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No bicentenário da cidade, é preciso refletir: o que querem os movimentos sociais de Franca para 2024?

Em 2024, a cidade de Franca completa seus 200 anos de existência, e é possível dizer que, neste bicentenário, algumas estruturas ainda são as mesmas. Agora, os movimentos sociais se organizam para apontar uma nova direção: uma cidade de Franca que reflita o tamanho das suas lutas.

A terra de Carlos de Assumpção, Abdias do Nascimento, por onde viveu Carolina Maria de Jesus, da luta dos trabalhadores, da força do Sindicato dos Sapateiros e da defesa da cultura não pode mais ser a mesma de sempre. No ano que marca o Brasil após a derrota de Bolsonaro na última disputa eleitoral, com a eleição de Lula pelos braços dos movimentos sociais, Franca requer novos horizontes.

2024 não começou com uma cidade de Franca diferente. Iniciamos o ano sabendo que nosso município ficará de fora da verba complementar do Fundeb (Fundo de Manutenção e Educação Básica), por não preencher requisitos que deveriam ter sido cumpridos pela gestão municipal. Mesmo frente às notificações do Tribunal de Contas sobre a ineficiência da administração e diante dos inúmeros casos de violência nas escolas municipais no último período, a Prefeitura de Franca negligencia esses fatores e se desencontra com a educação de qualidade. Mais uma vez, a gestão atual começa o ano em débito com os professores e estudantes.

Em janeiro, presenciamos a invasão da polícia militar em um terreiro de candomblé da cidade, com a interrupção da cerimônia religiosa do babalorixá Emerson Antônio Barbosa, pai de santo que foi detido em meio a seu culto. Diante da atrocidade que demonstrou o desrespeito à diversidade religiosa, a Prefeitura de Franca sequer se manifestou sobre o ocorrido. E no dia 25 de fevereiro, com a organização da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa pelo Comdecon (Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Franca) em resposta ao caso de racismo religioso, não foram presentes nenhum dos 15 vereadores da cidade, nem mesmo representantes da prefeitura. E, mais uma vez, a gestão atual começa 2024 em completo descaso com os candomblecistas e com os movimentos em defesa da liberdade religiosa.

Em 2024, completa-se o segundo ano seguido desde a pandemia em que nossa cidade não viu acontecer o carnaval de rua. Escolas de samba não desfilam em Franca desde 2019, e a gestão do prefeito Alexandre se marca pela completa ausência de carnaval no que dependeu do poder público. O Carnaval de 2024 movimentou estimados 9 bilhões de reais no Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), promovendo renda para uma série de famílias, comerciantes e artesãos locais em diversas cidades do país. Nada disso aconteceu em Franca. E, mais uma vez, a gestão atual começa o ano negligenciando o movimento da cultura popular, negro, feminista, LGBTI+ e todos os grupos que celebram esta data como forma de resistência.

São inúmeros os abandonos que já despontam na Prefeitura desde o começo de 2024 e não se findam nestes casos citados: feminicídio, transfobia, falta de segurança pública, uma empresa de transporte que há décadas não supre as necessidades de Franca, entre tantas outras expressões da velha política de
negligência com o povo. Em 2024, é preciso sonhar com uma nova cidade, e isso inclui encontrar um novo nome para a gestão municipal, que seja capaz de rejuvenescer a política e pensar nas reais demandas da população. Precisamos de um nome que não se distancie dos movimentos sociais, porque eles representam as mais variadas expressões da população francana.


Não é mais possível manter as estruturas de uma política centenária em Franca, com as mesmas desigualdades e preconceitos de 200 anos atrás. É preciso pensar a política com entusiasmo e coragem, entendendo que não há outra alternativa senão mudá-la. Contra as décadas de preconceito e negligência contra seu povo, apenas a atuação conjunta dos movimentos sociais em torno de seu melhor projeto será capaz de transformar o bicentenário de Franca em um marco para sua história. Em 2024, os movimentos sociais querem e podem muito mais: precisaremos da luta, da unidade e da melhor política para chegar mais perto do nosso futuro.

Lê Magalhães

É estudante de Direito na Unesp, ativista trans e diretor LGBTI+ da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.

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