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Deserto

Engana-se quem pensa que deserto é o Nada, vastidão varrida vazia. Há nele o silêncio que vem de dentro da gente, ou trespassa, o Deus que nos fala. Há muitos vulcões no dentro d´alma, em maior número do que todas aquelas pseudo-montanhas de Atacama – que são vulcões, extintos ou ainda ativos. Somos poeiras de estrelas, poeiras de chão, poeiras ao vento, poeiras… Ver o deserto é visitar o incerto, o descoberto, e também sentir o invisível manto do infinito que nos leva a milênios que nos antecederam e aos milênios que nos sucederão. Confrontar-se com o inóspito aparente que pode fazer acontecer, no repente, via mãos, pés, cabeças inteligentes atemporais, uma cultura humana: civilizações. Mas é preciso ver e ouvir o que ressoou e ressoará, no imaginário visual e auditivo daquilo que não lá está. E onde esteve, estará, está? No coração do homem, poderá achar. Ou não.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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