agradece.
Esquecer-se do relógio dá nisso!
Pulou o calendário para vinte e cinco!
Estressado, quase furou o compromisso.
A porta abriu, caiu o trinco.
Perdoem filhos: viram a Luz entrar?
Ouviram o chorinho no silêncio da madrugada,
Ao romper a bolsa de Dezembro, no ar?
Nasceu o Cordeiro, não falta mais nada!