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F1 inicia 2ª temporada na pandemia com desafios maiores que em 2020

Em julho do ano passado, a Fórmula 1 foi um dos primeiros campeonatos mundiais a retomar suas atividades em plena pandemia. A categoria conseguiu cumprir um calendário todo improvisado com 17 provas e teve relativamente poucos casos de Covid-19.

Mesmo com um grupo de mais de 2 mil profissionais viajando para 14 países diferentes naquela ocasião, a categoria teve apenas 78 resultados positivos entre os mais de 76.000 testes realizados. É de se imaginar que a segunda temporada afetada pelo coronavírus será menos desafiadora para o esporte, mas os times e o próprio comando da F1 têm motivos para acreditar que os obstáculos ainda serão muitos.

A grande lição aprendida em 2020 foi a necessidade de flexibilizar o calendário, algo que já foi usado novamente neste ano, com a adição dos GPs em Imola, a segunda etapa do ano, em abril, e Portugal, cuja prova será realizada em maio.
Ainda que essas provas sejam importantes para manter o campeonato em andamento, elas são feitas sob contratos especiais, que quase não geram renda para a F1 —o prejuízo em 2020 já foi de mais de R$ 2 bilhões para a detentora dos direitos comerciais da categoria.

Não é esperado, no entanto, que haja lucro ainda em 2021, muito pelo contrário. Isso tem a ver com essas corridas substitutas, e também com a dificuldade em contar com público, tanto nas arquibancadas, quanto nos espaços VIP, que geram uma renda muito importante para o campeonato.
Sem poder vender ingressos, os promotores das corridas também não podem arcar com as taxas milionárias que a F1 cobra por etapa, o que é, atualmente, sua maior fonte de renda.

Na primeira corrida do ano, no Bahrein, haverá torcedores, desde que estejam vacinados ou já tenham superado a Covid-19, mas apenas nas arquibancadas, e não nos setores VIP. O primeiro GP em que se espera casa cheia é o da Grã-Bretanha, em julho.

O governo britânico projeta vacinar toda a população adulta antes do final de julho e já anunciou que as restrições vão acabar no fim do mês anterior, o que faz com que não haja limites, pelo menos no entendimento dos organizadores em Silverstone, para o número de torcedores para o GP.
A Grã-Bretanha é o país europeu que mais sofreu com a pandemia, mas conseguiu diminuir seus números de forma muito significativa desde que entrou em lockdown, em janeiro.

As equipes também têm enfrentado seus desafios. Do lado prático, a fim de frear os gastos, foram criadas fichas de desenvolvimento, limitando o que poderia ser mudado ao longo da temporada. O chefe da Williams, Simon Roberts, ainda aponta outra dificuldade interessante: assegurar o mesmo fluxo de ideias quando as reuniões se tornaram tão impessoais. O time é um dos sete baseados na Inglaterra, onde o lockdown significa que todos têm de trabalhar de casa, a não ser aqueles que fabricam as peças e montam os carros.

“Nós temos testado todo mundo que vai trabalhar na fábrica, semanalmente, temos muitas restrições na maneira como estamos trabalhando na fábrica e há muita gente trabalhando de casa. Tomara que isso se evapore ao longo deste ano e voltemos ao normal”, revelou Roberts.
“Estamos percebendo que os sinais de desgaste estão aparecendo porque não temos mais aquelas conversas espontâneas, aquela troca de escritório. Claro que todo mundo está trabalhando nas plataformas online, mas é muito mais formal, e acaba sendo desgastante mentalmente de um jeito diferente. Todos estamos sentindo falta do contato social, embora trabalhar de forma mais isolada também ajude a melhorar o foco”, completou.

Há desafios também para o trânsito de profissionais. Algumas equipes, como a Alpine, dividida entre França e Inglaterra, a Toro Rosso, com equipe na Itália e Inglaterra, e principalmente a Haas, com chefia nos Estados Unidos, parte da operação na Itália e a fábrica em solo inglês, vão continuar tendo de conviver com períodos de quarentena entre os países.
Isso atinge até mesmo os pilotos: vivendo na Suíça, Mick Schumacher só pôde fazer seu assento na fábrica da Haas na Inglaterra depois de ficar uma semana em quarentena, sem poder sair sequer para fazer treinamento físico.

“Não foi fácil porque as viagens para a Inglaterra estão com muitas restrições, então foi difícil eu moldar meu assento. A gente tinha um plano, mas não deu certo porque as regras mudaram, e eu não podia, basicamente, jogar fora dez dias de treinamento para ficar um dia e meio na fábrica da equipe. Mas, no final, conseguimos. É muito importante fazer o assento direito, e acho que conseguimos”, comemorou Schumacher.

Poderia até ser mais complicado para ele: a Haas decidiu continuar com o mesmo chassi do ano passado, caso contrário, eles teriam dificuldades com sua fornecedora, que é italiana. O motor Ferrari também vem da Itália, então a decisão foi só montá-lo no carro nos testes coletivos, para evitar que profissionais dos dois países tivessem que ficar parados em um momento tão importante da temporada.

“Nós construímos o carro na Inglaterra, mas não dava para ligar o motor nele, porque para isso precisaríamos dos engenheiros da Ferrari, e eles teriam que fazer quarentena e não era possível. Tivemos sorte porque neste ano é um carro muito parecido com o do ano passado. Com um carro novo, seria impossível fazer isso”, reconheceu o chefe da Haas, Guenther Steiner.
Ele passou a maior parte dos últimos três meses nos Estados Unidos. “Não sei o que vai acontecer com a pandemia, ninguém tem essa resposta. Mas minha impressão é de que está tudo muito mais restrito para viajar de um lugar para o outro.”

Nesse sentido, a experiência de 2020, quando 13 etapas foram canceladas e a F1 conseguiu repor 8 delas, será importante para a categoria saber o que esperar ao longo da nova temporada, que está programada para ter 23 provas em 2021.

As equipes da Fórmula 1 já começaram a enviar seus mecânicos para o Bahrein, onde será realizado primeiro o teste coletivo de pré-temporada, entre sexta (12) e domingo (14), e depois a primeira etapa do ano, dia 28 também de março.

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