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Só um menino

Ele era só um menino… ainda perdido em seu mundo egoísta, em seus dramas de quem está começando a vida e pouco sabe das dores que ainda irá enfrentar, das reais mazelas sociais.

Ele era só um menino, preocupado em gritar sua solidão aos quatro cantos do mundo, quando na verdade ainda não estava pronto para partilhar um relacionamento, uma vida, sonhos, momentos…

Ele era só um menino, ocupado demais com seus problemas, envolvido demais em suas conquistas, perdido entre tantas dúvidas e incapaz de aceitar suas certezas.

Ele era só um menino, daqueles que ainda precisam afirmar sua imagem nas redes sociais em busca de um olhar. Só um menino à procura de atenção, de ouvidos capazes de receberem suas histórias, seus sonhos, sua inquietude, de mãos para afagarem seu rosto de barba ainda falha, de colo para acolher suas fraquezas, de um corpo para lhe dar prazer. Mas, por ser só um menino, ainda não sabia ouvir, suas mãos estavam ocupadas demais para oferecer carinho, seu colo indisponível e que ainda incapaz de acolher um outro alguém.

Ele era só um menino que não tinha ideia da força de um verdadeiro amor, porque simplesmente ainda não havia amado.

Só um menino, imaturo para avaliar suas atitudes, suas palavras, e usá-las para o bem, um menino que não conseguia perceber que essa sua inconsequência causava dor, arrancava lágrimas de olhos que ansiavam por vê-lo sempre bem.

Ele era só um menino e, ainda assim… eu me apaixonei… me apaixonei exatamente por sua meninice. Eu lhe ofereci meus ouvidos, mãos, colo, lhe entreguei meu corpo, meus dias, minhas esperanças, meu coração.

Mas, ele era só um menino com meu coração nas mãos e, sem querer, num momento de descuido, suas mãos cederam… meu coração foi ao chão.

Ele era só um menino, e eu, perto da sua juventude inconsequente, senti os anos pesarem em meus ombros, em meus dias, em minha vida. Por ser um menino, ele me fez sentir velha, incapaz, imprestável. Pra ele a vida era um começo e pra mim já era o fim, ele tinha sonhos pra realizar, enquanto a mim não era nem mesmo dado o direito de sonhar.

Ele era só um menino, em busca de uma garota… e eu… eu já não era mais uma garota.

Ele ainda é um menino, ainda envolvido em suas inquietudes, ainda em busca da sua garota… e eu… eu nem mesmo sei o que sou, mas sei que ele continuará sendo o “meu menino”.

Jaqueline Vieira

É francana, tem 42 anos e é formada em Letras, Pedagogia, especialista em Linguística e Gestão Pública. Educadora entusiasta, escorpiana intensa, apaixonada por vinhos, gastronomia e pela arte, amante das palavras escritas, suas eternas e fieis companheiras desde a infância. Instagram: @jaquevieirad

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