Quando se fala em ordem de processos, nunca se resolve de fato um problema atuando em seu efeito, mas sim em sua causa. Existe uma diferença muito grande entre resolver e remediar um problema. Apagar um incêndio não resolve o problema de algo pegar fogo, apenas o remedia. A solução do problema está na identificação do que gerou a faísca do incêndio e fazer algo para que não ocorra novamente.
A reforma tributária vem sendo discutida tem mais de 30 anos pois é tão complexa e delicada que qualquer mínimo aspecto alterado tem potencial de impactar o negócio de muita gente e prejudicar drasticamente segmentos específicos.
Com o atual sistema de tributação no país, diversos estados localizados em locais mais afastados aos centros comerciais possuem incentivos fiscais para “justificarem” alguma empresa se estruturar na região. Está em pauta no texto da reforma tributária, que a tributação seja padronizada para todos, cenário o qual independentemente de onde a empresa esteja, sua carga tributária vai ser igual a de todos. Um ponto que vale a pena pensarmos é o seguinte, se hoje uma empresa se estabelece em uma região com pouco estímulo econômico, com o novo sistema de tributação colocado em pauta, o que faria a empresa se manter em locais que não são estratégicos do ponto de vista empresarial? Sem os incentivos fiscais, o cenário mostra que seria interessante, do ponto de vista estratégico negocial, que companhias transfiram suas operações para centros comerciais, gerando desemprego em massa e afetando negativamente as regiões que hoje são incentivadas.
A construção de uma obra nunca começa pelo telhado, mas sim por sua base e estrutura. Quando se foca em aspectos sem levar em consideração “todos” seus impactos é como construir um edifício em cima de areia. O sistema tributário de um país molda seu fluxo econômico e quando esse formato é criado ou alterado visando principalmente a simplificação, isso pode custar muito mais caro do que se imagina.
Ao analisar o tão comemorado projeto de reforma tributária, não podemos deixar de lado sua abordagem rasa, que despreza alguns aspectos cruciais e sacrifica, de forma rigorosa, os interesses de muitas empresas que empregam brasileiros e contribuem com a economia do país. O destino de muitos poderá ser afetado por uma negligência em um assunto tão sério e que merecia muito mais cautela pois pode trazer uma enxurrada de consequências indesejadas.