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Socorro

A saúde brasileira está doente. E faz tempo.

Tende a piorar.

A demora para ser agendada a sua consulta varia de 60 a 90 dias, sem discriminação do Sistema Único de Saúde e da rede privada de convênios.

A possibilidade de reagendamento é real. O facultativo, generalista ou especialista, poderá estar de férias; de licença-saúde; em viagens de estudos, a serviço de suas empresas e do organismo do estado em que está lotado; compensando folgas não gozadas; cuidado de seus interesses pessoais e familiares; por motivos de acidentes, danos, reformas, adaptações e outros fatores que impedem a sua atividade em seu posto de atendimento e consultório.

A irregularidade do fornecimento dos medicamentos para os usuários do sistema público é mais velha que a serra.

Minha mãe tinha uma receita infalível para a receita que não tínhamos como aviar, por deprimente pobreza material: faz chá da receita, e toma!

As instalações de prestação dos serviços de saúde são ruins ou precárias. Há UBSs que não conseguem disponibilizar uma cadeira que seja para o menor conforto em suas salas de espera. Calçadas e guias fazem as vezes, para dar alívio à extensão inferior das costas.

Filas estressam, desorientam, revoltam e matam. Nunca foi tão fácil diagnosticar essa entidade social: agorafobia.

Os manuais de saúde saltam na tela quando se dá um ‘google’ para procurar saber algo sobre diagnósticos médicos, composição de medicamentos e termos que correm entre farmacêuticos, médicos, estudantes de medicina, deixando os leigos perdidos ou mal achados por causa do descaso do setor.

Não há médicos para todos. O que se vê é propaganda enganosa, tipificada como crime no Código de Defesa do Consumidor. Disse, no código.

O departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e, louvavelmente, a partir deste ano, com o apoio do Ministério da Saúde, em seu estudo Demografia Médica 2025,  o Brasil deve registrar 635.706 médicos em atividade – uma média de 2,98 profissionais por mil habitantes, número que permanece muito abaixo do recomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que são 3,7 profissionais por mil habitantes.

Aparentemente, é moleza resolver essa defasagem. O problema é que saúde não é matemática, pela qual bastaria aumentar em 24,16% a contratação de médicos e, no quesito, as medidas de alcance do piso de 3,7 referido seriam certeiras.

Na exatidão da representação de quantidades, em uma federação de estados e de municípios, a admissão ou ingresso de mais 153.586 médicos no mercado resolveria o básico. O mais, para nos aproximarmos do ideal, ficaria em nossos desejos e promessas,

A Agência Brasil[i], como advogada do diabo, pega pesado contra o que escrevemos, na ginga do só pra contrariar:

“O Orçamento de 2025 terá um congelamento de R$ 31,3 bilhões de gastos não obrigatórios, informaram há pouco os Ministérios da Fazenda e do Planejamento. O valor consta do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, documento enviado ao Congresso a cada dois meses que orienta a execução do Orçamento. ”

Detalhes do congelamento – entre bloqueios e contingenciamentos –  desse Pico da Neblina, será detalhado no próximo dia 30, quando o governo publicar um decreto presidencial com os limites de empenho (autorização de gastos) por ministérios e órgãos federais).

Aqui entre nós, nem o governo sabe o que está fazendo. Estão perdidinhos.

Os planos de saúde se empenham para preservar a sua saúde financeira. Lucros caindo e despesas de coberturas aumentando são sinais de que urgência pode ser lida como emergência. Economistas e administradores, do ponto de vista empresarial, assumem o posto dos médicos e dos profissionais de apoio destes.

O personagem da Escolinha do Professor Raimundo é excluído da classe. Paulo Cintura que rebole: “Saúde não interessa; lucro é que tem pressa”.

A fatia que os vendedores de convênios publicitariamente espetaculares e de pós-primeiro mundo é loucura, loucura, estando a contabilizar 52.168.881 (cinquenta e dois milhões, cento e sessenta e oito mil, oitocentos e oitenta e um) usuários em assistência médica e um invejável contingente de 34.473.261 (trinta e quatro milhões, quatrocentos e setenta e três mil, duzentos e sessenta e um) em planos exclusivamente odontológicos.

Qualquer investidor, nacional ou estrangeiro, fica de boca aberta. Quer desse pirão, cujo caldo é engrossado com os sacrificados recursos de famílias e de pessoas que moram sozinhas, fartos de ouvirem que a saúde melhorou. Melhorou para quem?

“As operadoras que se mantêm na faixa 3 por dois trimestres seguidos são obrigadas pela ANS a suspender a entrada de novos beneficiários nos planos mais reclamados. A ideia é que elas, primeiro, vão ter que melhorar a qualidade da assistência prestada para, com isso, terem menor número de reclamações, para, só então, no trimestre em que não estiverem mais na faixa 3, possam voltar a vender seus planos normalmente[ii]”.

O IDEC[iii] pede para falar:

Em planos de saúde, tema líder do ranking, as principais queixas apontadas pelos associados da instituição são dúvidas e reclamações sobre reajuste abusivo (25,85% dos casos). Seguem-se problemas com contrato (19,49%), sendo que desses, quase metade problemas com reembolso, tendo relevância também reclamações sobre descredenciamento. Por fim, prática abusiva (cancelamento unilateral de contrato e exclusão de dependentes) e negativa de cobertura ficam empatados em terceiro lugar, com 13,14% das queixas cada.

O instituto de defesa do consumidor informa, ainda, que as reclamações contra as empresas de planos de saúde tiveram a maior porcentagem entre os associados do instituto, com 29,10% do total.

A média de reclamações contra os donos da saúde de mercado é de mil por dia, com picos que quase dobram, a depender das épocas do ano, como agora, de tempo frio e seco, com as ondas desconcertantes de viroses e doenças respiratórias.

Como a realidade não é em cores, toca um play no vídeo e sente o drama de que não tem pavio:

Inserir o vídeo, que também está em várias redes sociais

Duas mulheres usaram pedaços grandes de madeira para tentar quebrar a porta do pronto-socorro do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), em Brasília.

Ou será aí na sua cidade?

Enquanto tentava depredar o equipamento público, uma das mulheres cobrou atendimento. “Meu filho está passando mal”. Embora o local estivesse cheio de pacientes e com a presença de vigilantes, ninguém interferiu na ação das moças.

As redes sociais bombam com essas broncas da população.

A prescrição subverteu a ordem natural do esperado. Polícia, para restabelecer a ordem e a segurança; atendimento médico, quando der.


[i] https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-05/governo-congela-r-313-bi-do-orcamento-de-2025

[ii] https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/saude/audio/2025-04/ans-aponta-540-operadoras-de-planos-de-saude-com-melhor-desempenho

[iii] https://idec.org.br/release/reclamacoes-contra-planos-de-saude-seguem-na-ponta-do-ranking-do-idec

Dr. Theo Maia

Advogado Previdenciarista (OAB-SP 16.220); sócio-administrador da Théo Maia Advogados Associados; jornalista; influenciador social; diretor do Portal Notícias de Franca; bacharel em Teologia da Bíblia; servo do Senhor.

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