O que fazer?
Qual o destino do rico acervo do Laboratório das Artes, que gostaríamos que pertencesse definitivamente à cidade?
Anacrhônicas da Franca do Imperador nº 48 2023 – 27nov
Lenin foi o líder bolchevique da Revolução Russa em 1917 e depois o primeiro presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Seu livro “O que fazer?” é um clássico da literatura política e a situação no Brasil, após a vitória de Lula e reinserção do Brasil na URSAL me levam a perguntar como ele, cento e tantos anos depois: “o que fazer”?
Lenin escreveu esse livro em meados de 1901 discutindo ideias para o avanço das lutas proletárias. Diferentemente do líder revolucionário, minha pergunta é bem mais prosaica e nada tem a ver com revolução, mas com a dificuldade em lidar com uma constatação: a passagem do tempo, às vésperas dos 200 anos de Franca.
Explico. O Laboratório das Artes de Franca surgiu como um movimento cultural no início dos anos 1980 e acabou tornando-se também uma generosa ideia, a de que é possível fazer arte e oferecer biscoitos finos à massa através de ações que giram em torno da ideia de construir um museu de arte moderna local que o poder público nunca quis criar. Essa incrível experiência, que já dura mais de 40 anos, sabemos que não vai durar. Sua data de validade está próxima do vencimento. A idade de seus integrantes e a inauguração do espetacular SESC – Franca no próximo ano vai tornar obrigatório dar destino a um acervo tão rico quanto difícil de manter: as obras do acervo próprio de pinturas, desenhos e gravuras de artistas modernos de Franca e de muitos outros lugares. Acervo que preserva obras, dentre muitos outros, dos francanos Salles Douner, Gerson Oliveira, Ivo Indiano, Rodolfo Chiaverini, Ricardo Augusto, Podô, Paulo Pereira, Paulo Moreira, além da mais importante e reconhecida artista plástica da história local, Atalie Rodrigues Alves. Acervo que preserva obras de artistas brasileiros como Cláudio Tozzi, Renina Katz, Maurício Nogueira Lima, Pedro Gismonti, Hélvio Lima, Hélio Siqueira, Marcelo Grassmann, Maria Bonomi.
Nosso objetivo sempre foi tornar o acervo público e acessível a quem se interessasse por artes visuais. Foi o que fizemos e continuamos fazendo ao longo do tempo que corre inexorável. Por isso, como Lenin, pergunto: “o que fazer?” Queremos doar o acervo a uma instituição pública que se comprometa a mantê-lo e dar-lhe o nobre uso que sempre demos, de educação e fruição artística. Deparamo-nos, no entanto, com a triste realidade local em relação à arte e à cultura: abandono, parcos recursos, perda sucessiva de tantos patrimônios locais sem que a direção da barca mudasse de rumo ante os icebergs que só aumentam.
Não queremos que aconteça com o acervo do Lab o que acontece com quase todos os acervos públicos locais: a ronda constante da destruição por incúria, abandono, desinteresse, falta de projetos museológicos, de pessoal qualificado, recursos e espaços adequados. Há anos vimos procurando diversas instituições para definir esse futuro do acervo, mas nada conseguimos até agora a não ser “nãos” bem-educados.
O tempo ruge, como diz um amigo gozador. Tudo indica, como tantas outras tentativas fracassadas do gênero nessa cidade sem memória (Museu na Estalagem, Casa da Cultura no Hotel Francano, na Estação da Mogiana ou na AEC, Acervo da Taxidermia do Giovanni Magrin, Museu do Folclore da UNESP, Museu do Calçado) que nosso esforço pode ter sido em vão. Com uma diferença: dizem que, mais importante que uma causa, são as pessoas que estão ao seu lado na trincheira. Vamos continuar a lutar nas trincheiras da arte e da cultura ao lado de gente que vale a pena, para que exista uma Estação Finlândia ao final da linha.
Acompanho desde o início o lindontrabalhonrealizado pelo Laboratório das Artes. Um legado como esse não pode ser entregue e mãos menos cuidadosas dos que os atuais guardiões desse acervo. Espero que a comunidade francana possa ajudar na busca da solução para tal situação assim como aqueles que assumirem essa responsabilidade sejam fiéis a esse compromisso.
Mauro e Ataliê, têm o meu mais profundo respeito e especial carinho e admiração, por vários motivos, mas dentre eles, se não o maior, está a visível devoção pela Arte Contemporânea e o comprometimento solidário e amoroso de trazer a possibilidade de torná-la acessível ao povo francano, e além, através do Lab. É justo que vençam a batalha!
Fundamental ação (e pergunta). Fica o desejo de que Franca, sua população e gestores, encontrem um lugar e um modo de não apenas salvaguardar esse acervo, mas de inseri-lo na vida de sua população. Há que se pensar em ação coordenada que pensa lugar, uma especial paisagem, sua inserção urbana associada a um espaço livre qualificado e uma política pública que possa associar sua implantação à sua manutenção.
Pois é Mauro. Franca continua sendo dominada por pessoas insensíveis, de extrema direita, que só pensam em dinheiro, e parece que estão se lixando pela memória da cidade, DA SUA PRÓPRIA MEMÓRIA. Muito triste.