Na famosa rua do Comércio, indo ao trabalho, bem no meio do caminho havia uma garrafa de cor ambar escuro, de rótulo amarelo, aberta, vazia e de pé. Rua que é passada de tantos consumidores nesse início de dezembro, e tema de inúmeras histórias literárias francanas, trago algo sobre aquele objeto – única companhia do pobre em trapos.
Na fria noite passada, um gole foi seu aquecedor. Na ausência de qualquer olhar ou paquera, seria ela sua única parceira. Diante a uma lembrança de paixões antigas, ou sofrimentos amorosos era o bico o lábio quente e carnudo da mulher amada.
Gatilho de sua fraqueza e decisão de tornar-se um invisível, mendigando moedas não para o fim missionário, recebe, portanto, fuzilamentos julgadores. Na dor do corte totalmente aberto no tornozelo, aquelas doses foram enfermeiras, médicos e anestesia.
Seu corpo precisava de um abrigo e força para reerguer. Sem lar, amor, olhares, restou o sagrado litro que não era de água abençoada. Mas sim de uma “santa” garrafa de Presidente.