Circula pelas redes sociais um vídeo com um pequeno discurso do Ariano Suassuna, em que diz: “sou muito contra as pessoas falarem mal dos outros pela frente. Eu acho que é uma falta de educação muito grande… não é? Constrange quem ouve e constrange quem fala. Não custa nada a gente esperar as pessoas darem as costas e …” a piada surpreende pela singeleza da construção, como tudo em Suassuna, um dos maiores gênios da literatura e da dramaturgia do Brasil. Oferece uma narrativa com a moral invertida e de muito bom gosto, porque faz uma crítica àquela falsa ideia de que falar mal dos outros pelas costas é feio, imoral, inadequado, como se falar mal dos outros pela frente tivesse algum mérito…
Mas, a introdução acima tem o objetivo de lembrar discursos e falas dos dois últimos presidentes eleitos do Brasil – o anterior e o atual – que além de ostentarem conteúdos falsos, constrangem e até viram piadas (de mau gosto, claro). Quem não se lembra da ironia grosseira que Bolsonaro fez ao se referir à jornalista Patrícia Campos Mello, quando ela o questionou sobre o uso inadequado das redes sociais pela sua campanha, e ele disse, de maneira dúbia, que ela queria dar “o furo de reportagem”? Ou do comentário deselegante, pra dizer o mínimo, que fez sobre a primeira-dama da França? Em ambos os casos, um modo surpreendente de demonstrar uma conduta que nunca se espera de um presidente. O mais triste é que tais falas agradaram a alguns apoiadores, que viram nelas uma demonstração de autenticidade, de franqueza…
Pois o presidente atual teve e continua tendo oportunidade de consertar os estragos causados ao Brasil pela (falta de) diplomacia do governo anterior, que levou o país à condição de pária internacional. Mas não. Lula parece fazer questão de concorrer com o presidente anterior em piadas de mau gosto e tolices. Piada de mau gosto quando disse, com ar professoral, diante do Parlamento Português, que em uma guerra não há um só culpado. O problema é que se referia à invasão da Ucrânia pela Rússia, com absoluto desrespeito ao território e à soberania do país invadido. Naturalmente foi vaiado – um espetáculo ridículo que teria evitado se não tivesse a mania de achar que o seu discurso inflamado, que arranca aplauso das plateias ideológicas que o cercam, engana a todos. Também ele havia feito esse discurso na China e passado ileso…
Um discurso tão falso e ridículo quanto aquele em que afirmou que os Estados Unidos e a União Europeia são responsáveis por prolongar a guerra quando apoiam a Ucrânia. Ou seja, se não interferissem, a Rússia já teria tomado a Ucrânia e a guerra acabado. Falso como aquele que Bolsonaro proferiu na Assembleia Geral da ONU, em 2021, dizendo que seu governo priorizava a preservação ambiental, e que oitenta por cento da floresta Amazônica estavam tão preservados quanto no tempo do descobrimento.
Sem falar que Lula recebeu o Ministro das Relações exteriores da Rússia com aquela conversa de que pretende negociar a paz entre o seu país e a Ucrânia. Considerando o que já dissera na China e em Portugal, Sergei Lavrov agradeceu, naturalmente…
Os presidentes do Brasil, o último e o atual, como Suassuna, têm o dom de contar histórias invertidas. Uma grande diferença há entre os três: Suassuna faz rir, com suas piadas geniais. Os presidentes, no mais das vezes nos constrangem com mentiras e piadas de mau gosto, além de posições ideológicas radicais, longe da postura desejável de estadistas.