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De professora de Inglês a empresária de sucesso: a trajetória da dona da Know How Franca

Eliane Sanches Querino trabalha há 47 anos com o ensino de idiomas. Especialista no ensino de Inglês, tem o certificado de Proficiency in English da Cambridge University. Um talento como professora, o grande triunfo de Eliane viria como empresária. Em 1984, decidiu abrir sua própria escola de Inglês, a Know How de Franca. Mas engana-se quem pensa que seus primeiros passos no mundo do empreendedorismo foram um ato de pura aventura. Eliane diz ter tomado essa decisão depois de detida análise do mercado. “Minha carreira de empresária começou quando ainda dava aulas de Inglês em uma entidade conceituada de Franca, onde fui coordenadora por 8 anos. Naquela época, eu tinha ideias inovadoras sobre a ampliação do ensino da língua estrangeira, mas o formato de curso tradicional ainda imperava na maioria das instituições. Minhas ideias até foram ouvidas por superiores da rede e muito apreciadas, entretanto a direção local da empresa se recusava a investir em inovação. Analisando o mercado francano identifiquei uma oportunidade muito grande. Na ocasião, a exportação de calçados estava em alta e percebi que havia um nicho de mercado que não era atendido pelas escolas de Inglês da minha cidade: decidi trabalhar com Inglês técnico, que foi no início nosso grande diferencial. Para a realização do projeto me juntei a outros familiares e formamos uma sociedade”, conta ela.

Hoje, o endereço na Avenida Champagnat, 2080 abriga uma das escolas de idiomas mais relevantes de Franca e região. Mas a Know How, a marca que já formou milhares de alunos ao longo dessas décadas, teve um início modesto e muito planejado por Eliane. “Alugamos uma casa pequena no Centro da cidade e ali atendíamos uma clientela tradicional: crianças, adolescentes e adultos, mas nosso público-alvo eram os executivos que buscavam especialização em Inglês para negócios. Atraímos muitos clientes e com seis meses de atuação, tivemos que alugar uma casa bem maior. Com o passar do tempo, a gestão da empresa começou a causar alguns conflitos. Como Diretora de Estudos, eu não tinha acesso à administração financeira do negócio. Queria ampliar e inovar a escola, mas havia divergência quanto à estratégia de crescimento da empresa entre os sócios”, lembra Eliane.

Apesar do sucesso que a escola fazia, expressado em resultados de diversos alunos que ali passaram e posteriormente obtiveram êxito fora do país, Eliane não estava feliz com a sociedade. “Em visita a um congresso, conheci um novo modelo para a aprendizagem escolar e me interessei na aquisição do mesmo. Os números financeiros, no entanto, nunca estavam disponíveis para que eu pudesse avaliar a real situação da empresa e sua capacidade de compra. Me senti impotente diante do meu próprio negócio, e algo inexplicável aconteceu:  tive uma visão inesquecível! Vi a imagem de um prisioneiro em uma penitenciária com duas bolas de ferro presas às pernas, cercado por muros altos e cercas elétricas. Foi forte, mas muito real, pois refletia o meu estado de espírito em relação à minha empresa. Eu não tinha autonomia e não podia investir ou ser ouvida! Era prisioneira do meu próprio negócio!! Foi uma imagem muito impactante que até hoje conservo na memória. Ao retornar do congresso, decidi romper a sociedade. Não foi fácil, pois havia um bom relacionamento entre os sócios apesar das divergências e, além de tudo, eu não tinha capital suficiente para comprar a parte deles. No final, fizemos um acordo e com muito planejamento, economia, trabalho e determinação, saldei o valor devido em pouco tempo. Finalmente poderia organizar a minha empresa da maneira que sempre desejei, com comprometimento, ética e preocupação com a qualidade, que são os valores que aplico e com os quais conduzo meu negócio.”

Em 1995, Eliane se tornou proprietária exclusiva da Know How Franca. Um de seus primeiros desejos era que a marca tivesse um prédio próprio. Para isso, a empresária conta que a batalha não foi fácil e que em muitos momentos teve sua capacidade colocada em xeque pelas pessoas. “Busquei financiamento para construir um prédio próprio. Não consegui! Fui considerada ‘louca’ por certos diretores de bancos por tentar realizar esse empreendimento! Mas com alguns empréstimos bancários pessoais, o prédio foi sendo construído lentamente. Todo o seu design foi especialmente projetado para ser uma escola de idiomas. Ecologicamente correto, toda a infraestrutura foi pensada e planejada nos princípios da sustentabilidade. São três pisos, sendo que todo o prédio é acessível a cadeirantes, contando inclusive com elevador”, conta, orgulhosa.

Sobre a decisão de conduzir a Know How sozinha, Eliane não deixa dúvidas de que foi a decisão certa. “Na época que comprei a parte dos meus sócios, tínhamos algumas dezenas de alunos, atualmente temos centenas”.  

A filha seguindo os passos da mãe

Um processo natural que vem sendo construído de maneira muito bonita” diz Eliane Sanches Querino, que começa a passar o bastão para a filha, Leka

Apesar de ter aberto mão da sociedade para assumir a empresa sozinha, atualmente Eliane toma cada vez menos decisões de maneira individual e já prepara a passagem de bastão para sua filha, Leka Querino. Casada com Jose Aziz Cheohud há 45 anos, Eliane é mãe de duas filhas e conta que nunca teve a pretensão de que suas filhas seguissem seus passos. “Apesar tê-las como colaboradoras do negócio durante a juventude, sempre as deixei livres para escolherem seus caminhos”, disse.

A Know How surgiu quando Leka tinha apenas dois anos de idade. A hoje professora de Inglês cresceu vendo sua mãe liderando o grande projeto da escola. Mas foi na adolescência, durante um intercâmbio em Londres, que Leka, em uma aula de redação, escreveu que seu sonho era seguir os passos de sua mãe.

Eliane conta que aquilo lhe deixou extremamente impactada, por justamente nunca ter projetado aquilo em suas filhas, mas não esconde a imensa satisfação que aquelas palavras escritas lhe causaram. A filha trabalha na Know How desde os 14 anos de idade. “Ela tem um talento natural para dar aula e, além da parte administrativa, também atua como professora. Aqui na Know How prezamos por isso, todos os membros do setor administrativo cultivam suas raízes na sala de aula. Enxergo que isso seja muito importante para a engrenagem da empresa e faz com que não nos esqueçamos do objetivo principal da Know How, que vai bem além dos negócios”, diz a empresária.

Sobre o momento ideal para Leka assumir de vez a liderança da escola, a mãe declara que é um processo natural. “Trabalhamos isso há algum tempo. No ano passado íamos realizar a passagem da direção executiva, mas ela me engambelou”, conta Eliane, em tom bem-humorado. Apesar da mudança não ter acontecido em 2021, Leka está cada vez mais próxima do comando da escola. “A cada dia ela assume mais aspectos da gestão. Para mim é um prazer. A gente se dá muito bem e, até quando temos divergências, nossas ideias acabam se completando. Ela nasceu aqui dentro, carrega essa escola em seu DNA. Demonstra muito carinho e apresso por cada aluno, cada professor. Acho bonito o projeto sucessório que estamos realizando e a maneira que tudo está sendo conduzido. A tendência é que cada vez mais ela tome a frente, até o momento em que ela assumirá meu lugar em definitivo”, diz Eliane.

Know How em tempos pandêmicos

Inovadora desde sempre, Eliane superou muitos obstáculos ao longo de sua trajetória e seu espírito corajoso e visionário está sempre presente nesse período tão complicado que tem sido a pandemia. “Na pandemia a gente saiu muito na frente. Logo quando estourou a pandemia na China, amigas do núcleo de Hong Kong do Mulheres do Brasil nos alertaram a respeito”, conta ela, se referindo ao Grupo Mulheres do Brasil do qual, ao lado de Luiza Helena Trajano e mais 40 mulheres, é uma das fundadoras, além de ser a líder do núcleo de Franca, que conta com 450 mulheres.

“O tom que as mulheres do Japão me passavam era de que a pandemia não seria algo tão breve como no Brasil se imaginava, e de fato não foi. Então, logo tratamos de transferir as aulas para o modelo remoto e alinhamos toda nossa engrenagem para esse formato. Dia 20 de março já estávamos com as aulas todas transferidas para o online. Fomos muito rápidos”, conta Eliane, sobre a adaptação da Know How aos tempos pandêmicos.

Quando questionada sobre a crise financeira enfrentada no País, Eliane revela que soube lidar com essa realidade e que a Know How conduziu bem isso junto aos pais de alunos. “Muita gente perdeu o emprego, então houve registros de atrasos de mensalidades. Da nossa parte, soubemos lidar com isso. Entendemos que o momento era e é único na história do mundo e demos um alívio para que essas pendências fossem ajustadas e até os preços foram ajustados/reduzidos em muitas situações”.

No quesito rendimento no aprendizado dos alunos, Eliane traz dados irrefutáveis que provam o sucesso da Know How no formato online. “Conseguimos manter durante esse período 100% dos nossos alunos aprovados no exame de Cambridge, o que tem um peso e uma satisfação muito grandes. Mostra que mantivemos o nível de ensino. Uma coisa é os alunos receberem aprovação em um exame interno, o que pode dar margem para dizerem que adaptamos o teste para o momento pandêmico, mas no exame de Cambridge isso não existe”, finaliza a empresária.

Galeria da Eliane

Eliane e seu marido, Jose Aziz Cheohud: 45 anos de casamento, parceiros de uma vida
Eliane reunida com a família

Parte da família reunida durante o Natal de 2021

Eliane reuniu as líderes dos comitês do Grupo Mulheres do Brasil, em sua casa, para celebrara o Natal 2021. Primeiro encontro presencial do grupo depois de muitas reuniões online

Eliane com algumas Mulheres do Brasil, comemorando a mais recente conquista do Grupo: uma vaga no Comitê Municipal de Saúde. “Vamos apoiar políticas públicas que realmente reflitam o interesse da população francana”

Vitor Hugo Ferreira

É estudante de jornalismo.

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