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Histórias do bicentenário: Os negros em Franca em 1824

“O portal Notícias de Franca publica hoje a quarta parte de uma série de textos especiais em homenagem ao bicentenário de Franca.
Os artigos contam a história da cidade, desde quando era apenas um pouso dos bandeirantes, ainda no século XVIII, até os dias atuais.
O projeto é de autoria de Isa Marguilet. Ela fez detalhada pesquisa nos acervos do museu de Franca, nos sites oficiais e deu se toque pessoal para recontar a história da nossa cidade. Acompanhe, compartilhe com os amigos, com as crianças… É um jeito gostoso de descobrir ou redescobrir a nossa Franca.”

Oi, pessoal! Semana passada falei sobre os povos originários que por aqui habitaram a cidade antes da colonização, e um leitor me perguntou dos povos negros que viviam na cidade de Franca em 1824. Depois de muitas pesquisas no livreto “O negro na história de Franca”, cedido por Leonardo Santana, passei a refletir sobre muitas coisas e principalmente como hoje somos livres e donos de nós mesmo!

Em 1824, em Franca, os negros eram como pessoas aprisionadas, sem direitos, tratados como animais pelos fazendeiros. Eles não eram vistos como seres humanos, mas como propriedade. Mesmo assim, lutavam todos os dias para sobreviver e preservar sua cultura e dignidade.

Imagem criada por IA produzida por Guilherme Alvim

Os escravos vieram para Franca principalmente de lugares próximos, como Minas Gerais, por causa da proximidade e da história de migração e colonização. Eles eram obrigados a trabalhar nas fazendas, fazer serviços domésticos e criar artesanato. Suas vidas eram sub- humanas, os fazendeiros os tratavam com muita violência, sem liberdade com trabalhos árduos, viviam controlados pelos seus proprietários.

Imagem criada por IA, produzida por Guilherme Alvim

Os negros Francanos, em sua maioria eram “crioulos”, nascidos aqui no Brasil. Embora naquela época eram uma porcentagem insignificante de 30% da população, eram considerados poucos escravos em comparação com outras regiões onde a escravidão era mais comum. Eles eram obrigados a desempenhar várias funções desde sua infância: trabalhar nas plantações, cuidar dos animais e até fazer tarefas domésticas. Os escravos eram uma parte importante da força de trabalho naquela época, mas ao longo do século XIX, essa quantidade diminuiu gradualmente, à medida que a sociedade mudava sua opinião sobre direitos humanos e a escravidão era cada vez mais questionada.

Imagem criada por IA, produzida por Guilherme Alvim

Todos os documentos de vida dos escravos como RG e CPF se tratavem de suas certidões de batismo, a Igreja Católica tinha grande poder e responsabilidade por registrar eventos vitais como nascimentos, casamentos e mortes, ela era a principal instituição para manter esses registros oficiais devido à sua influência religiosa, social e legal, além de sua aliança com o Estado, ela também tinha autoridade em educação e saúde também poder sobre a população. Entre 1806 e 1887, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Franca, dos 5.401 casamentos registrados, apenas 71 foram uniões mistas( negros, escravos, negros livres, indios e pessoas pardas), com 36 entre brancos e escravos. A Igreja Católica, após o Concílio de Trento, definia o casamento como sacramental, monogâmico, indissolúvel e heterossexual, permitindo uniões entre escravos e livres sem alterar a condição de servidão, a unica regra para o matrimônio era homens deviam ter no mínimo 14 anos e as mulheres 12 anos para casar.

Imagem criada por IA, produzida por Guilherme Alvim

Os escravos eram tratados como animais e não tinham nenhum direito, nem sobre suas próprias vidas. No entanto, na lei penal, eles eram vistos como pessoas e sofriam punições severas por crimes. Os registros da primeira Comarca, que hoje estão no arquivo municipal, mostram a crueldade praticada contra os negros na cidade, incluindo estupros, homicídios, lesões corporais, tentativas de homicídio e furtos.

Carlos de Assumpção, poeta (Foto: Wikipedia)

Os negros meliantes sofriam punições extremas como a oitocentos açoites ou a pena de morte, que era o enforcamento em praça pública. A forca era uma estrutura construída na Praça da Matriz Nossa Senhora da Conceição, onde hoje fica o Relógio do Sol, para realizar essas execuções. A ideia por trás disso era servir como um aviso para outros criminosos e dissuadi-los de cometerem atos semelhantes, era uma forma de punição severa que visava não apenas punir o criminoso, mas também causar medo na população.

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Carlos de Assumpção, poeta (Foto: Wikipedia)

“A escravidão em Franca criou uma base para a desigualdade que ainda existe hoje como famílias em condições de vulnerabilidade social, que enfrentaram diáriamente a discriminação em áreas como educação, emprego, saúde e moradia. O trauma da escravidão passou de geração em geração, afetando a saúde mental e emocional dos descendentes. A escravidão também perpetuou o racismo e a exclusão social dos negros. Muitos africanos escravizados foram obrigados a reprimir suas culturas e tradições, o que dificultou a reconexão do nosso povo com as próprias raízes. Apesar disso, a história dos negros na cidade de Franca é marcada por resistência, luta e resiliência, que ajudaram a moldar a cultura e identidade da cidade hoje temos figuras importantes na cidade como o escritor Carlos de Assmpção que nos relembra diariamente a luta dos negros na sociedade.”

E assim eu termino o resumo desse livro maravilhoso! Desse legado valioso para todos nós de trabalho, lutas e coragem.


Quer saber mais? Na próxima semana te conto!

Isa Marguilet

É contadora de histórias, atriz, escritora, recreadora infantil e fundadora da Acim

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