O Maior Status Atual
A vida é um fenômeno raro no Universo, até hoje comprovado apenas na Terra. Numa definição mais ou menos livre poderíamos dizer que se constitui de um mecanismo biológico complexo, que confere autossuficiência provisória aos indivíduos e um sentido de perenidade às espécies, através da formação de novos indivíduos, que sofrem metabolismo, se adaptam ao meio ambiente, respondem a estímulos, crescem, evoluem e morrem.
Luís Felipe Pondé, filósofo brasileiro contemporâneo, ante a clássica pergunta: “o que é a vida?”, com que o jornalista Antônio Abujamra encerrava o programa Vox Populi da TV Cultura, em 2009, respondeu: “a vida é um acidente biológico…”
Na resposta, Pondé enfatizou o seu conhecido ceticismo, o que não tornou a resposta menos genial, considerando que a vida e sua origem continuam sendo os maiores mistérios da humanidade. Logo, abranger outros aspectos da vida em uma resposta era algo absolutamente impossível.
Apesar de nos autodenominarmos sapiens, por causa do grau de desenvolvimento da inteligência, (sabemos e sabemos que sabemos) grande parte o nosso comportamento ainda é pautado pelos instintos que conduzem os animais do planeta.
Como todos os seres vivos, nós, humanos, também tivemos de lutar muito desde a nossa origem para preservar a vida e, por consequência, a espécie, como atestam os registros pré-históricos. Nos primórdios da caminhada, as condições de subsistência eram bem mais difíceis do que as atuais. Hoje sabemos com algum grau de certeza que a fome, mais do que as doenças e as adversidades do clima ou os predadores, se constituía na maior ameaça à nossa sobrevivência.
Os historiadores nos dão a pista quando dizem que há mais ou menos dez mil anos (hoje está se firmando consenso que foi em torno de doze mil anos) quando se iniciou a agricultura, houve certa estabilização na população humana, que em seguida passou a crescer, condição que permanece até os dias atuais, com ligeiras oscilações decorrentes de catástrofes, pestes e guerras. Enfim, a fome se constituiu no maior flagelo da humanidade em toda a sua história. E a sombra desse poderoso inimigo ainda acompanha o homo sapiens até os dias de hoje, quando já ensaia deixar a Terra para povoar outros astros do Sistema Solar. Por que?
Uma das possíveis respostas poderia ser o fato de os meios de produção terem ficado nas mãos de poucos, desde que a sociedade humana se organizou em estados, nações e outras formas de segregação. E os poucos detentores das terras, dos meios de produção, do capital, enfim, sempre se preocupam com interesses próprios, em especial em acumular riquezas, nos governos liberais. Dessa forma preservam para si e os seus bens indispensáveis para a vida, ainda que além das suas necessidades.
Mas, mesmo quando os meios de produção estiveram nas mãos de estados socialistas, como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – 1917 e 1991 – não foi possível a produção de alimentos e bens suficientes para prover a necessidade de toda a sua população, porque os indivíduos queriam produzir para si e enfrentaram o estado numa luta que matou milhões de pessoas insubordinadas ao regime comunista. De modo que a fome não decorre da forma de estado ou do regime político ou econômico adotado.
É um pouco desalentador, mas a constatação a que se chega é: a fome ainda persiste porque os humanos, de modo geral, ainda regulam o seu comportamento pelos seus instintos de autopreservação individual, que caracterizam todos os animais, e não pelos valores morais que os distinguem como espécie superior, como solidariedade, racionalidade etc.
E o sapiens ainda inventou uma forma de autovalorização que norteia todos aqueles que detêm o poder e os meios de produção: ganhar dinheiro! Ainda que para ser queimado em futilidades, ganhar dinheiro hoje se constitui no maior status social que um indivíduo pode ter. Infelizmente essa invenção está acabando com a vida no planeta!