ANA BOTTALLO
Um protocolo simples e barato permitiu reduzir pela metade o tempo de atendimento para casos com suspeita de acidente vascular cerebral (AVC) no Hospital Geral do Grajaú, na zona sul de São Paulo.
Os pacientes que chegam em busca de atendimento no hospital conseguem ser atendidos em até 13 minutos e com o diagnóstico de AVC confirmado ou descartado em menos de 20 minutos. O tempo médio de atendimento em hospitais da rede pública é de 45 minutos.
A velocidade se refere a duas medidas temporais adotadas na prática médica: o tempo porta-médico (quanto tempo desde que o paciente entra no hospital até ser atendido pela primeira vez por um médico) e o tempo porta-neuroimagem (relacionado ao tempo até fazer o exame de imagem que pode comprovar o diagnóstico de AVC).
O protocolo foi desenvolvido com base em um modelo internacional, utilizando as métricas do Hospital Geral do Grajaú e que já são implementadas pelo Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, que é gestor do hospital.
De janeiro a julho de 2021, os tempos médios porta-médico e porta-neuroimagem no hospital eram de 17 minutos e 35 segundos e de 31 minutos e 31 segundos, respectivamente. Um ano depois, de julho de 2021 a janeiro de 2023, eles caíram para 5 minutos e 30 segundos e para 18 minutos e 59 segundos, respectivamente.
A melhora ocorre pelo uso de um equipamento muito simples: uma campainha. As equipes de atendimento no hospital, desde as que fazem parte da equipe médica, como paramédicos, médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, e da parte administrativa, como os atendentes e os seguranças, são orientados a identificar vários sinais de suspeita de AVC.
Os pacientes são priorizados e levados ao atendimento na sala do emergencista ou neurologista. Caso seja confirmada a suspeita de AVC pelos sinais demonstrados, o médico aciona uma campainha que vai tocar na sala de tomografia computadorizada.
Quando a campainha toca, o técnico de tomografia finaliza o atendimento em curso e imediatamente bloqueia a sala para aguardar a chegada do caso suspeito de AVC. Assim, o paciente é priorizado.
A implementação do protocolo em outros hospitais que atendem pelo SUS em São Paulo ou no resto do país é total, segundo a médica e superintendente do hospital, Andréa Matsushita. “Trata-se de um protocolo sem custo, o único gasto é o da campainha, e ele é fruto de uma série de ações que foram tomadas no Hospital do Grajaú em que os pacientes com sinais de quadro de AVC foram priorizados no atendimento”, explica.
“Não existe nenhum custo adicional para o SUS, o benefício observado nesse tempo depois da adoção do protocolo foi obtido apenas fazendo o treinamento para as equipes do hospital sobre como priorizar o paciente”, diz.
A redução do tempo de atendimento para suspeita de AVC é importante, pois, se for confirmado o diagnóstico, é preciso iniciar o tratamento o mais rápido possível para evitar sequelas ou até mesmo a morte.
Existem dois tipos principais de AVCs
O AVC hemorrágico ocorre quando há o rompimento de algum vaso cerebral. Mais perigoso, ele é também mais raro, representando 15% dos casos.
Já o AVC isquêmico é o mais comum (85%) dos casos e é ocasionado pela formação de um coágulo que obstrui o fluxo sanguíneo para o cérebro e, consequentemente, a chegada de oxigênio. Como o oxigênio é essencial para o funcionamento das células, se o AVC isquêmico não for tratado rapidamente, poderá deixar sequelas no órgão.
Quando identificado o AVC isquêmico pelo exame de imagem, o tratamento utilizado é uma medicação trombolítica, que vai dissolver o coágulo e retomar o fluxo normal de sangue na área. Quanto mais rápido for feito esse procedimento, menor o risco de morte ou de desenvolvimento de sequelas.
Desde o início da pandemia até agora, médicos têm observado um aumento de casos de AVC em pacientes mais jovens. Isso preocupa, pois o AVC pode ser uma doença altamente debilitante e que pode ter um risco elevado para desenvolvimento de outras doenças, como demência e Alzheimer.
As internações por AVC também constituem um problema grave de saúde pública, uma vez que podem levar ao excesso de hospitalizações desnecessárias. O AVC é a principal causa de internação considerada evitável no país, segundo estudo.
O Hospital Geral do Grajaú é gerido pela OSS (Organização Social de Saúde) Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, ligado ao hospital da rede privada de mesmo nome. O hospital referenciado atende principalmente os distritos de Grajaú, Cidade Dutra, Socorro, Marsilac e Parelheiros, com uma população estimada de 1 milhão de habitantes.