Região

Receita mira condomínios de luxo por envio de dinheiro ilícito ao exterior

Complexo de luxo em Capitólio é objeto de investigação da Operação Fractal, que pretende desmantelar um bilionário esquema de remessas em dinheiro ao exterior

A Receita Federal, em parceria com a Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Civil de Minas Gerais, deu continuidade à Operação Fractal, em Capitólio, no Sudoeste de Minas, nesta segunda-feira (10/10). Foi cumprido um mandado de busca e apreensão em um complexo de condomínios. Até celulares foram encontrados em refrigeradores.

Deflagrada no dia 5 de outubro, a operação tem como objetivo desmantelar um bilionário esquema de remessas de dinheiro ilícito ao exterior, realizado em diversas etapas e por diversos operadores. Outros 52 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no estado de São Paulo, contra operadores suspeitos de atuar no esquema.

Em São Paulo, a operação resultou na apreensão de mercadorias com valor estimado em R$ 1 milhão, além de mais de R$ 100 mil em dinheiro. Estão sob bloqueio judicial, 44 caminhões. Também foram apreendidas máquinas de cartão, rolos de impressão e documentos. No esquema, o dinheiro passa por dezenas de empresas inidôneas, estruturadas em níveis que se assemelham a um fractal, até ser remetido para fora do país, por meio de operações com criptomoedas. 

Trata-se de empresas que possuem atividades diversas que vão desde serviços odontológicos, gravação de som e de edição de música, filmagem de festas e eventos, administração de obras, serviços de pré-impressão, comércio varejista de mercadorias em geral, manutenção e reparação de máquinas e equipamentos, intermediações comerciais e lavanderias.

A fraude consiste em um esquema de rede de empresas fantasmas cujo objetivo é ocultar ou dissimular a origem ilícita de valores que são creditados em suas contas bancárias, que posteriormente são repassados a terceiros, principalmente para empresas operadoras de câmbio e de criptomoedas. 

O esquema serve, principalmente, aos interesses do crime organizado, seja às facções criminosas, aos contrabandistas de produtos importados, ou a qualquer um que necessite remeter valores ilícitos ao exterior, como empresas sonegadoras de tributos.  Uma movimentação financeira de mais de R$ 4 bilhões, remetidos ao exterior entre 2021 e 2022, já foi identificada. Durante a investigação, houve compartilhamento das informações entre a Receita Federal e Polícia Civil de São Paulo, que também investigava o esquema. 

Entenda a operação

As investigações da Receita Federal tiveram início quando foi constatado que empresas “noteiras” transferiam dinheiro decorrente do lucro da sonegação para operadoras de turismo. Posteriormente, os valores passaram a ser remetidos para empresas de “importação e exportação”, as quais não possuíam qualquer existência material. 

O fato levou o foco das investigações das “noteiras” para essas empresas de “importação e exportação”. Foi constatado que essas empresas, que são inúmeras, sempre remetiam os valores recebidos para empresas “operadoras de criptoativos”. Estas, por sua vez, remetiam os valores recebidos para corretoras de câmbio, a fim de realizar operações com criptomoedas.   Um fato comum a essas empresas de “importação e exportação” é o recebimento de dinheiro de diversas fontes que estão espalhadas por todo território brasileiro, muitos desses depósitos feitos em espécie e de forma fracionada. Também foi identificado o recebimento, em valores maiores e feitos por transferências bancárias, de empresas que atuam no comércio de produtos populares importados, sejam eles roupas, produtos eletrônicos e diversos outros artigos que são comercializados em centros populares. Outro fato identificado, comum a diversas dessas empresas de “importação e exportação”, é o recebimento de elevadas quantias de “padarias” e “mercadinhos”. 

Fonte: EM

Luciene Garcia

É jornalista e criadora da personagem Lulu do Canavial.

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