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Ciscando Aventuras

Filme: My fair Lady

(musical estadunidense, 1964, direção: George Cukor 170 minutos).

Oscar: vencedor em oito nas categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Rex Harrison), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia – Colorida, Melhor Figurino – Colorido, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som. Globo de Ouro 1965 (Estados Unidos), nas categorias de Melhor Filme – Comédia ou Musical, Melhor Ator – Comédia ou Musical (Rex Harrison) e Melhor Diretor. Prêmio BAFTA 1966 (Reino Unido), de Melhor Filme.

My Fair Lady é uma comédia musical baseado na peça teatral Pigmalião de George Bernard Shaw, com libreto e letras de Alan Jay Lerner e música de Frederick Loewe.  O show estreou na Broadway no Mark Hellinger Theatre em 15 de março de 1956. O elenco original trazia Rex Harrison, Julie Andrews. Ganhou cinco prêmios Tony, prêmio de melhor musical, apresentado na Broadway 2.717 vezes, recorde da época, por6 anos!

Em 1964, virou filme para cinema, com Audrey Hepburn e Rex Harrison, com Stanley Holloway como Alfred P. Doolittle, o pai de Eliza, um pobre lixeiro. Recebeu oito Oscars, incluindo o de melhor filme.

Conta a história de Eliza Doolittle, uma mendiga que vende flores pelas ruas escuras de Londres em busca de uns trocados. Em uma dessas noites, Eliza conhece um culto professor de fonética Henry Higgins e sua incrível capacidade de descobrir muito sobre as pessoas apenas através de seus sotaques. Quando ouve o horrível sotaque de Eliza, aposta com o amigo Pickering, que é capaz de transformar uma simples vendedora de flores numa dama da alta sociedade, num espaço de seis meses.

POR QUE GOSTEI: Um clássico este musical. Em 2024 celebra 60 anos! Estava  começando a aprender inglês aos 10 anos. Minha tia e professora dava aulas particulares em sua casa. Futura fundadora da Cultura Inglesa em Franca, Conceição Lana da Costa,  usou as letras das músicas do filme para motivar os alunos a cantar aprendendo a língua, aprender cantando.  Deu muito certo, decorei, com  dicção britânica, muitas das músicas, além de desenvolver o gosto pelos musicais.  Vi este musical muitas vezes, no extinto Cine São Luís, em frente ao Banco Itaú.  A molecada vaiava todos os musicais. Poucos parecem se interessar por musicais.  Pensei que fosse voltar a onda (muito na moda nos anos 50/60) com Mama Mia, e outros. Só que não.   Ópera, que adoro, não é inspiradora para todos, eu sei.   Audrey Hepburn está linda neste filme, depois da transformação operada pelo professor Higgins: curiosamente não levou nenhum prêmio de Melhor Atriz.  Pigmalião,  de Bernard Shaw,  em que se baseia o filme, tematiza esta prepotente ideia de que é possível transformar uma pessoa em outra.  Veja o filme e tire sua conclusão.  É ideia cruel e violenta pensar que se pode moldar uma pessoa. Muitas gentes pensam que podem, doutrinando, evangelizando, seduzindo, tratando o próximo como “coisa”, como uma mercadoria a ser teleguiada, para que se curvem aos seus desejos, satisfaçam vontades narcísicas. Mentalidade colonizadora e escravagista, que persiste, encravada na miséria da condição humana.

LIVRO: Antes do baile verde

(Lygia Fagundes Telles, Editora Bloch, 1970, 237 páginas).

Antes do Baile Verde reúne 18 contos, escritos entre 1949 e 1969. Considerada uma das publicações mais relevantes da autora. O livro agrupa contos contemporâneos realistas, intimistas, refletindo características da terceira geração modernista e do Concretismo. Trata de temas como o adultério, insatisfação conjugal, loucura e desmistificação dos papéis familiares, com personagens que retratam famílias urbanas brasileiras de classe média que escondem dramas e conflitos. Antes do Baile Verde foi proibido na gestão de Emílio Garrastazu Médici, durante a ditadura militar. Recebeu o Grande Prêmio Internacional Feminino para Contos Estrangeiros.

Ganhou o Prêmio Guimarães Rosa em 1972 e o Prêmio Coelho Neto em 1973. Foi escolhida, então, para a cadeira de número dezesseis da Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis.

O enfoque de cada conto surpreende. Paulo Rónai comenta: “Essas pequenas obras-primas, de tão fremente inquietação íntima e que exalam um desespero tão profundo, ganham a clássica serenidade das formas de arte definitivas.” E Antonio Cândido: “Lygia Fagundes Telles sempre teve o alto mérito de obter, no romance e no conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado, na linguagem ou na caracterização.”

POR QUE GOSTEI:  Se você não leu Lygia Fagundes Telles, não irá se arrepender com sua leitura. Leia, depois me conte. O que impressiona sobretudo é o olhar contemporâneo, atual, inusitado para a situação sempre complexa (e muitos podem achar pesada, angustiante) enfocada por ela, e que Lygia deixa em aberto para o leitor pensar e sentir.  Esta surpresa pode ampliar pensamentos interessantes e úteis sobre a condição humana, sobre a violência das paixões, e a fatuidade das racionalizações.  Para viver há que ter preparo, ou seja, trabalho interior, clareza na percepção das dificuldades que a vida arma, ética para avaliar vivências. Lygia nos oferece, com olhar crítico, acurado,  experiências emocionais, e o leitor, a leitora, poderá agregar uma riqueza de sabedorias. Poderão nascer brotos de novas compreensões sobre si e sobre a condição humana.      

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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