Cadê o ar?

– Tá ruim, senhora.
O monólogo dos desequilibrados emocionalmente não aceita compartilhar outras vozes.
Estão estressados os seus locutores.
Não há espaço para o diálogo.
Nas situações corriqueiras, em casa e onde transitamos, é que temos de aturar e sermos aturados em casos como esse do filminho[i], que promete acelerar o seu coraçãozinho que estava preparado para desabafar: sextou!
É normal uma passageira dessas? Perguntamos.
A resposta está na base da língua, já descendo para os trilhos que separam o bronze das bolsas de ar. É normal; também nos descontrolamos. Que feio!
Bonito não é, mas é humano.
O termo estresse se aplica a qualquer estímulo ou mudança no meio externo ou interno gerador de tensão, que ameaça a integridade sociopsicossomática da pessoa, em suas propriedades físico-químicas, biológicas ou psicossociais. O estresse pode ser causado por algo que requer uma adaptação ou mudança no nosso meio habitual. O corpo reage a estas mudanças com respostas físicas, mentais e emocionais, explica a especialista em saúde mental e atenção psicossocial Larissa Albuquerque de Souza.
Ajuda
‘Alguém aí me ajuda’ poderia remeter a um certo enrolador da política nacional, em seus apelos de conotações teatrais, para salvar a própria pele e mandar a conta para o aumento de impostos.
No preto e branco, sem a tecnologia dos incrementados estúdios, a comunicação é de vital utilidade para sermos tratados e recuperados, a fim de seguir a jornada nos busões lotados de sofredores semelhantes a nós; porém, calados, reservados em seus sinais de esgotamento, em resiliência de arrepiar cabelos de psicoterapeutas, quando os chacoalhões do coletivo dão de os tirar do banco e agarrar corrimões metalicamente ignorantes.
O que mais espera que digamos da senhora estúpida, agressiva, que grita por socorro e não ouvimos, esgoelando-se em murros no teto do ônibus que, se for danificado, será consertado com o dinheiro que sairá do reajuste da próxima tarifa?
– Toca para o ambulatório de saúde mental, motorista!
Com a calma e fragilidade com que ele conduz o seu ofício, conhecendo os ossos dele, apostamos que tocaria.
É que o humilhado operário do volante tem linha e horários para obedecer. Não o fazendo, farão com que faça dupla com a passageira que, de tão cega de desprazer de viver, não sabia que a sua parada seria antecipada. Os demais colegas de trajeto o determinaram.
Dê o sinal
Nos nossos tempos, puxávamos a cordinha que ficava no alto, acima dos bancos. Disparava uma campainha. A condução parava. Descíamos. No sobe e desce, diminuíam e aumentavam as companhias.
Na gravidade de comportamento social visto na reação daquela senhora, por causa do ar condicionado, que talvez não disponha em seu lar, importa, e muito, gotejar o refrescante conselho para que procure um profissional para que dela e de nós possa cuidar.
Tem sofrido por tudo e todos? O dia de amanhã lhe atormenta tanto hoje? O dia de ontem lhe consome desde então e estraga o presente? Sua cabecinha é uma fábrica e distribuidora de pensamentos e de falas ruins, negativas para mais de metro? É duro com você mesmo, porque pau é pau e pedra é pedra e não tem conversa? Somente a sua palavra é a certa? Amanhece e janta seguindo esquemas que quem os inventou não segue?
– Você está porraquiiii!
Tendo que descer do ônibus, aproveite e procure por especialista que pode orientar e dar a ajuda de que tanto precisa, para lidar com problemas de ajustamento, conflitos, traumas e transtornos, que todos temos, em maior ou menor grau.
Estando melhor, volte para o ponto em que foi descido para o seu bem. E de todos. – Motorista, pau na máquina!
[i] @canal_patriota







