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Circo Armado

O grande Zé Simão sempre anuncia o início dos períodos eleitorais com uma frase-síntese: “a turma da tarja preta está a solta”. Na velha Franca do Imperador, não é diferente, é o Brasil que é assim mesmo. Foi-se o tempo em que os vereadores eram apenas letrados, hoje alguns candidatos insistem em ser chamados de “doutor”, mas nunca fizeram doutorado. A proclamada “festa da democracia” atrai uma chusma de candidatos de todos os tipos, como mariposas à volta do lampião (o erário). O tal “espírito público” é raramente visto. O candidato a prefeito extremista e apoiador dos golpistas de 8 de janeiro começou a campanha preocupado com a ditadura na Venezuela e o “comunismo”, mas como a eleição não é para o Itamaraty, fiquei aguardando o que pretende fazer em relação aos buracos da Rua Venezuela e até agora, nada. A frase atribuída ao deputado Ulisses Guimarães expressa bem o que vemos: “se você acha a atual legislatura a pior de todos os tempos, é porque não conhece a próxima”.

Alguns aspectos são repeteco a cada eleição: existe sempre uma bancada religiosa, mistura que nunca deveria existir (religião com política), pois querer impor valores e crenças religiosas de grupos acima do Estado laico que deve abranger os direitos de todos os cidadãos, nunca presta. Vejam os exemplos do talibã no Afeganistão, da “polícia da moralidade” no Irã e a Santa Inquisição. Na Franca, temos esse ano pastores variados, católicos reaças, uma irmã, uma bispa e até um frei, que iniciou a campanha poluindo irregularmente várias avenidas com sua carranca chapeluda, dá para imaginar o que fará com algum poder nas mãos. Fará leis que só se aplicam aos outros, não a ele?

A escola de samba da educação e cultura desfila na passarela das urnas com muitos professores (quais seriam as matérias lecionadas?), um diretor (de bateria?) e um tamborim do coletivo da cultura, é um grupo oposto ao da bala, que manda pouca gente dessa vez: apenas dois sargentos e um capitão (o suficiente para fechar o congresso?). Em compensação, tem um que assina Josimar Xis (Nove?) e o Cowboy, que pode se juntar à bancada da bala.

O adendo da profissão ao nome é outro “must” dessa eleição: tem a bancada “menino transporteiro” com uber, motorista e taxista, além de um candidato da rotatória pra organizar o tráfego, mas ninguém do transporte público, o mais importante. Tem também radialista, corretora (seria de imóveis ou de câmbio?), engenheiro (civil ou mecânico?), cabeleireiro, mecânico (agora consertam a Câmara?), investigador (de polícia ou de maridos cornos?), bombeiro de libras (apaga o fogo das esterlinas no Brexit?), pintor, violeiro, carteiro, boiadeiro (pra organizar o “gado”) e até o guindaste munck, candidatura que, paradoxalmente, será difícil carregar.

Tem também as bancadas da saúde (enfermeiras e médico) e da doença, essa uma turma grande que se torna popular por distribuir remédios gratuitos da Farmácia Popular, candidatos por partidos que acabaram com a Farmácia Popular quando estavam no governo federal passado, vai entender a lógica política dessa gente. A alimentação saudável se faz presente com a “tropa da merenda”, tem Zé Verdura e Arroizinho, temperado com Cebola e Pimenta.

Outra galera procura ser identificada com o bairro onde mora: Fulano do Copacabana, do Aeroporto, do Ipanema, do Palma, do Flórida, do Paiolzinho, da Vila Tião, do Palmeiras, do Leporace e do “Liporaci” (o Vicente, se vivo fosse, colocaria o sujeito na mira do seu programa de rádio “O Trabuco”).

Os mais diferenciados são os que usam apelidos ou como são reconhecidos, como o Guinardera (será Agnaldo?), Caixa d´água (esse vai defender a SABESP privatizada quando faltar água?), da Sucata, Megafone, dos pneus, Butina, Bigode, Testa e até representantes da nobreza e da monarquia britânica: Rei do Relógio, Reizinho do Azulão e um da Casa de Windsor.

Tem aqueles que usam o serviço para serem identificados, como a Fulana do Milho, da sorveteria, do bar, do Proerd. Tem animal extinto (Mamute) e em risco (Sapão). Tem o “patriota” que apoia golpes de estado e a socialista Dalvinha do Povo ao lado do Opa Opa e dos defensores dos “direitos humanos” de cachorros e gatos.

Vem forte a bancada do esporte da bola laranja: tem o “Capital do Basquete” e ex-jogadores de basquete, um homônimo reacionário de um dos “Irmãos Metralha”, da Francana, o coletivo do esporte, até o Maradona (pensei que tinha morrido) e a Tia Zilda, viva como sempre.

Mas tem um nome que nunca falta em todas as eleições da velha Franca desde os anos 1960, mas esse ninguém precisa se preocupar, nunca ganhou: Fábio Meireles, hors concours em candidaturas.

Mauro Ferreira é arquiteto e urbanista

Mauro Ferreira

É arquiteto e urbanista.

5 Comentários

  1. Parabéns Mauro, resumo da MESMÍSSIMAS FIGURINHAS REPETIDAS DE SEMPRE, HAJA PACIÊNCIA, MAS SEMPRE TAMBÉM GASTANDO NOSSO DINHEIRO PÚBLICO.

  2. É isso Mauro, e a campanha mal começou…ainda veremos muitas “esquisitices”. Mas, tem coisa boa (?), depois de 4 anos com as ruas e praças abandonadas, o Prefeito (candidato à reeleição) começa a limpá-las e volta com a sinalização de chão…e já começa a preparar a proxima expoagro, afinal, a Av. Alonso & Alonso está com cara de Parque Fernando Costa…toda azulzinha.

  3. Caro Mauro descreveu fielmente a realidade… uma tragédia, que muitos acham comédia.

    Pedir um que NÃO ROUBA ou FURTA e FAZ!!! é muito?

    Um que ocupe a função por ideal, para representar a comunidade de fato!

  4. Excelente! Cirúrgico nos comentários! Crítico como a maioria deveria ser. Ignoremos integralistas fascistas reacionários extremamente egoístas. Franca chegará aos 200 anos, chega de ranço. Estejamos atentos, votemos em quem tenha visão de coletividade e de futuro!

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