Inspirados

A sociedade da ética, da moral e dos bons costumes

Cá estamos nós, frutos da geração Y perdidos nessa sociedade demagoga e hipócrita, e o que mais tem se lido nas redes sociais é: “mal posso esperar pela volta da ética, da moral e dos bons costumes de antigamente”.

Então me pergunto: por acaso isso já existiu algum dia? Alguém sabe realmente o que é ética? Alguém tem a expertise certa para definir o que é moral e bons costumes? Afinal, como teria sido a tão famigerada sociedade da moral, da ética e dos bons costumes da sociedade de outrora?

A sociedade de dantes, raptou pessoas de seus países de origem e as escravizou, forçando-as a fazerem coisas que nem ouso mencionar. “Mas será que isso aconteceu mesmo? Eu não estava lá na época”, afirma um ignóbil qualquer em sua rede social. A sociedade de dantes começou o processo que quase culminou na extinção total dos povos originários de nosso país. “Balela! esse pessoal é preguiçoso e passa fome porque tem preguiça de pescar”, afirma outro ser abjeto em sua rede social repleta de publicações de cunho asqueroso.

A sociedade de outrora encarcerou doentes mentais e pessoas que não se enquadraram no padrão vigente da época e os sentenciou, a contextos inimagináveis que deixaria qualquer entusiasta da volta ao passado da ética e dos bons costumes boquiabertos. O intuito era a “higienização” da sociedade e o não constrangimento dos detentores da moral e dos bons costumes.

Os detentores da ética, da moral e dos bons costumes da sociedade de dantes, golpearam o país mergulhando-o em uma ditadura que tolheu a dignidade de sua população, levando estudantes e demais pessoas que pensavam diferente, a serem presas e condenadas a humilhações e sevícias inacreditáveis, deteriorando sua integridade e muitas vezes levando-os a morte. Seus algozes

ocultaram seus corpos para que eles jamais fossem encontrados. “Ah! Mas isso só aconteceu com quem era terrorista”, justifica um imbecil qualquer em sua rede social. “Naquela época que era bom, tínhamos respeito e vivíamos protegidos sob a égide da moral e dos bons costumes, meu avô me contou”. Escreve um canalha qualquer em sua rede social.

As mulheres “recatadas e do lar” viviam sob o jugo dos pais e posteriormente dos maridos, desprovidas de qualquer direito, tendo que prover um varão por vez, a fim de provar a potente masculinidade de seus cônjuges, que com satisfação esperavam a hora do parto com um copo de whisky na mão, sob a companhia de mulheres de caráter “duvidoso”, em casas especializadas em prover prazer momentâneo a qualquer hora do dia,  adestrando garotas relegadas à margem da sociedade desde a mais tenra idade para agradar os barões e a “nata” da alta sociedade.

Em suma, me ponho a pensar, que sociedade da moral, da ética e dos bons costumes seria essa que nunca existiu? Seria uma sociedade utópica existente apenas na mente de pessoas alienadas em suas bolhas incólumes? Ou seria uma sociedade existente apenas na mente das pessoas que vivem e se negam a sair de seu mundo “poliânico”?

Intrigada com tanta alienação acerca da verdadeira realidade da sociedade de outrora, continuo a pensar: O que será das gerações que ainda virão depois desta, perdidas entre os fatos históricos e a ilusão dos que vivem imersos no mundo do reducionismo cultural?

Será que algum dia saberão o que é realmente ética? Será que saberão que a moral e os bons costumes são conceitos subjetivos pertencentes a cada contexto histórico?

Evanuse Fernandes

É Graduada em Psicologia pelo uni-FACEF com orientação em Psicologia Analítica/Junguiana, Graduanda em História pela Uniube, e Pós-graduanda em Psicologia com Intervenção em Drogas pela Faculeste.

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