Cidade Luz
Por Ligia Freitas
O aniversário da cidade de Franca se aproxima, dia 28 de novembro comemoramos a ausência do cedilha na letra “c”, quem nunca enviou uma mensagem no zap da turma ou da família, dizendo que estava na França. E o lado de lá respondeu: “achei que estava trabalhando”.
O corretor certa vez agiu corretamente comigo, eu realmente estava na cidade de Simone de Beauvoir, tentando falar Bonjour, Abajur, Mon amour, mas ninguém conseguia acreditar.
Quando estamos a jogar conversa fora, com pessoas de outro município, logo aparece Franca estampada em nossas vestes, tem gente que imagina meus filhos craques no basquete, nossos sapatos os mais confortáveis do mundo, a Luiza Helena Trajano caminhando pra todo lado, o sotaque mineirês dos nossos vizinhos das Gerais arrastado, se bem que o trem do pão de queijo já começa a ficar deferente nessa região, bota deferente nisso.
E tem mais.
Franca tem o sol, patrimônio imaterial, uma das áreas com maior incidência solar do estado, quando alguém fica chateado, tristinho, sem ninho, já sabe o que fazer, é só seguir o caminho do sol, lá fora e aqui dentro do peito dos francanos e francanas, eita povo de luz.
Já sei, que tal usarmos o nome “cidade Luz” da cidade de Paris para Franca? Veja, esse jeito de chamar Paris se deve ao iluminismo, à chegada da energia elétrica, da torre Eiffel, mas não ao sol, quer coisa mais importante que o sol, minha gente? Je méxcuse (Desculpem-me), senhores e senhoras parisienses, o termo “cidade Luz” combina muito, mas muito mais com Franca, sem cedilha, a morada do sol. Mestre dos Mestres Gilberto Gil venha cantar pra essa gente: “o melhor lugar do mundo é aqui, na cidade Luz”.
Mas tem mais.
Não se fala de Franca sem pensar nas mulheres francanas
nascidas ou não nestas bandas
Se falássemos de umas, outras iam faltar
Se falássemos de todas, não caberiam neste lugar
Se pudéssemos enxergar as mulheres invisíveis
Mulheres sem nome, de codinome beija-flor
Se pudéssemos falar daquelas que carregam a cidade nas costas, haja chuva, frio, encosta
E se fornecêssemos um guarda-chuva para armazenar suas agruras, água que arre.benta nos olhos, e não se pode guardar, e se fôssemos nos pontos de ônibus, carregar seus bebês no colo, cuidar de todas as crias delas, cidade toda se cria, menos elas. E se lembrássemos do caminho de Franca, e as chamássemos para andarmos juntos, lado a lado, em direção ao sol?
Ligia Freitas é escritora e registradora civil
(Instagram @euligiafreitas)
Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia... escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.