Boca aberta

Valtenir Machado, uma vítima provocativa.
Quanto desrespeito à honra e a dignidade se ouve nesse áudio, com imagens que as reforçam.
Comportamento lamentável, desonroso sob todos os seus aspectos.
– Boca aberta!
Indo ao pai dos burros, em sua versão informal[i], chegamos ao sentido desta expressão que se presta a deslustrar, inferiorizar e a humilhar o outro, pinçamos estas definições:
– “Pessoa retardada, pessoa que evita o prazer de se aproveitar de conhecimentos, um otário, um mané.”
– “Fala muito, fofoqueiro, mesquinho, fala pelos cantos, ou pelos cotovelos, ou seja, fala muito sem verdadeira sapiência.”
– “Otário, zé mané, boco moco.”
– “Pessoa que fuma maconha.”
Outros termos de baixo calão não merecem ser mencionados. A vulgaridade, por si, é desprezível.
O passado condena
O homicídio de Valtenir Machado, de 53 anos, ocorrido no último sábado, dia 1º de outubro, na comunidade de Linha Moroé, município de Iraceminha, na região oeste de Santa Catarina, no Sul do Brasil, teve novos desdobramentos após a confissão do autor dos disparos, que é um homem de 67 anos, que se apresentou à Polícia Civil ontem, acompanhado de seu advogado[ii].
Segundo as investigações, o crime começou com uma discussão banal, registrada por câmeras de segurança.
Houve discussão com o vizinho por causa do local onde estacionou a caminhonete.
Após trocas de ofensas e agressões, o atirador entrou em casa, enquanto a vítima continuou provocando do lado de fora. Minutos depois, Valtenir retornou e desafiou o morador com a frase: “Atira se tu é homem”, dentre outros insultos que se pode ouvir, com razoável clareza.
O suspeito e assassino confesso, então, saiu armado e disparou duas vezes, atingindo o peito da vítima.
É chocante ver que Valtenir, mesmo baleado, conseguiu se locomover e ir até a sua esposa, e indicar a ela, quem lhe atingiu antes de perder a consciência. Ele foi socorrido pelos Bombeiros e levado ao Hospital São José de Maravilha, mas não resistiu.
O suspeito fugiu após o crime e se entregou dois dias depois, confessando o homicídio e alegando que agiu por se sentir ameaçado. A arma usada foi apreendida, e uma segunda arma registrada, além de materiais de recarga, foi encontrada em sua residência.
O que era ruim, piorou.
De acordo com a Polícia Militar, o homem de 67 anos já tinha passagens por ameaça, injúria e difamação. Não leva desaforo para casa.
A vítima assassinada, acredite, carregava extenso histórico criminal, incluindo homicídio, tentativa de homicídio e violência doméstica.
Legítima defesa
Para não variar, os defensores do agente criminoso dão pistas de que vão se apegar à excludente de ilicitude de legítima defesa.
Será que cola?
No Código Penal está assentado:
‘Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem’. (art. 25).
Os atores do que tinha de horrível em suas relações de vizinhança e de implicâncias fúteis, agora pelo lado do que puxou o gatilho mais de uma vez, terá este que fazer tripas coração, para que o invocado dispositivo legal lhe favoreça, alertando-se que na análise e aplicação do art. 25 do Código Penal, é indispensável a demonstração da presença dos seguintes requisitos de caráter cumulativo: (1) agressão injusta; (2) atual ou iminente; (3) direito próprio ou alheio; (4) reação com os meios necessários; e (5) uso moderado dos meios necessários.
A capivara é fétida. Sendo territorialista, parte pro confronto agressivamente.
Coincidências. O espírito gregário foi sacrificado.
[i] https://www.dicionarioinformal.com.br/boca+aberta/
[ii] @portalp97news







