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Vôo cego do urubu

As derrotas do Flamengo nos jogos decisivos que já teve este ano, sendo a semifinal do Mundial de Clubes 2022 contra o Al-Hilal e a final da Super Copa do Brasil contra o Palmeiras trouxeram, obviamente, uma grande alegria aos torcedores rivais cariocas Vasco, Fluminense e Botafogo. Mas a maioria dos demais torcedores brasileiros também ficaram em êxtase com os reveses do rubro negro, principalmente os corinthianos, que estão torcendo no momento contra o Flamengo muito além da simples rivalidade de grandes clubes, mas devido o técnico flamenguista Vitor Pereira.

O técnico português Vitor Pereira desembarcou no Brasil sob grande expectativa para treinar o Corinthians substituindo o tão criticado Sylvinho. Embora não iniciando bem, conseguiu impor seu trabalho e estava muito confortável no cargo, cumprindo as metas mínimas que um grande clube exige. No final da temporada do ano passado, a diretoria do clube propôs a renovação do vinculo do técnico, que alegou não poder assinar, não por salário ou outra situação contratual, tão pouco pelo time, torcida e estrutura oferecida. Não assinou porque teria que voltar para Portugal ajudar a esposa no tratamento da sua sogra, que sofre de uma doença terminal.

Opa, em casos assim todos os corinthianos, por mais que lamentam a não continuação do técnico, com certeza compreenderam perfeitamente, pois família vem em primeiro lugar, ainda mais em situação de doença. As portas do Parque São Jorge ficariam abertas para um retorno do bom técnico, mas, por incrível que pareça, após alguns dias, Vitor Pereira foi anunciado no Flamengo, para substituir o técnico Dorival Junior, que havia sido campeão invicto da Libertadores e campeão da Copa do Brasil.

Os bastidores sujos do futebol se superam cada vez mais. O cidadão trata a doença de um familiar publicamente como uma desculpa de sair do clube e logo assina com outro, como sim? Cadê a palavra do homem? O esporte é uma ferramenta influenciadora e altamente disciplinar, os esportistas que estão nas principais vitrines são exemplos para crianças e jovens. Essa situação do Vitor Pereira não ficou legal, trazendo a ira dos torcedores do Corinthians contra ele e qualquer equipe brasileira que ele venha a treinar. Queimou o filme.


E a diretoria do Flamengo, que lástima. Demitir o técnico que fez uma campanha invejável, vencendo grandes campeonatos no ano. Como assim? Cadê a valorização do profissional, o mérito, o entendimento da seqüência?  Casos assim nos levam a crer que alguns clubes brasileiros precisam urgentemente de diretores que enxergam o clube como uma grande empresa. Com plano governamental, valorização dos profissionais, demissão de profissionais com justa causa, hierarquia não autoritária. Imagina uma grande empresa como, por exemplo, o Magalu demitindo o gerente que atingiu todas as metas simplesmente porque acha que o gerente de outra rede pode fazer um trabalho ainda melhor? Uma grande empresa aposta no escuro? Com certeza não.

O Flamengo errou duas vezes. Demitindo o trabalho espetacular do Dorival e contratando um profissional que se despediu do clube anterior dando a doença da sogra como desculpa. Uma grande empresa analisa o histórico do profissional, tanto de carreira como de comportamento, caráter. Se fez com o Corinthians, pode fazer com o Flamengo.

Como diz meu grande ídolo Muricy Ramalho: “A bola pune”. E Flamengo e Vitor Pereira serão punidos com uma temporada sem títulos, nem mesmo o Cariocão, talvez no máximo a Recopa Sul-americana, que terá que suprir a derrota do primeiro jogo do duelo contra o Dell Vale. A arrogância da diretoria e o atropelamento desrespeitoso de profissionais que lá estavam culminarão em uma temporada de azar para aquele que não aproveita a própria sorte.

Fabiano Cardoso Pradela

É colunista esportivo, profissional de educação física e empresário.

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