Doentes

Ansiedade e aborrecimento é o que abate sobre você.
Dormiu com ele nas mãos, mesmo com dores nos dedos, na palma das mãos, nos braços e nos ombros.
No meio da madrugada, quando tudo era silêncio – ou deveria ser -, sentiu que ele estava com frio, jogado no criado, na mesinha ou perigosamente junto de seu travesseiro.
Ao pegá-lo, no escuro mesmo, nem se lembrou de que tem um abajur no seu quarto; isso, se não dorme na sala. Estava aflito de saudades dele. Queria o calor que ele promete lhe dar.
Quem estava ao seu lado, está em segundo plano. Ao estar sozinho, a solidão o faz mais vazio, com ataques de contorções e gestos que deveriam trucidar a fúria e tristeza maiores que você.
Ele, de volta ao seu controle, o descontrola a mudar de telas e perfis, em movimentos que não são mais seus, dados os toques instintivos que a sua conexão implantou em sua mente, que de tão viciada, é tomada de prazer que cada curtida e visualização libera, disparando dopamina, louco por recompensa, igualzinho a um usuário de drogas ilícitas.
O dia está amanhecendo, seu sono se foi e a sensação de que está alienado é a real.
Antes do almoço ou após ele, o cansaço físico vem para defender sua saúde. O amiguinho de que você não desgruda está sugando a seiva de sua alegria de viver.
O hormônio do prazer também age nos processos cognitivos, movimentos, funções cardíacas, capacidade de atenção e de concentração e nas ginásticas dos seus intestinos.
Passou a tarde agarrado nele.
De novo, o sol se pôs e a noite arrasta sobre si as trevas em que está metido. As luzes, brilhos e lanterna do amiguinho inseparável clareiam o seu estado de distúrbios neurológicos e psiquiátricos como doença de Parkinson, esquizofrenia ou TDAH …
Posso falar com você?

– Agora, não. Depois.
O objeto de sua busca de satisfação aqueceu. É necessário desligá-lo. Pode explodir.
Você está doente. Diagnóstico: nomofobia – medo de ficar sem celular.
Alô, alô, alô…