Anéis e vitrais
As mãos do escravo teceram um sonho.
A sua fé edificou a Capelinha.
Era a ação de graças pelo milagre de cura de sua filha que estava cega ou quase isso.
Ele, na liberdade, quebrou os grilhões da sede de vingança. Superou-se na graça. Sua menina viu a luz.
Talvez nunca tenha passado pela imaginação do alforriado Manoel Valim que a sua capelinha abrigaria mais que a Santíssima Trindade. Corria 1910.
Os Agostinianos Recoletos no Brasil decerto que desconhecia. O fato é que os tais aqui se aportaram e tombaram o singelo memorial de gratidão do negro fiel a Deus para o transformar numa tríade, a saber, a igreja matriz r sede da paroquia Nossa Senhora Aparecida, o Seminário Nossa Senhora Aparecida e o Instituto Agostiniano de Filosofia.
Todo o talento e sensibilidade do pintor e arquiteto Bonaventura Cariolato, italianamente francano, preservado nos elementos do neogótico de cada ponto da nova igreja que se levantaria, escaparam ao conhecimento de seu fundador que, por direito, foi ter com o Senhor em 1920.
Esse foi daqueles sonhos que não se sonha sozinho.
Aquela Ordem Agostiniana, tendo na linha de frente o Frei Gregório Gil, eterno na lembrança dos católicos e francanos que amam a história desta nossa cidade cuja população atinge perto de noventa por cento de cristãos, fizeram o básico, vez que compraram a propriedade da Valim e deram início ao processo de expansão.
As portas principal e laterais, nave, presbitério, sacrário, sacristia e outros lugares da Capelinha, que nos inunda os nossos olhares e espírito de fortes e indescritíveis emoções, foram deteriorados pelas pegadas do tempo.
O ano de 2018 introduziria uma nova era nesse complexo arquitetônico de cento e catorze anos. Viria uma pandemia de coronavírus para retardar um projeto inédito e extremamente caro de restauração e de calculadas mudanças.
Cupins infestaram pisos e bancos. Fizeram-se novos.
O conjunto de imagens e os majestosos vitrais, de um colorido maravilhoso, comportou artesanal restauro, com técnicas apuradas.
Fico nesses detalhes que saltam às vistas.
Mas, que sacada mais legal: o amplo estacionamento deu lugar ao jardim que foi montado bem na sua frente.
A Capelinha de Manoel Valim tomou status de ponto turístico e de visitação religiosa nesta terra de tantas morros e várzeas, a qual gosta de ser reconhecida como a das Três Colinas.
Todo noivo gostaria de se casar ali.
Bárbara e Dudu, que de bobos não têm nada, deram-se em matrimônio nesta basílica agostiniana. A celebração veio na escolha de repertório musical e leituras da Bíblia fora de moda.
A moda é o Gênesis (2:24), modelo de família:
“Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne.”
Nós estávamos lá.
Estaremos por aqui, orando por vocês, por seus familiares e por sua nova família, Bárbara e Dudu.
Théo Maia