Trump eleito nos EUA, o Brasil e a anistia
Donald Trump venceu a eleição presidencial dos Estados Unidos com votação recorde. Além de conquistar o governo, o seu Partido Republicano fez maioria do Senado e da Câmara, o que garantirá tranquilidade pelo menos nos primeiros dois anos do mandato. Seu discurso, na madrugada desta quarta-feira (6), mostra a disposição de recolocar o país na condição de grande nação que, por conta da polarização política, foi secundária nos últimos mandatos e assustou a população.
Perseguido ferozmente por adversários que – independentemente de terem razão ou não – queriam aniquilá-lo, Trump deu a volta por cima. Sua eleição o faz imune a processos judiciais (onde chegou a ser condenado) e o recolocam no poder novo em folha, apesar de sua idade avançada. O povo o escolheu por razão econômica, acreditando que sob sua direção, o país estará melhor do que dirigido por Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos, do Partido Democrata, que encarna o outro lado da moeda. Com certeza, os Yankees já respiram com certo alivio. E nem há questionamento na eleição, tamanha a diferença de votos entre o ganhador e a perdedora.
O esquerdismo da política norte-americana só tem agora o mandato até 20 de janeiro, quando Trump assumirá a Casa Branca. O Mundo se preocupa sobre como o presidente Joe Biden, hoje um “pato manco” – como lá se classifica o governante que perdeu a eleição – administrará nos próximos dois meses e poucos dias, especialmente no tocante às guerras em que os países aliados precisam de ajuda. Espera-se, também, que Trump chegue ao novo mandato com a pomba branca da paz pousada em seu ombro e trabalhe para conseguir o cessar fogo digno aos conflitos Ucrânia-Rússia e Israel e adversários oficiais e oficiosos do Oriente Médio. E que o povo, finalmente, sinta no seu bolso e na economia estadunidense as vantagens de tê-lo eleito.
A nefasta divergência ideológica que parece emburrecer direita, esquerda, centro e suas variáveis, é um mal à política em qualquer parte do Mundo. Além de favorecer a truculência e sucatear princípios jurídicos, legislativos e de governança, faz o povo sofrer e atrasa a vida de todos.
Estados Unidos é um país – o mais poderoso militar e economicamente – e tradicional aliado do Brasil, com relações bicentenárias. Não pretendemos tomar a eleição de Donald Trump como bíblia política, mas também não devemos ignorar o que lá acontece, pois terá repercussão aqui e em todo o Mundo, por muitas razões. O desconforto da polarização que nos persegue há pelo menos uma década traz muitas semelhanças ao processo norte-americano e, além disso, possui características próprias que não cabem discutir nuns simples artigos como o presente. Os Poderes da República – Legislativo, Executivo e Judiciário brasileiros precisam atentar para as necessidades de pacificação nacional. Temos propostas de anistia tramitando pelo Congresso Nacional e suscitando embate entre situação e oposição. Isso indica que – como nos EUA – chegamos a um ponto de exaustão, onde o embate político já cansa o povo e até parte dos que dele participam. Precisamos de paz. Em vez de forçar para votar ou não votar a anistia, esse perdão oficial, deveríamos estar trabalhando para que ele, se vier, seja amplo, geral e irrestrito. Até porque – diferente de 1979, quando foi votada a anistia assinada pelo general Joao Batista Figueiredo, havia candidatos ao perdão que empunharam armas e tinham cometido crimes de sangue – hoje o que temos é prioritariamente a intransigência dos grupos que querem ganhar as disputas mesmo quando isso se mostra impossível. Se for traçado um período de perdão aos arroubos políticos, todos os devedores poderão ser perdoados – até porque alguns já o são por outros caminhos – e o nosso Brasil, poderá voltar a respirar, viver e até sonhar com a paz e o desenvolvimento, hoje difíceis de se consolidar.
O presidente Lula disse – desnecessariamente – que preferia a eleição de Kamala Harris. Pensamos, no entanto, que isso não deverá impactar nossas relações com o governo Trump. Tudo vai depender, evidentemente, dos comportamentos de ambos os lados no dia-a-dia dos governos…