Colunas

Franca da Imperatriz

Por Tais Pereira de Freitas

O ano era 2007, eu tinha 27 anos, não tinha planos de ser mãe e me dividia entre o trabalho como assistente social, o anseio por fazer Mestrado e o trabalho como parte da Diretoria de uma associação que era a mantenedora de uma creche. Uma vida que a época eu achava agitada, mas que quando eu lembro hoje, dou uma risadinha marota que poderia ser facilmente traduzida pelas hastags #sqn e #sabedenadainocente.

Não, eu não sabia de nada. Mas lembro que naquele janeiro de 2007, fui ler o jornal da Franca (assim mesmo, “da Franca”, pra ser fiel ao legítimo francanês) e me deparei com uma notícia que nunca vou me esquecer: “Era o único jeito de salvar meu filho”, diz mãe, que pulou em poço em Franca. E estampando a notícia, a foto de uma mulher negra, de calça e blusa amarelas. Não sei dizer o que mais me impressionou na notícia naquele dia, se a mulher negra de amarelo, estampando o jornal, ou se o feito dela. Que coragem era aquela gente? Eu que não sabia nadar, me perguntava: Como assim, a pessoa se joga num poço sem saber nadar? Será que ela não pensou que poderia morrer?

Não, eu não sabia de nada. Mãe e filho foram salvos e deu tudo certo. O tempo passou, minha vida deu vários giros, uns rodopios fascinantes e apaixonados e eu passei o portal da maternidade em 2015 e 2018. E a resposta a todas as perguntas que me fiz quando li aquela reportagem se desvelou no meu novo cotidiano.

A Maria Jerônima, a mulher daquela reportagem de 2007 era mãe. Simples assim. Eu penso que ela, na verdade, não viu o poço, não viu o risco, não pensou em ser corajosa. Eu ouso dizer que ela só viu o filho em perigo, fez o que podia naquele momento e assim entrou para história dessa cidade, terra de tantas mães e palco de tantas histórias.

Franca é para mim, desde então, a terra da Maria Jerônima e tantas outras Marias, mães que estão em todos os lugares, em todos os serviços, em todos os poderes. Franca é a terra de mães, de mulheres que trabalham, que estudam, que ousam, que empreendem e que, se preciso for, se arriscam para defender o que acreditam e aqueles que amam.

Celebrando os duzentos anos dessa cidade, palco de alguns dos momentos mais lindos da minha vida, eu encerro dizendo que aqui é a Franca da Imperatriz. E segredinho de nota de rodapé, quase sussurrado no pé do ouvido: A imperatriz é mãe.

Tais Pereira de Freitas é Assistente Social e Escritora. Mãe da Nice de Fátima e da Angelina de Lourdes

Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia... escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo