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Investir em Florestas

A COP-28 terminou com mais um acordo: todas as nações envolvidas concordaram que ser necessário cessar a produção de combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão). Naturalmente sem mencionar qualquer ação prática para isso. Ambientalistas comemoraram, porque pela primeira vez as nações que produzem petróleo admitiram que essa fonte de energia provoca o aquecimento global. Os produtores de petróleo comemoram (em silêncio) o adiamento de qualquer compromisso prático a respeito.  Porém o Brasil, que no início da Cúpula do Clima de Dubai aceitou convite para participar da OPEP+, no dia do encerramento do encontro leiloou 190 blocos para exploração de petróleo no país, inclusive nas proximidades de terras indígenas. Logo, ficou claro que o governo não leva a questão do clima a sério. E a quem o presidente Lula está enganando quando disse que o Brasil vai entrar na OPEP+ para boicotar os objetivos da organização!

“O país não pode perder a oportunidade de explorar as suas jazidas de petróleo para não se tornar dependente da importação do produto” disseram os técnicos do governo. Antes de se dedicar a uma política séria de mudança da matriz energética, claro. Na prática, o Brasil não precisa explorar petróleo para atender o consumo interno por possuir inesgotáveis fontes de energia solar, eólica, hidrelétrica além do etanol, para alimentar os nossos automóveis. Mas são os interesses econômicos dos empresários do setor e os interesses políticos do governo, aí incluídos os poderes executivo e legislativo, reféns do poder econômico, que definam todas as questões relevantes do país.

                Embora a ONU efetivamente faça esforço para deter o aquecimento global e a palpável inviabilização do clima da Terra para a vida – inclusive a humana – não custa lembrar que a criação de ambientes climatizados é coisa para ricos – na prática nada de relevante tem sido feito em termos de políticas governamentais para mudar a situação. E isso é bem fácil de justificar: governos são reféns do poder econômico que, na prática, governa o mundo. Mesmo os governos totalitários, como os da China, Rússia, Venezuela, etc., só se preocupam com os orçamentos para atender aos seus interesses e, vez ou outra, de seus governados. De sorte que é preciso pensar em outras soluções, independentes fora dos governos. E elas existem.

                O que o mundo precisa é que as pessoas, individualmente, comecem a agir. Claro que primeiro precisam se conscientizar de que é o conceito o de conforto da nossa civilização que está causando o desastre no equilíbrio do clima. Depois, conhecer as causas que produzem ou colaboram para fenômenos como as ondas de calor. Uma coisa é certa, os nossos prédios de alvenaria são mais quentes do que o interior das florestas. Menos os que têm ar condicionado! Mas, enfim, plantar árvores é o primeiro passo. Na verdade, começar a replantar as florestas imediatamente tem sido o parecer dos especialistas, para que possamos deter o aquecimento global. Claro, ao lado da mudança gradativa das fontes de energia poluidoras para outras mais limpas e de outras ações. Mas sempre que se fala em preservar as florestas, imediatamente se enfrenta a fúria dos produtores rurais, que dizem que são os responsáveis pelo equilíbrio da balança comercial do país, que alimentam a metade do mundo, etc., etc. Isso é uma verdade.

Mas quem disse que são eles que têm obrigação de replantar florestas? Naturalmente precisam parar de desmatar e de considerar a preservação de florestas como inimiga. Mas, é importante ponderar que o equilíbrio do clima do planeta é responsabilidade de todos. Que os desastres atingem a todos. E que todos nós, em especial os que possuem mais dinheiro, somos responsáveis pelas emissões que provocam o efeito estufa que está gerando a destruição da vida no planeta. Por que, então, as pessoas que têm mais recursos, não investem um pouco em áreas verdes particulares?

Uma área de terra de dez hectares degradada custa menos de um quinto de um apartamento na cidade. E se investidores, como aqueles que investem nas bolsas de valores, se juntassem para criar grandes parques para a preservação da biodiversidade? Não seria necessário comprometer a segurança econômica das famílias nesses investimentos, mas de uma pequena parcela apenas.  O retorno? A preservação do ambiente para os nossos netos e tudo o mais que costuma vir de acréscimo!

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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