Uma paulista bem mineira
Por Daniela Almeida Borges
Conta uma história que quem passava pela rua Voluntários da Franca sentido à praça Sabino Loureiro há algumas décadas deparava-se com uma fonte bem peculiar. Nela existia uma frase um tanto quanto curiosa: “Essa água da careta/tão bela como nunca vi/ quem beber dessa água/ nunca mais sairá daqui”.
Infelizmente não cheguei a conhecê-la. Perdeu-se, dentre tantos outros monumentos históricos da cidade já destruídos, não sei se por falta de interesse em preservá-los, pela ação natural do tempo, ou tudo isso “junto e misturado”. Tentaram fazer uma réplica nos idos de 2001 mas ela também não sobreviveu ao ataque dos vândalos. Mas se tivesse a oportunidade, beberia de sua água sem pestanejar. Amo a minha cidade. Sou francana de nascimento e de coração.
E nem perco tempo tentando convencer quem não pensa o mesmo. Prefiro aliar-me àqueles tantos outros que conseguem notar suas virtudes e belezas.
Ao invés de reclamar de seus motoristas displicentes, prefiro eu fazer a minha parte. Adoro ressaltar os feitos daqueles que fazem a coisa acontecer, mesmo numa “cidade de mentalidade provinciana” como denominam alguns outros. Prefiro prestigiar os eventos culturais organizados por esses idealistas do que reclamar da falta de atrações. Procurando um pouco sempre encontro algo interessante. E olha que sempre vou em coisa boa! E muitas vezes não gasto um tostão! Adoro o seu céu rosa-alaranjado nas tardes de inverno, seu ar puro de cidade interiorana, seus pedestres desatentos que andam no meio da rua. Adoro seu sotaque mineiro, mesmo sendo uma cidade paulista. Sempre quando viajo, me perguntam se resido em Minas. Abro um sorriso largo e apenas digo: praticamente!
Qual francano não gosta de palavras no diminutivo, daquele jeitinho afetuoso, com erres demorados e bem pronunciados?
Qual francano não gosta de um bom café com pão de queijo, feijão tropeiro ou galinha caipira com polenta e quiabo?
Muito me orgulho em falar dos meus conterrâneos: povo generoso, que sempre se envolve em ações sociais pelas periferias. Adoro sua água bem tratada e saborosa. Sempre me alegro em vê-la ocupando, há tempos, excelentes índices de saneamento básico e boas colocações em pesquisas de bom lugar para se viver.
Há outros números que nos envergonham? Certamente! Especialmente nos recortes de índices de violência contra a mulher e acidentes violentos de trânsito.
Mas nada abala minha convicção de como sou sortuda por nascer e viver aqui.
Pois é terra das Três Colinas, talvez eu conseguiria 200 motivos para enaltecê-la. E que venham os próximos anos de cara convivência!
Daniela Almeida Borges é servidora pública. Adora crônicas e sua cidade natal
Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.