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Ciscando Aventuras

FILME: Em busca da Terra do Nunca

(filme americano, 101 minutos, 2004, drama biográfico e fantasia, direção: Marc Foster.)

O filme conta a história de Sir James Matthew Barrie, autor do livro Peter Pan. Segundo o filme, James Barrie estava encontrando dificuldades em escrever peças de teatro, pois suas criações não eram bem recebidas pelo público. Enquanto buscava inspiração, James conheceu uma viúva, mãe de quatro crianças, as quais ele entretinha com brincadeiras e histórias. A partir desse relacionamento, surgiu a inspiração para a sua grande obra, Peter Pan, que conquistou facilmente plateias pelo mundo.

Venceu o Oscar 2005 apenas na categoria Trilha Sonora, mas foi indicado para muitas outras, inclusive Melhor Ator, Melhor Filme. Primeiramente com o título Peter and Wendy (Peter e Wendy, depois renomeado Peter Pan), obra máxima de J. M. Barrie, foi apresentada como peça em 1904 com o título Peter Pan, or the Boy Who Wouldn’t Grow Up (Peter Pan, ou O Menino Que Não Queria Crescer) e depois como romance em 1911.

A principal temática da história de Peter relaciona-se com o crescimento (ou não), querendo o personagem manter-se sempre criança, para assim evitar as responsabilidades da vida adulta. A Síndrome de Peter Pan tornou-se um termo psiquiátrico usado para descrever um adulto que receia os comprometimentos e/ou se recusa a agir conforme a sua idade.

O desejo de Peter em ter uma menina da sua idade que pudesse ser a sua mãe, os sentimentos conflituosos para com Wendy e Sininho (ambas representando diferentes arquétipos de mulheres) e o simbolismo da sua luta com Hook (Capitão Gancho) (tradicionalmente protagonizado pelo mesmo actor que representa o pai de Wendy).

 Peter Pan foi adaptado para teatro e cinema inúmeras vezes. Seguindo o exemplo da versão de palco original e também por razões práticas, Peter é na maioria das vezes, mas não sempre, representado por uma mulher adulta.

A Paramount Pictures editou a primeira versão em filme de Peter Pan em 1942. Era um Filme mudo protagonizado por Betty Bronson no papel de Peter e Ernst Torrence no papel de Capitão Gancho. Barrie escolheu Bronson para o papel e até escreveu novos textos, mas o realizador preferiu guiar-se pelo argumento da primeira peça.

No ano 2000, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos classificou-o como sendo de importância cultural e escolheu-o para ser preservado no National Film Registry.

Em 5 de Fevereiro de 1953, a Disney lançou uma versão animada de Peter Pan. O ator Bobby Driscoll, de 15 anos de idade, dava voz a Peter Pan.

Em 1991, foi lançado o filme Hook – A Volta do Capitão Gancho, contando com Steve Spielberg como diretor, que contava a história de Peter Pan crescido e casado com a filha de Wendy, Jane. Nessa versão temos Robin Williams como Peter Pan, Maggie Smith como Wendy, Julia Roberts como Sininho e Dustin Hoffman como Capitão Gancho.

POR QUE GOSTEI:  o ator Johnny Depp, como Barrie, o escritor que criou este livro infanto-juvenil, que atravessou século e meio, traduziu em ternura encarnada o que se supõe ter sido o processo de criação deste personagem Peter Pan, simultaneamente trágico, imortal, e inspirador de aventuras de todo dia.  Quem tem um Peter Pan dentro de si mesmo?  Uma Wendy? Uma Sininho, ciumenta e vingativa? Quem já não se sentiu um menino abandonado pelos pais?  Excluído?

Mesmo que não tenha sido exatamente esta a inspiração do autor de Pan, foi uma bela história inventada a calhar para pensar o sentido da criação desta figura que atravessa o século. Foi publicado pela primeira vez em 1904, ou seja, ano que vem comemora 120 anos!

Do ponto de vista psicanalítico traz uma dimensão poética forte _ este profundo vínculo que temos todos com a mãe e a difícil conquista de autonomia.  A eterna luta contra o tempo (o crocodilo que comeu a mão do Capitão Gancho e engoliu o relógio).   A tirania de Capitão Gancho, com quem Peter Pan duela um duelo sem fim.

No filme de Steven Spielberg, Peter Pan é um “pirata”, aquele tipo da Wall Street da época, que comprava empresas falidas para faturar em cima.  Como em “De volta para o futuro”, Spielberg trabalha com a ideia de que é preciso transformação daquilo que é “infantil” dentro de nós, para que nos tornemos “gente grande”.

Talvez vale a pena refletir o que as mídias em excesso têm provocado de estrago no conceito de crescimento mental, expansão maior da capacidade de acreditar que crescer demanda esforço, atenção e reverência ao que não consigo controlar e dominar, e desejo autêntico de se tornar alguém melhor.

LIVRO:  Reparação

(Atonement, Ian Mc Ewan, metaficção, 371 páginas, Companhia das Letras, 2002.)

 Ocorrendo em três períodos de tempo – na Inglaterra em 1935, na Inglaterra e França na Segunda Guerra Mundial e na Inglaterra da atualidade (1999), a obra parte de um engano “inocente” de uma garota da classe alta que irá arruinar vidas, desenvolve-se na idade adulta dela que decorre na sombra desse engano e desenvolve uma reflexão sobre a natureza da escrita.

Considerada como uma das melhores obras de McEwan, Reparação foi selecionado para o Prêmio Booker em ficção de 2001.[ Em 2010, a revista TIME colocou Atonement na sua lista dos 100 melhores romances em inglês desde 1923.

Em 2007, o livro foi a base do guião do filme com o mesmo título dirigido por Joe Wright e protagonizado por Saoirse Ronan, James McAvoy e Keira Knightley.  Filme  vencedor do BAFTA e do Oscar de melhor banda sonora daquele ano.

POR QUE GOSTEI: Este autor – Mc Ewan – me cativou desde este primeiro livro que li, pelo estilo e temática.  Todos os seus livros iniciam com um questão banal, de uma vivência cotidiana e que envolve desde logo uma grande, enorme, dimensão ética.  Vamos vendo a situação se desdobrar nas consequências de uma ação – aparentemente automática, “natural”, esta que todos nós estamos sujeitos a desempenhar… mas que trazem consequências trágicas, catastróficas.  É interessante como à beira de uma situação de enorme perigo para a alma ou para o corpo, temos algum tipo de intuição de que temos que fazer uma de-cisão, um sentimento que vem de experiências prévias.  Muitas vezes entramos no automático e …voilà… a coisa pode dar muito muito errado.

Se não conhece o autor, comece por este livro, e visite outros. Estamos precisados de sair de uma “naturalização” mortífera, de um automático que pode nos fazer despencar em um buraco negro.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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