Na CCJ, Bia Kicis é criticada até por aliados do governo por tuíte incitando motim
Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, a principal da Câmara, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) foi criticada pela oposição e até por aliados do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na primeira sessão que comandou após tuíte em que incitou um motim e chamou de herói um soldado da Polícia Militar da Bahia que atirou em ponto turístico de Salvador.
Wesley Soares foi baleado no início da noite de domingo (28) após ter passado cerca de quatro horas dando tiros para o alto e gritando palavras de ordem no Farol da Barra, um dos principais pontos turísticos de Salvador. Ele morreu após ser atingido por tiros ao erguer um fuzil e disparar contra os colegas da PM que negociavam a sua rendição.
Kicis, que apagou o post em defendeu o soldado, disse que Soares morreu por ter se recusado “a prender trabalhadores.”
“Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia arou. Chega de cumprir ordem ilegal”, escreveu. Na manhã de segunda, ela justificou a decisão de apagar o post e afirmou ter sido informada de que o PM morto durante o surto havia atirado para o alto e foi baleado por colegas. A deputada também defendeu investigações.
Na CCJ, a deputada iniciou a sessão sem mencionar o episódio ou a primeira mensagem, interpretada por governadores e políticos por uma incitação a um motim de policiais. Primeira parlamentar a falar, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que a bolsonarista não tinha legitimidade para presidir a CCJ. “A razão é simples e objetiva. A parlamentar não defende a Constituição, não defende a justiça, não defende a cidadania. Os três pilares que fazem a existência dessa comissão são ofendidos permanentemente pela parlamentar.”
Ela lembrou que Bia Kicis é investigada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no inquérito das fake news e no que apura atos antidemocráticos. Assim como Bolsonaro, Bia Kicis também é crítica do isolamento social para evitar a propagação do novo coronavírus. “Bia Kicis não tem mais qualquer legitimidade para permanecer à frente desta comissão, também porque fere a ética”, afirmou Maria do Rosário.
A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) afirmou que a presidente da CCJ passou de todos os limites. “De todos os limites aceitáveis para presidir a principal comissão da Câmara dos Deputados”, afirmou. A parlamentar afirmou que, ao estimular um motim, Bia Kicis tentou capitalizar a insatisfação dos soldados que estão cansados com a falta de condição de trabalho, dos baixos salários, da estrutura autoritária e hierárquica que existem dentro das Polícias Militares. Enquanto era criticada, Bia Kicis constantemente ficava olhando para o celular.
Margarete Coelho (PP-PI), que faz parte de um partido do chamado centrão, criticou a conduta de Bia Kicis e lembrou que os deputados não falam em seu próprio nome, mas também no nome do prestígio e do decoro que são exigidos da Câmara. “Presidenta, me perdoe mas eu também não vou poder me omitir, mesmo que de uma forma mais sutil, tangenciar o tema do tuíte de vossa Excelência. Realmente não foi o tuíte de uma presidente da Comissão de Constituição e Justiça”, afirmou.
“Precisamos estar sempre sopesando até onde vai nossa vontade pessoal, as nossas determinações pessoais, a do nosso eleitor e a do nosso partido. Para que a gente não desmereça o nosso mandato e nem a Casa que nós representamos.” Coelho defendeu ainda que se busque um diálogo mais ao centro, sem promover abalos desnecessários na convivência na CCJ.
O deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR) lamentou o episódio em Salvador e disse ser grave a presidente da CCJ reverberar o caso nas redes sociais “sem nenhuma preocupação com o mandato.” Alguns parlamentares, como Gilson Marques (Novo-SC), lamentaram que a sessão da CCJ estivesse sendo usada para discutir o tuíte de Bia Kicis.
“É lamentável nós ficarmos discutindo o tuíte da nossa presidente, ainda que eu ache que ele foi infeliz. E de verdade que acho que a nossa presidente, se atendo aos fatos posteriores e se inteirando um pouco mais sobre a matéria, teve por bem ir lá e excluir”, disse. “O fato é que não podemos ter o Brasil governado pelo Twitter. E muito menos um tuíte pautar uma hora da reunião da CCJ.”
Líder do PSL na Câmara, Vitor Hugo (DF) defendeu Bia Kicis. “Eu tenho a certeza absoluta de que vossa Excelência tem as mesmas crenças que nós temos em relação à importância da hierarquia e disciplina dentro das instituições militares”, disse. “E que seu tuíte inicialmente simplesmente se solidarizava com uma família que perdeu um ente querido.”