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Coceira no furico é coisa de pobre


Inhaim?
Pobre é um trem sem sorte no mundo. Tudo acontece com pobre. Tudo quanto é tragédia. Rico tem “oclão” de sol, uma caminhonetona, casa com um monte de carro na garagem, olha só pra cima. Pobre não. Pobre é danado pra achar moedinha de 10 centavos porque vive olhando pra baixo. Ando cansada de ser pobre, tudo para mim é difícil. Comentei isso enquanto conversava com a Tobiniana e a Lolosa no boteco que tem no bairro Pau Mole, depois do lanche AnalLanches.

Papo vai, papo vem, litrão vai, litrão vem, e aí me deu o primeiro sintoma: uma coceira no furico, também conhecido como veia bostérica. Parecia que tinha pó de mico na calcinha. Não estava aguentando e comecei a remexer na cadeira. Quando ia ao banheiro, parecia que estava mascando “chicreti”. Quando não tinha ninguém olhando, eu enfiava o dedo dentro da calça apertada para coçar. Depois cheirava o dedo (todo mundo faz isso, não me venham dizer que não…)

Coceira dos infernos. Tinha vontade de pegar um abacaxi e enfiar no rabo. A coceira acabou passando para a “gordelícia” (nome carinhoso que dou para a minha ‘pitrica’). Dependurei a conta. O dono pegou um pedaço de papel de pão e escreveu a lápis “Lulu do Canavial deve R$ 50”. Tinha que me expor assim? Pobre é isso. Rico pega o cartão e paga a conta. Cheguei em casa, coloquei um espelho nas partes para ver o que estava acontecendo. Não vi nada. Tobiniana, metida como ela só, disse que eu devia estar com verme. Que pelo tamanho da minha barriga, eu tinha uma criação de anaconda nas tripas. Mandei ela tomar no sul.
Lolosa marcou consulta pra mim no PSF. 10 dias. Rico tem “unimédia”. E eu fui fazer faxina com o furico fervendo por 10 dias.
Dez dias depois, fomos de Corcel (pelo menos um carro eu tinha, depois de pagar 60 prestações de R$ 54,54). O PSF era longe pra dedéu, por isso fomos de carro. No meio do caminho começou a subir uma fumaceira no capô.
A Lolosa:

“Lulu, tá pegando fogo no carro”.
E eu:
“- Meu Santo ‘Ixpidito, socorre nóis’”;
A Tobi, atrás, começou a berrar, em pânico, “é fogo, é fogo, eu sou pecadora, mas não quero morrer assada”.
Desliguei o carro. Era o radiador furado. Lolosa quem descobriu isso. Sapatão é bom pra isso: resolve as coisas, chama o guincho. E eu com o furico coçando. Passou uma carroça que deu carona pra gente. Era o Toinzinho do Carreto. A carroça tinha buzina, retrovisor e um cavalo triste chamado “Legria das Égua”.

Como cheguei atrasada, peguei fila no PSF. Ficamos trocando ideia com o povão. Eu falei do meu problema. Cada um tinha um palpite: “banho de assento com vinagre”, “banho de assento com ‘carbonato’, “banho de assento com pau barbado”, “benzê o furico”, “passar lixa de pedreiro”. Tava vendo a hora que iam mandar cimentar o meu rabo.
Chegou minha vez. Tobi e Lolosa ficaram de fora. Um médico da cara ruim mandou eu ficar de frango assado e tirar a calçola. Examinou. Disse que eu estava com “oxiúris”, um bicho que dá no botão da gente e que dá coceira. Mandou eu tomar uns remédios (lá vai mais dinheiro) e encheu meu toba de pomada.
Olha, “oxiúris” bem que poderia ser uma doença de rico, que tem problema no nervo ciático, pancreatite, um leve mal-estar, um leve incômodo… Mas pobre tem esse trem no botão. Que inferno!

Luciene Garcia

É jornalista e criadora da personagem Lulu do Canavial.

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