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O Fantasma da Ópera em São Paulo

Adaptação para os quadrinhos tinge o clássico da literatura com as cores brasileiras

Adaptações de obras literárias não são novidade para as histórias em quadrinhos. Aqui no Brasil, já em 1937, o suplemento O Globo Juvenil publicava em capítulos a adaptação de obras como Os Primeiros Homens na Lua, de H.G. Wells, e As Minas de Prata, de José de Alencar.

Em 1948, a Editora Ebal lançou a série Edição Maravilhosa, com clássicos universais como Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo, Ivanhoé e outros. Dois anos depois, rendeu-se à literatura brasileira na edição 24 e publicou O Guarani, também de José de Alencar, adaptada por André Leblanc.

Desde então, são incontáveis os exemplos de quadrinhos adaptados ou inspirados pelas páginas dos livros, daqui e de fora. Um bom e recente exemplo é O Fantasma da Ópera em São Paulo (Zapata Edições, 2023), com roteiro de Larissa Palmieri e arte de Al Stefano.

Adaptação inspirada

As HQs que falham em transpor as páginas dos livros para a arte sequencial são justamente aquelas que se agarram a uma pretensa “fidelidade”. Com receio de subverter o texto original, os autores de tais obras esquecem-se de que mídias diferentes demandam linguagens diferentes.

A boa adaptação, ao contrário, é aquela que, como o termo sugere, adapta, e não simplesmente copia. Por este critério, O Fantasma da Ópera em São Paulo é um dos melhores trabalhos já feitos neste sentido.

Para quem não está habituado com o romance de Gaston Leroux, o resumo da trama original de O Fantasma da Ópera é o seguinte: a desconhecida soprano Christine Daaé é chamada às pressas para substituir a principal estrela da ópera, que caiu doente. Sua performance encanta a todos, em especial o visconde Raoul, que reconhece a jovem como uma antiga amiga de infância e por quem se apaixona.

Mais tarde, Christine revela a Raoul que seu talento foi aperfeiçoado ao longo dos anos pelo “anjo da música” – na verdade, é Erik, um homem deformado que habita os subterrâneos do teatro e nutre paixão por Christine. Ele passa a impor condições aos donos do teatro para que ela seja a nova estrela da ópera e, ao não ser atendido, provoca acidentes e mortes.

Quando fica sabendo dos planos de fuga de Raoul e Christine, Erik sequestra a jovem e a obriga a casar-se com ele em troca de poupar a vida de pretendente. A jovem cede e beija seu rosto deformado; ele, que nunca conhecera o amor, revela o lado bom de sua alma e deixa Christine partir na companhia de Raoul.

Cores brasileiras

Com pequenos desvios, O Fantasma da Ópera em São Paulo segue de perto a trama original. Um dos maiores méritos, no entanto, é que ao transportar o drama gótico do século 19 para a Semana da Arte Moderna de 1922, Larissa e Stefano tingem a história francesa com as cores brasileiras.

Sai Paris, entra São Paulo; o Palais Garnier cede lugar ao Teatro Municipal; a sueca Christine Daaé vira a negra Cristina; o visconde Raoul, vira Raul, filho de fazendeiro; e Erik, o deformado “fantasma” que assombra o teatro… esse ficou Erik mesmo.

A transposição serve de deixa para “participações especiais” de expoentes da Semana de Arte Moderna: Mario de Andrade, Menotti Del Picchia, Villa-Lobos e outros, bem como para lembrar o embate que se deu naquela época entre a cultura clássica e a revolução/desconstrução proposta pelos modernistas.

Outro mérito de O Fantasma da Ópera em São Paulo, talvez o maior deles, é não se intimidar em fazer alterações pontuais na trama que, sem abrir mão da essência original, atendem às demandas contemporâneas.

É o caso do epílogo: enquanto Christine Daaé aceita fugir com Raoul, Cristina se recusa a trocar sua carreira pelo papel de esposa. “Não serei o final feliz de sua aventura, e sim dona dos meus sonhos”, diz a jovem, que faria sucesso nos anos seguintes primeiro no Rio de Janeiro e, depois, em Paris. Mais atual, impossível.

SERVIÇO

O FANTASMA DA ÓPERA EM SÃO PAULO

Roteiro: Larissa Palmieri

Arte: Al Stefano

Edição: Daniel Esteves

Formato: 96 páginas em preto e branco

Preço: R$ 44,90

À venda em www.zapataedicoes.com.br

RAPIDINHAS…

  • A Marvel Brasil inaugurou no dia 4 de outubro a primeira Marvel Store da América Latina, na cidade de Campinas. A loja possui 400 m² e 21 seções com itens colecionáveis, vestuário, edições de livros e outros itens.
  • Neste mês, a Disney celebra a campanha “Brincar e Doar”, em comemoração ao Dia das Crianças. Além de incentivar famílias a passar mais tempo juntos, o objetivo é contribuir com doações para o Instituto Gerando Falcões com base nas horas brincadas durante o período da campanha.
  • A plataforma de e-books Skeelo e a editora Aleph colocaram no ar em setembro o “Clube Aleph”. Há planos anual, semestral, trimestral e mensal, e a assinatura pode ser feita pelo aplicativo da Skeelo.
  • Para celebrar os 60 anos da Mônica, a Editora Panini e a Mauricio de Sousa Produções lançaram uma coleção de cards colecionáveis. São seis modelos, cada um representando uma década da trajetória de sucesso da personagem.

Jota Silvestre

É apaixonado por cultura pop, é jornalista especializado em cinema, séries, animação e histórias em quadrinhos, com mais de 15 anos de experiência em publicações especializadas.

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