Franca: a terra do abraço e das oportunidades
Por Sirlei Oliveira
Para mim, Franca sempre será a terra do abraço caloroso e das grandes oportunidades. Uma cidade que nos enche de orgulho, onde aprendemos a “fazer com as mãos” enquanto o coração pulsa com satisfação.
Nossa história começa em Minas Gerais, de onde viemos. Meu pai, um renomado chef de cozinha e confeiteiro, já havia encantado paladares em várias cidades do Brasil, mas foi no Paraná e em Minas, especialmente na minha querida Poços de Caldas, que ele se destacou. Na época, Poços era parada obrigatória para empresários e figuras ilustres do Brasil Imperial, e meu pai conquistou o título de melhor chef da cidade.
Foi em um dos grandes hotéis onde trabalhava que empresários francanos provaram sua comida. Encantados além das expectativas, pediram para conhecê-lo. Pouco tempo depois, veio o convite para nos mudarmos para Franca. Meu pai inauguraria o restaurante Gratinado (hoje inexistente), e assim, com apenas dois anos de idade, cheguei a Franca com minha família. Meu irmão tinha seis anos, minha irmã apenas quatro meses, e ali começamos a criar raízes.
Aos poucos, trouxemos mais familiares de Minas, acolhendo-os em nossa casa. Eles também se apaixonaram por Franca e fincaram suas raízes aqui. Hoje, temos uma família de tamanho médio, e me orgulho imensamente de cada um.
Nosso olhar sempre foi guiado pela culinária. Meu pai trabalhou em lugares emblemáticos como o Pajé, o Barão e o Gasparini. Ele também comandou sua própria rotisserie, O Panelão, e um buffet, sempre com minha mãe ao lado, fiel companheira na cozinha. Além disso, com sua generosidade, ele ensinou muitos a cozinharem, compartilhando seus conhecimentos com paixão, e, em sua humildade, também aprendeu com alguns francanos. Essa troca de saberes fortaleceu ainda mais nosso vínculo com a cidade e seu povo. Como família, também produzimos salgados para bares e, nos finais de ano, ficávamos exaustos preparando pratos natalinos e de Réveillon. Lembro-me de decorar pratos de peru à califórnia, saladas e farofas doces, uma tarefa que me encantava. Apesar do cansaço, a alegria dos clientes e os elogios faziam tudo valer a pena.
Há uma história que meu pai, Benedito Ruela, gostava de contar: ele dizia ser o criador do famoso prato JK, introduzido em Franca. Segundo ele, serviu o prato ao presidente Juscelino Kubitschek por volta de 1958, no Palace Hotel, em Poços de Caldas, durante os dias em que o local era conhecido por seu luxuoso cassino. O prato teria conquistado o presidente, que frequentemente o pedia nas visitas seguintes. Verdade ou não, prefiro acreditar no meu pai, até porque nunca provei um JK tão saboroso quanto o dele.
Franca também marcou minha vida de outras formas. Por muito tempo, moramos no Clube de Campo, onde meu pai comandava a cozinha. Cresci em meio a bailes e eventos repletos de gente importante e muito glamour. Foi ali que me formei no Senac como garçonete e ajudante de cozinha. Além disso, cultivávamos nossa própria comida: arroz, feijão, verduras, legumes e frutas. Criávamos porcos e galinhas, o que tornava nossa vida simples, mas plena.
Na escola rural onde estudei e nas seguintes, os professores eram nossas maiores autoridades e fontes de inspiração. Eles nos ensinavam a acreditar que seríamos grandes, e estavam certos. Trabalhei na Unifran por mais de 10 anos, onde concluí minha graduação e me apaixonei pela educação, área na qual me formei e sigo como uma eterna aprendiz. Me considero grande e vejo minha família no mesmo patamar, porque a grandeza está na alma feliz por tudo que se fez e tudo que se faz.
Hoje, olho para Franca como uma cidade de grandes oportunidades, tanto para quem chega com determinação quanto para empresários visionários. A cidade é reconhecida por suas riquezas: água de qualidade, clima agradável, títulos de excelência, cafés premiados, uma gastronomia invejável e, claro, o basquete que nos orgulha.
Com sobrinhos-netos já francanos, meu coração pertence totalmente a esta terra gentil, ainda com um pezinho em Poços de Caldas. Só posso agradecer pela sorte de viver aqui.
Obrigada Franca por nos carregar com você nesses seus 200 anos!
Sirlei Oliveira é uma francana grata pela vida
Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer", idealizado pela colaboradora Soraia Veloso, em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Publicamos um texto por dia ao longo de mais de 40 dias, escritos por mulheres.
Que linda história de vida Sirlei! E que texto leve, gostoso de ler, rico em detalhes!
Amei a história do JK porquê é exatamente o que contam em Franca sobre o nosso mais famoso prato “típico”….rsrs.
Fato é que é melhor deixar quieto! Acredito no Sr. Benedito, mas Poços já tem atrativos de sobra!
Feliz Natal!!