Ciscando Aventuras
FILME – A última grande lição
(Tuesdays with Morrie, 1999, diretor Mick Jackson, Jack Lemmon).
Este é um telefilme estadunidense, baseado no livro de mesmo título, de Mitch Albom. Mitch (Hank Azaria), um importante comentarista esportivo, ignora sua vida pessoal e deixa de aproveitar momentos valiosos da vida por conta do trabalho. Uma das principais figuras de sua vida foi Morrie (Jack Lemmon), seu professor da universidade e um famoso acadêmico. Quando Mitch descobre que seu antigo mentor está morrendo por conta de uma grave doença, ele passa a visitá-lo todas as semanas, às terças-feiras, como indica o título do filme em inglês. É a chance de Morrie dar sua última lição: ensinar seu aluno a viver. Jack Lemmon ganhou um prêmio Emmy, por sua atuação. O filme foi ao ar originalmente na ABC em 5 de dezembro de 1999.
POR QUE GOSTEI: depois que assisti a este filme, escrevi uma crônica – Adote um professor. Creio que muitos de nós tivemos o privilégio de ter um professor que marcou nossa vida. Neste livro-filme, o protagonista pode acompanhar o professor nos momentos finais de sua vida, em uma espécie de retribuição ao que recebeu dele. Reitero que adoro filmes que destacam a importância de um professor na vida de seus alunos, seja no maternal, pré-, Educação Fundamental, Ensino Médio, Universidade. Temos visto professores adoecerem no Brasil pelo descaso da nossa sociedade com a seu nobre ofício: função, mal remunerada e tão vital. Para ser professor é preciso ter um certo amadurecimento e cultura, a exigir aperfeiçoamento e investimento social, psíquico, e espiritual, contínuos, nada favorecidos pela posição que o professor ocupa na escala socio-econômica do país. Peecisamos acordar para este triste fato, para que haja futuro desta sociedade crescentemente dividida, violenta e ignorante. Há necessidade de cuidar de nossos professores, zelar pelos seus e nossos ideais, e nos comprometer, enquanto zelo pela cultura e civilização brasileira, a remunerá-los à altura do seu proeminente ofício. Estamos enfrentando algo hediondo – ataques à Escola, matança de criança, violência crescente: quedamos assustados e não deveríamos nos surpreender, entretanto, com tanto descaso que houve com a Educação há décadas. Como nos proteger destes atentados à Vida? Podemos, devemos, e alcançaremos uma sociedade mais justa e amorosa, se cuidarmos de nossas crianças e de seus estudos…não só de conteúdos, mas de civilidade, de comunhão de gestos, amizades, de respeito e reverência a quem tem autoridade, não pela força, mas pelo cuidado com a Vida, nas diferentes esferas de nosso cotidiano.
LIVRO – Sítio do Picapau amarelo
(de Monteiro Lobato, nas suas milhares de edições).
O Sítio do Picapau Amarelo é uma série de 23 volumes de literatura fantástica, escrita pelo autor brasileiro Monteiro Lobato (entre 1920 e 1947). A obra tem atravessado gerações e geralmente representa a literatura infantil do Brasil. O conceito foi introduzido de um livro anterior de Lobato, A Menina do Narizinho Arrebitado (1920), a história sendo mais tarde republicada como o primeiro capítulo de Reinações de Narizinho (1931), que é o livro que serve de propulsor à série de Sítio do Picapau Amarelo. Lobato já havia publicado os volumes O Saci (1921), Fábulas (1922), As aventuras de Hans Staden (1927) e Peter Pan (1930).
Fico um tanto chocada, eu que me iniciei como leitora com a obra de Lobato, com a crítica e a ideia de refazer a sua obra, tentando expurgar o racismo ali retratado. É preciso lembrar que a escravidão dos negros no Brasil aconteceu em 1888, ou seja, pouco mais de 30 anos separa a obra de Lobato da libertação dos escravos. Hoje podemos falar de uma mentalidade colonial (ainda em vigor na nossa sociedade atual) para denunciar que os negros não foram integrados na sociedade como seres humanos. Foram torturados, mortos, considerados sub-humanos, pelos europeus que “descobriram” o Brasil. Também não houve consideração pelos povos indígenas que aqui habitavam há milênios, com uma cultura menosprezada e o genocídio dos índios aconteceu na mesma medida em que foram considerados sub-humanos, desconsiderados por décadas na constituição brasileira.
Menos do que uma geração entre a chamada libertação dos escravos e a escrita de Lobato, que trouxe para o cenário o que de fato perdurou na sociedade. Tia Nastácia, a negra cozinheira, que contava histórias muito interessantes para os netinhos de Dona Benta(Pedrinho e Narizinho), a proprietária do Sítio.
A Arte de Lobato retratou uma época e ela precisa estar aí para ser estudada, e considerada no que foi, para que se possa construir uma sociedade melhor e mais cultivada em valores éticos. É impensável que se faça um rigoroso estudo apagando a nossa história. Celebro a semana da Literatura Infantil com a minha gratidão por Lobato, que me fez leitora, eu, com menos de 10 anos, em época que não havia acesso à televisão.
O Sítio do Picapau Amarelo ocupou um espaço criativo na vida de crianças de muitas idades, na TV, anos 70, com a música de Gilberto Gil abrindo cada capítulo de história fantástica de aventuras das crianças e sua vovó e a cozinheira querida, e a boneca Emília, e o sabugo Visconde, e tantos outros personagens do Sítio. Misturando mitologias, brasileiras e africanas e gregas, com conteúdos programáticos das escolas, com artimanhas incríveis para despertar a imaginação dos pequeninos. Tarefa louvável, necessária, que, felizmente, nossos maiores escritores para a literatura infanto-juvenil, reconhecem: Lobato como precursor de uma nobre influência. Ligia Bojunga, Ana Maria Machado, só para citar duas autoras maravilhosas que ganharam o Nobel da Literatura Infanto-juvenil. Desde 1956, a organização não-governamental suíça International Board on Books for Young People (IBBY) concede o Hans Christian Andersen Award, um prêmio literário batizado em homenagem ao autor, e que é considerado o “Prêmio Nobel da literatura infanto-juvenil”.