A direita a quem de direito

Na política brasileira, volume virou argumento.
“Somos milhões!” – grita-se, como se multidão fosse sinônimo de razão, e não só de barulho. Mas ontem, 26 de junho de 2025, um acontecimento desmente de forma retumbante essa lógica: o Partido Missão, criado pelo Movimento Brasil Livre, atingiu a impressionante marca de 547.043 assinaturas validadas pelo TSE, tornando-se a legenda mais bem-sucedida da história em processo de criação. O feito, além de simbólico, é um tapa na cara da velha direita inflada, desorganizada e dependente do clamor populista. Se o bolsonarismo sempre apostou no grito da maioria, o Missão mostra que, no fim das contas, é a minoria disciplinada que escreve a história.
A tese aqui é simples, mas profunda: quantidade nunca foi qualidade.
Os exemplos vêm desde antes de existir Brasil. Encontram-se na formação do que hoje chamamos de Ocidente. Quando os persas invadiram a Grécia, com centenas de milhares de soldados, esperavam apenas um gesto de rendição. A resposta veio em forma de resistência espartana. Séculos depois, Pelágio nas montanhas das Astúrias iniciou a reconquista da Península Ibérica com um punhado de cristãos determinados. O fator comum entre essas viradas históricas? Organização. Clareza de propósito. Coragem para lutar mesmo em desvantagem numérica.
Agora, traduzindo para o cenário político nacional: o bolsonarismo teve tudo. Popularidade avassaladora, milhões em arrecadação via pix (foram R$ 17 milhões só em 2023), engajamento digital descomunal. Mas quando tentou criar um partido próprio, o fracasso foi constrangedor: 183 mil assinaturas coletadas e a iniciativa enterrada em 2022. A Aliança pelo Brasil foi a encarnação perfeita da política do grito sem plano.
O MBL seguiu outro caminho. Pequeno? Sem dúvida. Rico? Nem de longe. Mas obstinado. Coerente. Estrategicamente focado. Sob as regras mais duras já vistas para a criação de um partido – fichas espalhadas por ao menos nove estados, com percentuais mínimos por estado e limite de dois anos para concluir a coleta –, o MBL transformou o impossível em feito histórico. Não só validou mais fichas que qualquer outro na história, como já bateu o mínimo para diretórios em 14 estados. Isso é organização. Isso é missão cumprida.
Enquanto isso, a direita mainstream, que se tornou refém de mitos e slogans, segue sem projeto real. Vive de apontar culpados, flertar com o Centrão e berrar contra o “sistema”, mesmo quando está até o pescoço mergulhada nele. Nicolas Ferreiras da vida posam de rebeldes enquanto batem continência para Valdemar da Costa Neto – o símbolo vivo do fisiologismo. O discurso anti-corrupção se dissolve quando a prática exige a bênção do esquema.
O Missão nasce como exceção. Um partido que não foi comprado, nem herdado. Foi construído do zero. E isso dá ao movimento uma liberdade que os satélites do bolsonarismo jamais terão: podem lançar seus próprios candidatos, formular suas próprias chapas e, sobretudo, evitar ajoelhar diante da velha política.
Em um país onde tanto se fala em “gigantes acordados”, talvez esteja na hora de observar quem realmente está de pé. O Missão mostra que não é preciso ser uma legião para fazer história — basta ser uma vanguarda bem preparada. A direita brasileira está mudando de dono. E quem acha que ainda pode governá-la com memes e motociatas está, ironicamente, dormindo no volante.
O barulho das multidões engana, mas os livros de história não mentem: são as minorias organizadas que vencem. O fato é que hoje, com 547 mil assinaturas, o MBL deu sua primeira grande vitória como partido. Quem acha que isso é pouco, talvez precise estudar um pouco mais de estratégia… e de história. Isso é MISSÃO!







