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A troca de problemas na gestão dos Direitos Humanos

Quando demitiu com rapidez o ministro acusado de ter aplicado a “mão boba” em colegas de trabalho e colaboradoras, o presidente Lula parece não ter sido cauteloso o suficiente ao indicar a nova titular do estratégico e sensível Ministério dos Direitos Humanos. Em simbólica homenagem às mulheres – motivadoras da queda do ministro – foi buscar uma mulher negra com militância no seu partido e detentora de mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mas, pelo visto, não tomou o cuidado – ou não foi alertado por auxiliares com essa obrigação, dos problemas que a escolhida enfrenta relativamente a cargos exercidos anteriormente. A simpática e sorridente Macaé Maria Evaristo dos Santos (PT/MG), mestre em Educação pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Que já foi vereadora em Belo Horizonte por dois mandato e está no primeiro de deputada estadual, exerceu o cargo de secretária municipal da Educação de Belo Horizonte entre 2005 e 2012 e secretária estadual da mesma pasta de 2015 a 2018.
A hoje indicada ministra figura num processo onde é acusada de superfaturar R$ 6,5 milhões em uniformes escolares, nos tempos de secretária municipal e diz que sua defesa já contestou a denúncia. Foi processada pela mesma prática na gestão estadual, mas nesse caso assinou acordo com o Ministério Público para encerrar a ação.
Não nos cabe, aqui à distância e atuando em área diferente da exercida pela nova Ministra, fazer juízo de valores sobre seus problemas. Ela própria, nas declarações que não se furtou a fazer, diz já ter apresentado sua defesa em busca da solução das questões. O que intriga é o fato do presidente da República, supostamente não saber dos problemas enfrentados pela profissional que estava prestes a trazer para dentro do seu ministérios. O governo – não o do PT, mas os de todos os partidos – dispõe de pessoal capaz de levantar tudo o que ocorre ao redor dos indivíduos que o governante pretende convidar a formar na equipe e alertá-lo para os riscos e possíveis dores-de-cabeça. Parece que isso não ocorreu em relação à proposta nova titular do Ministério dos Direitos Humanos. Tanto que seus problemas estão estampados na mídia para quem deles quiser tomar conhecimento. Se soubesse, Lula certamente teria evitado mais esse desgaste num momento em que o ministério já se encontrava envolto num delicado problema.
Costuma-se dizer no meio político que desde a Roma Antiga, o governante precisa cuidar da lisura de sua equipe e, mais que isso, da imagem que cada um transmite à população. É por isso que se diz, há séculos, que “não basta a mulher do imperador ser honesta; ela tem, também, de parecer honesta”. No quadro atual, é bem possível que a própria indicada esteja hoje constrangida porque algo conhecido apenas no fórum e no meio político mineiro, agora é de domínio público nacional.
Mais do que Lula, aqueles que o cercam nas atividades palacianas e governamentais, têm o dever de a ele fornecer os informes que possam desviar sua administração de problemas. O mandato de um governante é fugaz – falta-lhe tempo para mitigar os grandes problemas administrativos e políticos – e, ter de cuidar de coisas como a que envolve Macaé Evariso é pura perda de tempo. Não sabemos qual a solução a ser adotada, mas o desgaste é inevitável. O governo precisa manter ativo e diligente o seu grupo de “compliance” para evitar que, por falta de informação, o presidente seja levado a, como se diz no interior, “pular em galho seco” se se machucar, ainda que politicamente.
Quanto ao ex-ministro Silvio de Almeida, espera-se que ele tenha todas as chances de defesa ou justificação e que as supostas vítimas de suas atitudes não enfrentem constrangimentos indevidos. A verdade, esteja onde estiver, é que deve presidir os acontecimentos. Nada mais…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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