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Ciscando Aventuras

FILME – O tambor

(1979, direção de Volker Schlöndorff, co-produção Alemanha, França, Polônia, Ioguslávia)

Baseado no livro homônimo de Günter Grass (Nobel de Literatura 1999), um dos principais integrantes do teatro do absurdo da Alemanha. Ganhou o Oscar, 1980, como melhor filme estrangeiro. 141 minutos.

O Tambor - Filme 1979 - AdoroCinema

Nascido nos anos 20  na cidade de Dantzig na Alemanha, Oskar Matzerath ganha um tambor aos três anos de idade. Inconformado com fato de sua mãe manter um caso com um primo, decide parar de crescer se atirando escada abaixo. A atitude de fato prejudica seu crescimento. Paralelamente, acontece a ascensão do nazismo no país e a disputa que se iniciará por Dantzig.

POR QUE GOSTEI:  é muito importante conhecer o que leva uma sociedade a aderir a ideias tão inumanas como as que ventila o nazismo.  Temos visto o negacionismo florescer em todo o mundo, e as bandeiras nazistas tremularem a céu aberto, o que para muitos que ainda vivem, sobreviventes de descendentes que sofreram durante a II Grande Guerra, é algo difícil de assimilar.  Vi o filme no cinema e não mais.  Mas ainda tenho guardado muito do filme que mostra uma decadência de valores no pré-guerra, que vai sendo explicito na criação da criança, Oskar, e no descaminho de seu desenvolvimento.  Enquanto escrevo procuro o filme para revê-lo.  E o livro também.

Gunter Grass sofreu severas críticas por não ter revelado que quando jovenzinho pertencera aos quadros nazistas.  As opiniões dos críticos e escritores se dividiram.  Há algo no filme de autobiográfico quando o protagonista do filme, o menino Oskar, diz “Não sou responsável pelas coisas que fiz quando criança.”  Gunter Grass tentou se defender dizendo que pensava que sua obra seria suficiente para se justificar, por ser tao jovem e aderir ao nazismo.  Morreu em 2015, ainda controverso e persona não grata a Israel por ter se colocado, em poema, contra o armamento nuclear do país.

LIVRO: Mário e o mágico

(Novela de Thomas Mann, 1929, republicado pela Companhia das Letras, 2023. 60 páginas).

Mário e o mágico - Thomas Mann - Grupo Companhia das Letras

Com posfácio de Marcus Vinicius Mazzari, A hipnose do fascismo, 43 páginas.

Traduzido do inglês-Mario and the Magician, pela Companhia das Letras. Foi publicada por Martin Secker em 1930 em uma tradução para o inglês por Helen Tracy Lowe-Porter, e sua tradução foi incluída em Thomas Mann’s Stories of Three Decades, publicado pela Alfred A. Knopf em 1936. Thomas Mann recebeu o prêmio Nobel de Literatura em

(…) entendida hoje como uma obra tragicamente profética, em cuja substância, de modo profundo e dialético, estão imbricadas as condições psíquicas às condições sociais para expressar negativamente o advento do totalitarismo de viés fascista. A esse respeito tornaram-se já bastante conhecidas e debatidas em seus eixos basilares (principalmente entre os estudiosos da literatura e do pensamento de Thomas Mann) as análises que levam a cabo interpretações históricas visíveis nessa novela, eixos através dos quais perpassa a compreensão de que o movimento que tal obra promove envolve-se com a crítica à estetização da política. Ao meu juízo, o sumo dessa reflexão tem o potencial de deixar em si expressar um curto-circuito entre tempo e linguagem, já expressado poeticamente na obra, e com isso abrir em seu próprio corpo textual um espaço para expor ainda uma ou outra nota acerca da investigação sobre o mal-estar na civilização, premente na era da máxima instrumentalidade científica da política. (Alexandre C. Pandolfo).

POR QUE GOSTEI:  a edição da novela de Mann pela Companhia das Letras traz um belo posfácio de Mazzari, que contextualiza a obra e o autor.  Pude recentemente assistir um debate na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, com sua presença e de outra colega psicanalista.  A questão girou em torno da Ética e da Política. O próprio Mann ao escrevê-la em 1929 inseria  a sua obra dentro do prisma da ética, por estar avaliando o fascismo dominante, totalitário de Mussolini, na Itália.  Não acreditava, então, que algo como este fascismo italiano pudesse acontecer em seu país, Alemanha.  Anos depois pôde desenvolver em sua obra grandes reflexões sobre a tragédia alemã, com a ascensão de Hitler.

Não é por acaso que pessoas sensíveis e atentas ao que ocorre no mundo – guerras, Putin, e líderes em ascensão da extrema direita, violências na Escola! – têm se preocupado e queiram refletir, com base na história da humanidade (recente e antiga), e na análise da condição humana sobre estes temas penosos e tão presentes atualmente.  Afinal temos gerações a nos suceder  e o compromisso com as crianças e adolescentes de hoje.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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