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Recordes

 A população da Terra está aumentando assustadoramente. Há quatro meses chegamos a oito bilhões de almas, um recorde. Oito bilhões de almas humanas, claro. Porque o resto dos habitantes da Terra não têm alma, segundo os entendidos. Mas não é apenas por isso que não contamos as demais espécies. É porque a Terra nos foi dada por Deus há mais ou menos quatro mil anos, segundo consta da Bíblia, o livro mais lido e base das principais religiões do ocidente. Todos conhecemos o livro do Gênesis, que também compõe a Torá, a lei básica do Judaísmo, que era religião, filosofia e modo de vida do antigo povo hebreu e que hoje integra a Bíblia do Cristianismo. No Gênesis, o livro da criação, está escrito: “Então Deus disse: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. E, mais adiante: “Frutificai e multiplicai-vos, disse ele, enchei a terra e submetei-a”. E a humanidade tem cumprido aqueles mandamentos à larga e de consciência tranquila. E veio o recorde da multiplicação: oito bilhões de pessoas! Em relação a dominar as demais espécies, temos renovado recordes: levamos à extinção de duzentas a dez mil espécies por ano, segundo os especialistas.

Desde que a humanidade se organizou sobre as Terra, vem aprimorando os meios de obter e produzir alimentos. Depois, passou a se ocupar também com a produção de bens que lhe proporcionam segurança, conforto, até chegar na preocupação de produzir e aumentar as riquezas, que é o que domina os meios de produção de hoje.

No estágio atual, comparado com o tempo de Moisés – estudiosos da bíblia de origem judaico-cristã costumam atribuir a Moisés a autoria do Pentateuco – humanos são semideuses que controlam praticamente toda a Terra. Para a produção de riquezas e até mesmo para a expansão das suas cidades, estendem o seu domínio total sobre o meio ambiente em que vivem as demais espécies. O Brasil, cuja principal fonte de riqueza é a agricultura, expande a produção do seu principal produto aumentando as áreas de cultivo, avançando sobre novas áreas de florestas. E conseguiu um novo recorde nos últimos quatro anos: produziu a maior devastação de florestas da história.

Logo, dá pra saber as razões que levam à expansão das áreas de cultivo. Mas, não só isso. Deve-se considerar também a concorrência de outras atividades que provocam ocupação e, não raro, alteração definitiva dos ambientes naturais, como a mineração. Na verdade, todos os meios de produção de riquezas interferem no ambiente. Tudo interfere no meio ambiente, inclusive viver. O fato de respirar já interfere no meio ambiente. Mas, a expansão das riquezas, se necessária, não poderia ser de modo menos predatório? Há outros valores que devem ser considerados. Há outras espécies que têm o planeta como o seu mundo. Será que vamos mesmo provocar a extinção de todas as espécies do planeta que não servem ao interesse humano? Aí bateríamos todos os recordes de egoísmo, de materialismo, de niilismo até…

Será a vontade de Deus que tudo o que há na Terra existe para servir ao homem como está no livro do Gênesis? Pelo que estamos vendo, se revirarmos demais a crosta do planeta, nós também sucumbiremos. Historiadores têm questionado a Bíblia como registro histórico, afirmando que está mais para doutrina religiosa ou para a ficção. Mas, se de fato tivermos sido criados há quatro mil anos, como está na Bíblia, já evoluímos bastante. E como criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, temos discernimento suficiente para mudar a nossa conduta para não provocar a maior extinção de espécies da história da Terra.

Consta que durante a sua formação o planeta passou por várias extinções em massa. Se preferirmos considerar apenas o que consta do Gênesis, poderíamos considerar a extinção massiva de vidas ocorrida no dilúvio, (Gen. Capítulos de 6 a 9). Porque, pelo que consta do Gênesis, naquele tempo coube na arca de Noé um casal de cada espécie que então existia. O resto foi destruído. A arca, que media 300 côvados por 50 de largura, por 30 de altura, correspondendo a aproximadamente nove mil metros quadrados, descontados os aposentos de Noé e sua família, hoje mal acomodaria os mamíferos da Terra! Mas, devemos considerar que com o dilúvio não houve extinção, porque Noé salvou um casal de cada espécie. Mas dá pra saber que a diversidade era menor do que a de hoje. Enfim, se não cuidarmos do planeta provocaremos a maior extinção de espécies de que já se teve notícias. O pior é que seremos extintos com as demais espécies. Ou será que há alguém construindo alguma arca por aí?

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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