ColunasOpiniões

Uma reflexão sobre as novas economias e os interesses do capital

Para falar nos conceitos da chamada Nova Economia, precisamos expor o que é conhecido como tradicional ou Velha Economia. Percebe-se que de velha está somente o nome, pois se observarmos com atenção é usada e não deixou de influenciar o que estamos chamando de nova economia. O que se experimenta são as mudanças de narrativas, que não enfrentam de fato os problemas crônicos sociais. Os conceitos que tratar-se-á em breve da Nova Economia, entende-se por alguns especialistas como “remédios paliativos”. Ou seja, não enfrentam e atacam as causas de explorações em geral impostas pelo sistema capitalista.

A chamada velha economia se caracteriza pelo seu formato de produção pautada na produtividade e eficiência. Nos cabe lembrar que a composição de uma empresa deste período é de grandes galpões, plantas, maquinários, procedimentos operacionais, matérias primas e recursos humanos. Diante disso, surge uma Ciência da Administração que orienta através de princípios dizendo que é preciso: planejar, executar, controlar e avaliar todos estes recursos produtivos.

Assim sendo, é preciso planejar, executar, controlar e avaliar os recursos físicos, os recursos materiais, os recursos financeiros, recursos tecnológicos e recursos humanos. Neste último, pode-se dizer que foi a fagulha para o surgimento do debate para uma nova era econômica. Visto que, a velha economia pauta todo seu conceito no acumulo de riquezas baseado no agora, e deixando em segundo plano as questões e interesses ditos como sociais. Os resultados para a economia tradicional é apenas o lucro. Então, surge os debates sobre a qualidade de vida e do meio ambiente.

Sobretudo, os efeitos causados pelo sistema produtivo que extrai da natureza, processam e transformam a matéria prima em produto, comercializa e depois descarta. Em grandes escalas, extrai ao extremo materiais primários onde não há tempo para a reconstrução ou até mesmo não há meios naturais para isso – como exemplo minérios. Ainda, excesso de mercadorias que precisam ser despachadas, com ajuda da construção de um sentimento voraz de consumir a todo instante e suprir a alta demanda estocada. Após tudo isso, há outro grande problema que é o descarte daquilo que foi consumido. A quantidade é tanta que a natureza não é capaz de decompor tanto lixo oriundo desta enorme escala produtiva. A Nova Economia tem sido estruturada – ou pelo menos tenta ser – para enfrentar estas demandas causadas pela a economia anterior. Dentro deste gênero fala-se em

outras espécies de economias, como: Economia Compartilhada; Economia Colaborativa; Economia Verde e Economia Circular dentre outras. Junto a isso, há também a chamada de Nova Administração. Esta tem o viés de construir suas ações pautadas no futuro. Com advento da tecnologia da informação, dado a sua fluidez e velocidade, Geraldo Caravantes, criador da teoria da Nova Administração, explica em uma entrevista que:

“A teoria administrativa tradicional não contempla o bem-estar das pessoas e parte dos executivos está voltada para eficiência e eficácia e esquecem o seu próprio bem-estar e das pessoas que estão ao redor, já a nova administração tem três objetivos: viver, viver bem e viver melhor”[1]

                        A Economia Compartilhada, sustenta que sua principal função é expor a importância de colocar o ativo para trabalhar a favor de seu proprietário, ou trabalhar com objetivo de ser útil não somente a um sujeito, mas sim estar disponível para utilidade de outros que não somente seu dono. Sempre foi observado a necessidade de lugares que fossem amplos, com boa ergonomia, acessíveis para o bem estar de trabalhadores. Como escritórios e salas comerciais amplas, por exemplo. Porém, estes espaços não ficam em uso o tempo todo, sempre há espaços de tempo ociosos, sem uso. Dito isso, porque não compartilhar esse espaço com outras pessoas que talvez precisem, mas não tem intenção de fazer tal investimento dado ao pouco tempo que precisa?

                        Estamos diante de uma necessidade, uma demanda. Outro fator que acelerou foi a pandemia. Muitos profissionais migraram do escritório para suas casas, implementando o home-office. Isso, fez com que observasse a não necessidade de salas tão grandes, assim com custos elevados de alugueres. Para dar uso social ao bem imóvel, nesse exemplo, é cabe compartilhar este espaço para aqueles que precisam para momentos pontuais.

                        Do mesmo modo, ocorre com veículos. O seu proprietário, observou que não tem tanta necessidade de tê-lo, vendo que fica mais tempo sem uso do que operando. Observa-se que as pessoas começam a não mais preservar a exclusividade com seus bens, seus ativos. E há uma oportunidade de dar um fim com maior utilidade a este patrimônio, gerando inclusive uma renda. Isso pode inclusive ser usado para empresários que possuem frota de veículos de táxi, onde disponibiliza para uso de condutores taxistas. Ou seja, neste exemplo, três condutores podem usar o mesmo veículo em turnos diferentes. A Economia Colaborativa objetiva-se criar um senso de colaboração entre as pessoas. Onde aqueles que tem um bem ou acessório que não está sendo usado em um


[1] CARAVANTES, Geraldo. Entrevista em 17 de maior de 2010 disponível no link: <http://www. mauriciodenassau. edu.br/noticia/listar/ rec/1175 acesso em 17/5/2010>. Acesso em 15 de março de 2024.

determinado momento, possa ser usado por outra pessoa. A exemplo, de garagens compartilhadas. Há imóveis que possuem espaços que não estão sendo usados, pode-se compartilhar como garagem para outro ou outros carros. Vemos exemplos como as bicicletas compartilhadas nas capitais do Rio de Janeiro e São Paulo. Resultando assim mobilidade urbana sem a necessidade de ter o bem.

Fala-se em “guarda roupas compartilhados” onde há pessoas que alugam estes itens de vestuário por um mês por exemplo, ou apenas um determinado vestido ou terno para uma festa e devolve. O mais conhecido modelo dos APPs de Compartilhamento de veículos, apartamentos, bens, utensílios e outros. A defesa deste modelo é que evita a produção de resíduos na produção de novos bens móveis ou produtos que ainda podem ser usados. Pergunta-se: Mas, com a não produção pode haver a escassez de empregos, como solucionar isso? Ainda, com a queda da procura ou interesse de ter um imóvel, diminui a construção civil que tem alto índice de empregabilidade no país, como enfrentar?

O que dizem é, todos precisarão adaptar com este modelo. As grandes empresas deverão mudar seu modo para suprir a necessidade de escala de produção que neste modelo tende a cair. Os jovens, tendem a não ter interesse de adquirir bens como imóveis, carros, motos e outros. Buscam, pelo aplicativo um patinete que o leve ao centro, ou um carro para locar e ir ao interior em uma viagem. Entretanto, não uma resposta para a solução por exemplo da falta de moradia nas cidades brasileiras.

Um contraponto importante é o do economista Ladislau Dowbor, exposto por Newton Rodrigues no periódico Folha Santista, que diz:

“[…] afirma [Dowbor] na apresentação do livro ‘Economia de Compartilhamento’, escrito por Arun Sundararajan, que em Berlim foi proibida a locação por Airbnb, pois grupos imobiliários compraram prédios inteiros para alugar a turistas. Esse fato causou redução na oferta de imóveis para os berlinenses e aumento de preços nos aluguéis, o que causou um quadro caótico”[1].

                        Acrescenta Laudislau, por intermédio de Rodrigues que:  “’a economia da colaboração navega nas tecnologias do século XXI, mas as regras e a cultura econômica ainda são do século passado’. O notável economista refere-se às relações de exploração que são mantidas com uma nova roupagem. Caso as plataformas digitais estejam sob a gestão de


[1] RODRIGUES, Newton. Artigo Adjetivação da economia: compartilhada, criativa, circular e verde. Para quê?. Disponível em: <https://folhasantista.com.br/colunas/adjetivacao-da-economia-compartilhada-criativa-circular-e-verde-para-que/ >. Acesso em: 15 de março de 2024.

E a Economia Vender, o que tem a modificar e oferecer? Talvez uma das maiores preocupações é como parar os efeitos climáticos, assim como eliminar a destruição ambiental. Os defensores dessa tese são quem apoiam a chamada Economia Verde, sendo ela uma ferramenta possível de ser praticada e lucrativa. Deste modo, seria uma economia voltada ao bem estar da humanidade, igualdade social, conjuntamente com a diminuição dos riscos ambientais e a escassez ecológica. Então, todo objetivo é voltado para solucionar os problemas ambientais. Assim, há empresas que vem investindo em tecnologia, inovação e práticas que acarretam crescimento econômico e proteção ambiental.

                        Todavia, para a economista Sandra Quintela, a Economia Verde não está colocada para superar o capitalismo através de associações de trabalhadores, pois há uma economia neste conceito que transforma a natureza em mercadoria. Vendo que se mantêm os mesmos níveis de consumo e exploração dos seres humanos entre si, em troca de um apelo pela diminuição da emissão de gás carbônico, conforme citação a seguir:

A economia verde não está em nenhum momento colocada para a superação do sistema capitalista através da associação dos/as trabalhadores/as, tendo ela surgido como uma economia onde transformamos a natureza em mercadoria. É um “esverdeamento” do capitalismo através do apelo para a diminuição da emissão de gás carbônico, mas mantendo os mesmos níveis de consumo e de exploração dos seres humanos entre si. Assim, as árvores, o céu, o mar, os pássaros passam a ter preço e a ser comercializados em bolsas de valores específicas. O capitalismo e a ecologia são questões opostas que não podem conviver num mesmo planeta e, por isso, na Cúpula dos Povos rejeitaram as propostas da economia verde[1].

Há também a chamada Economia Circular, que também caminha com um objetivo ambiental como a Economia Verde. Mas, para entendermos é importante retomar como é o ideal da Economia Tradicional neste primeiro momento. Então o processo é retirar da natureza a matéria prima, processar para transformar em um produto, consumir e depois descartá-lo na natureza. Como já mencionado em outra oportunidade, a necessidade de possuir é o eixo para manter a produção. Neste prisma, se retira cada vez mais da natureza a matéria prima, sem dar tempo para reconstrução, instiga a necessidade de consumo cada vez maior, aumenta a quantidade de pessoas em um único ambiente feito verdadeiros confinamentos urbanos,


[1] Idem.

resultando o descarte de toneladas de resíduos que vão para aterros ou ficam expostos na natureza sem que ela consiga absorver, dado a quantidade e o tempo.

Enfrentando isso, a Economia Circular tenta trazer o conceito de não precisar possuir algo, o importante mesmo é o acesso a algo. O ideal da Logística Reversa, que é a capacidade de coletar e devolver os resíduos sólidos as empresas, para reaproveitamento ou outra destinação ambiental adequada é um dos pilares importantes da dita economia. Na prática, você adquire um produto usa até não querer mais, e devolve ao fabricante que irá processá-lo para a transformação em outra matéria prima ou vai descartá-lo de maneira adequada. Isso evita a produção de lixo e protege o meio ambiente. Deste modo, o entendimento seria que hoje o ideal é usar, reciclar e reinserir. Não como antes, que era usar e descartar para comprar outro.

Em contrapartida, Newton Rodrigues no periódico Folha Santista, em seu artigo Adjetivação da economia: compartilhada, criativa, circular e verde. Para quê?, afirma que “A evidência do lucro como objetivo das relações entre as pessoas e o meio ambiente acarretou desigualdades sociais, destruição ambiental, mercantilização e espetacularização da cultura”[1].

Portanto, conclui-se que toda criação destinada a geração de riquezas passa por uma avaliação invisível da velha economia. Os dirigentes que estão a serviços da minoria poderosa dominante, são os responsáveis pela criação da roupagem usada para tapar a nudez da mais-valia exploradora. Esta afirmação se dá diante a ausência de questionamentos como: como proteger o trabalhador nas relações de trabalho da “nova economia”? Ou, soluções para enfrentar os graves problemas, como a desigualdade social, a fome, o racismo e diferentes formas de discriminação?

São questionamentos que não encontramos respostas claras com soluções definidas. Para Rodrigues, a Economia Solidária:

“contempla todas as exigências por se apresentar como anticapitalista no campo teórico e nas ações. Inclusive, por isso, não foi considerada no título do presente texto, por ser agregadora de todas as lutas, sejam elas para a inclusão socioeconômica, contra a exploração de trabalhadores ou feministas, antirracistas e ambientais”.

Contempla ainda que a “Economia solidária é sinônimo de socialismo autogestionário, de uma economia fundamentada em relações horizontais em que não existe mais-valia. Trata-se de um modelo de desenvolvimento além do capitalismo”. São posições importantes para reflexão do mundo, pois maquiar tapa as imperfeições. Isso, significa que as imperfeições não foram exauridas, ou não podem ser caso não ataque a causa degradante, sendo ela o sistema capitalista. É preciso haver meios de superar todo sistema ou as gerações futuras podem não ter um ambiente possível de sobreviver. Portanto, a Nova Economia não conseguiu se desvincular dos interesses primários da Economia Tradicional, por isso, entendida como meio paliativo de solução. É preciso refletir mais sobre a Economia Solidária diante a estes aspectos.

REFERÊNCIA

CARAVANTES, Geraldo. Entrevista em 17 de maior de 2010 disponível no link: <http://www. mauriciodenassau. edu.br/noticia/listar/ rec/1175 acesso em 17/5/2010>. Acesso em 15 de março de 2024.

RODRIGUES, Newton. Artigo Adjetivação da economia: compartilhada, criativa, circular e verde. Para quê?. Disponível em: <https://folhasantista.com.br/colunas/adjetivacao-da-economia-compartilhada-criativa-circular-e-verde-para-que/ >. Acesso em: 15 de março de 2024.


[1] Idem.

Dione Castro

É administrador de empresa, estudante de gestão empresarial pela Fatec, graduado em direito e um eterno curioso.

Um Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo