“Peguei o boi”
Ihaim?
Minha patroa, Dona Lanna Lanne (a melhor que eu tenho) trocou o som de sua casa e me deu um desses chiques mesmo, cheio de “butão”, luz, o som toca tão “arto e forte” que as “parede” e os “vidru” da casa treme. Pagou uma nota preta.
E eu com aquele radinho de “pia” “veio”, Bombril na ponta da antena para pegar a estação. O som do meu ”baixa”, para de funcionar, tem que “dá” umas pancadas nele, aí ele “vorta”. Belo dia tô indo embora da casa da dona Lanna e ela me chama: me deu de presente o som antigo dela.
Patroa é assim, quando o trem tá veio ou comida pra estragar dá pra empregada. O som antigo dela foi pro meu barraco. Pagou até táxi. Gente, que “satisfação”, que alegria. Já imaginei eu e a Lolosa fazendo um “rala coxa”, um mela cueca” no barraco. Festão.
Chamei o Hipercides, filho da minha vizinha Ava Gina, para instalar o troço. Antes, fiz um preparo com “dureipoxis” para tapar um buraco que tinha na frente do som. Quando o Hipercides chegou, entreguei a bolinha pra ele. Aí ele me explicou que o buraco era pra “pendrive”, “pidrive”, sei lá. Um trequinho do tamanho do meu dedinho do pé e que cabia nele mil música. Pensei: isso não é de Deus. Ele me disse pra fazer uma tal de “prailisti” que ele gravava pra mim. Perguntei se esse treim era coisa de ir na praia. Ele deu risada na minha cara.
Me explicou que era uma lista de músicas que eu gostava. Essa mania de brasileiro falar Engrêis me “inrrita”. Fiz minha lista num saquinho de pão, a lápis, coloquei dez músicas pra ver se ia ficar bão:
Meu Ídolo
Amado Batista – “Princesa”
Bartô Galeno – “No toca-fitas do meu carro”
Paulo Sérgio – “Última Canção” (essa até minha pitrica chora de saudade)
Gilliard – “Aquela Nuvem que Passa” (Meu anjo de cabelo enrolado)
Evaldo Braga – “A Cruz que Carrego”
Falcão – “Ela me traiu com o resto das camisinhas”
Alípio Martins – “onde andará você”
Humberto e Ronaldo – “não fala não pra mim bebê”
Lodumila, Simone, Dimara – “Qualidade de Vida (o chifre me lembra o da Leninha)
Jojô Toddinho- ´”Que tiro foi esse”
Se ficar bão mesmo, vou comprar uns “pés de porco”, chamar o povão ali do bairro Troca Tapa e o bailão do mela cueca vai madrugar dentro do barraco. Pobre de vez em quando tem que ter sorte. Senão não dá, né?