Negros ainda ganham menos que brancos?
De acordo com o IBGE, 56% da população brasileira é composta por pessoas negras, grupo que considera pretos e pardos. Ocorre que mesmo sendo um número tão expressivo, e que já se passaram 134 anos desde o fim da escravidão, ainda nos deparamos um comportamento social repleto de preconceito e discriminação.
O que acontece é fruto do racismo estrutural, segregação em virtude da cor, que considera um determinado grupo inferior, marcando uma hostilidade que atravessa gerações e está presente nas relações sociais, econômicas e políticas.
O número de negros que ocupa posições de liderança ainda é baixo, e no geral, recebem uma remuneração bem menor que a recebida por pessoas brancas, mesmo quando desempenham as mesmas funções e possuem igual nível de escolaridade.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada em agosto de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com informações referentes ao segundo trimestre do ano, indicou que a hora de trabalho do brasileiro vale R$ 15,23.
Os valores médios sofrem variação por conta da cor, vejamos: brancos ganham R$ 19,22; pretos, R$ 11,49; e pardos, R$ 11,84. Nesse contexto, pretos e pardos precisam trabalhar mais horas para conseguir ganhar, no fim do mês, o mesmo valor que brancos. Considerando o rendimento médio por hora, para chegar ao valor de R$ 1.212, equivalente ao salário mínimo, o trabalhador branco precisaria trabalhar 63 horas enquanto o preto levaria quase 105,5 horas.
A Catho em sua 63ª edição da Pesquisa Salarial, realizada em 2021 identificou que os profissionais negros recebem 34,15% a menos que os trabalhadores brancos, em todos os níveis hierárquicos e de escolaridade. De acordo com o levantamento, a diferença de renda se dá em todos os cargos. Atuando como diretores, esses profissionais ganham 29,5% a menos e a desigualdade segue em todos outros níveis: como Coordenador (-10,6%), Especialista graduado (-12,5%), Analista (-8,3%), Especialista técnico (-9,4%), Assistente (-3,2%) e Operacional (-2,8%).
O IPEA identificou ainda que um dos fatores que influencia diretamente a diferença salarial é a educação. O órgão constatou que 65,1% dos cargos de nível superior eram ocupados por pessoas brancas. Já pretos e pardos preenchiam apenas 27,3% dessas vagas. O dado comprova a importância da política de cotas, por ser uma discriminação positiva que visa a reparação de danos históricos, e permite que público beneficiário alcance novas perspectivas.
Observando os números que marcam de forma cruel a desigualdade e preconceito em razão da cor, vemos o quanto precisamos progredir, pois mesmo com uma série de leis que visam promover a igualdade e combater a discriminação, as medidas não se mostraram efetivas como deveriam. Temos como exemplo a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, instituída por meio do Decreto nº 4.886/2003, que está prestes a completar 20 (vinte) anos de vigência e até agora não alcançou o seu objetivo.
É importante reconhecer que houve progresso no combate ao racismo em suas variadas formas, porém vários desafios ainda precisam ser vencidos, novos meios de promover a inclusão precisam ser estudados e colocados em prática, já que ao longo do tempo a questão tem sido mais vista e infelizmente os avanços têm sido muito lentos.
Parabéns pelo texto , Dra Cris…. Esclarecedor e de fácil leitura. Vc escreve muito bem. Sucesso pra vc. Abraços