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Os direitos e as obrigações de Trump e Lula

A revelação (do Estadão) de que o encontro de Donald Trump e Lula da Silva, no corredor da assembleia da ONU não foi casual, mas precedido por discretas reuniões e negociações entre ministros e assessores dos governos dos EUA e do Brasil, demonstra que, apesar dos conflitos, críticas, provocações e desencontros conhecidos, os ânimos entre as duas lideranças não são tão inconciliáveis quanto se tem divulgado. Os dois governantes não devem ser tão radicais ou cascas-grossas quanto se tem especulado.

Aguarda-se que, apesar de tudo, não deixem de considerar que a ruptura entre os bicentenários parceiros diplomáticos, econômicos e sociais – se ocorrer – será danosa aos dois lados da relação. Os Estados Unidos precisam das mercadorias brasileiras para abastecer sua população e o Brasil necessita do mercado para, com sua renda, continuar alavancando a economia nacional, principalmente com a manutenção de empregos nos centros produtores das centenas de mercadorias que compõem a pauta internacional de comércio.

As dificuldades entre os dois países, contudo, não se restringem à tarifa nas exportações. Há a questão do ex-presidente Jair Bolsonaro, a estória do pretenso golpe de Estado, as sanções dos Estados Unidos sobre ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades que o governo yankee acusa terem infringido leis e regulamentos daquele país e outras diferenças que, salvo melhor juízo, não devem ser tratados como se fossem um pacote porque, como temas diferentes, um pode inviabilizar os acertos e negociações dos outros.

Nossa Constituição sustenta os Três Poderes como autônomos , independentes e harmônicos entre si. Nada impede que se auxiliem mutuamente, mas não devem uns adentrarem às áreas de atribuições dos outros. Isso nos leva a pensar que Lula não deve brigar com Trump em defesa dos interesses dos ministros do Judiciário e nem dos integrantes do Legislativo. Cada Poder, para bem cumprir sua finalidade legal, tem que cumprir suas obrigações e ter atitudes que os mantenham em pé.

Da mesma forma, entendemos que Trump não tem o direito de intervir no Brasil (ou outros países) por seus governos terem relações com nações ideologicamente incompatíveis à política norte-americana. Da mesma forma que os outros não devem também interferir. Se isso acontecer, é a guerra declarada e o conflito normalmente coloca os povos em risco.

A nós, brasileiros, a alternativa é esperar (e até torcer) que Lula e Trump encontrem o caminho do acordo naquilo que for possível e sejam inteligentes e perspicazes o suficiente para não transformar questões secundárias em focos de tensão. Essa é uma obra de paz que, além do desejo do povo, precisa contar com o empenho dos governantes, parlamentares e das diferentes autoridades que, colocadas dentro das linhas divisórias dos respectivos campos de trabalho e agindo pacificamente, nos conduzam ao futuro pretendido pelas gerações que nos precederam.

Que Trump e Lula marquem com a maior brevidade o encontro que seus auxiliares costuraram nos bastidores e jamais percam a oportunidade de manter as nossas nações na rota da ordem, do pacifismo e do bem-estar. É, também, para isso que o povo os elegeu..

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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