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O eleitor e as pendências dos políticos

A troca desmedida de  farpas e os argumentos utilizados pelos agentes do  embate político e ideológico vivido nas últimas décadas pelo nosso país, constituem verdadeiros assassinatos de reputações. O contencioso que levou Lula do poder ao cárcere e o reabilitou para novamente governar carece de melhores definições e esclarecimentos que dêem ao povo elementos suficientes para compreender suas verdadeiras facetas. Da mesma forma, os procuradores e magistrados que atuaram na Operação Lava Jato – da primeira instância ao Supremo Tribunal Federal – precisam ser submetidos ao pente fino que afaste as dúvidas sobre seu trabalho; se o material que os orientou e deu causa às suas ações (mensalão, petrolão e eventos paralelos) de fato existiram e principalmente se tiveram a mão de Lula e seus parceiros.

Deltan Dallagnol, ex-procurador-chefe da Lava Jato, acaba de perder o mandato de deputado federal por razões que carecem de melhores esclarecimentos. O ex-juiz (hoje senador) Sérgio Moro corre o mesmo risco. Agora apareceu alguém que diz ter atuado como agente infiltrado e ilegal do então magistrado. São informes que devem ser dissecados até renderem elementos suficientes para punir o acusado ou, se comprovados inverídicos, voltarem-se contra quem os  utilizou em falso testemunho. Quem confessa ter atuado infiltrado, para desvio da Justiça, tem de ser punido, pois isso é crime. Quanto a Moro, os que pretendem puni-lo, não devem se esquecer que ele apenas proferiu as sentenças de primeira instância a as penas que aplicou foram mantidas e até aumentadas nas instâncias superiores. Seria o caso de punir desembargadores e ministros dos tribunais superiores que também atuaram no caso?

Desde o recrudescimento da cena política, ideológica e administrativa, a Nação é bombardeada diuturnamente pelas ações do “nós contra eles” e “deles contra nós”. O Poder Judiciário, tantas vezes provocado pelos próprios políticos tornou-se algoz da  classe e frequentemente é acusado de legislar e até governar, em flagrantes invasões às prerrogativas do Legislativo e do Executivo.

Recente levantamento revela haver atualmente  130 deputados federais e 20 senadores processados no STF. A simples abertura de investigação ou processo é um prejuízo porque sugere o cometimento de ilícitos e, via-de-regra, a má imagem do político não se desfaz quando ele é absolvido ou o processo arquivado por falta de provas.

Como cidadãos, não temos raciocínio pré-concebido contra os políticos, nossos representantes eleitos. São eles próprios, com suas atividades e embates, que acabam caminhando rumo ao descrédito. Com tudo o que se tem falado, contra e a favor, da Operação Lava Jato, de seus operadores e réus, é difícil ao povo fazer juízo de onde está o certo e o errado. O mais indicado é o esclarecimento completo dos fatos apurados e, especialmente, qual a participação de cada envolvido. Não basta a Justiça  condenar (ou absolver) com base em filigranas processuais; é preciso esclarecer o povo das razões que levaram à decisão porque, sem esse cuidado,  o paciente continua culpado e condenado aos olhos do povo a quem nas próximas eleições vai pedir o voto. Daí a imagem sofrível de que hoje padece o político brasileiro, que pelas circunstâncias, mesmo absolvido ou de processo trancado, é incapaz de se safar por completo das imputações um dia produzidas  por seus adversários.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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