Implacáveis
Há um traço muito comum na vida em sociedade de todos os tempos, hoje potencializado pela facilidade de disseminação de opiniões, via internet: a implacabilidade, o julgamento social sumário, a execração.
O implacável diz da inflexibilidade. Do fim de papo, do corte abrupto, essa espécie de saída triunfal para que este, o implacável, ostente consigo a razão.
Cultura do cancelamento
Xinga-cancela-bloqueia, porque não quer mesmo saber de retorno, isto é, de como reagem à sua ação, muitas vezes insidiosa. É mestre na retirada, em deixar o outro sob suspensão e culpa no não-dito. Juiz sem toga.
Autoritarismo
Ele, esse implacável, não oferece ao seu alvo chance de defesa, inclusive, porque justifica seu ataque ao se crer vítima de alguma circunstância.
O implacável é – sob capa de bondade e algum auto alardeado altruísmo -, no fundo, um autoritário em inversão lógica: sua espada é a sua lei sem tribunal; aliás, é ele o tribunal e pronto acabou, não há terceira via.
Atrás das telas
Inquisidores da Idade Média eram implacáveis, ateavam fogo no que se lhes materializava como heresia e divergência, sem qualquer possibilidade de argumentação da outra parte. Hoje uma horda de implacáveis se coloca confortavelmente em ataque, sob anonimato, por detrás das telas de notebooks e smartphones. São haters, são metrificadores da conduta alheia, julgadores sociais.
Por fim
O implacável opera no imaginário, no simbólico e, sobre o real, vai violentamente o seu martelo, feito machado; não importa o lado, o implacável é reacionário até mesmo com roupagem de libertário, porque não há mundo possível fora do seu traçado.
Você é implacável?