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Carros Voadores

É sabido que as pessoas que podem evitam o trânsito das cidades nas primeiras horas da manhã e nos finais de tarde. São momentos muito competitivos, em que todos correm para chegar ao trabalho ou em casa. É nessas horas que ocorrem discussões, agressões e até tiros, nas situações extremadas. Em Franca não é diferente. Perece que nossos motoristas apreciam simplificar regras do trânsito. Há quem chegue em casa pela contramão por residir na última, na penúltima ou na antepenúltima casa do quarteirão, para economizar alguns metros. “Afinal, o que são dez metros na contramão?” – justificou uma vizinha. “Mas pode ter certeza, eu tomo o maior cuidado”, completou.

Pra não chatear, nem vale a pena ficar lembrando que a maioria não faz uso do sinal de mudança de direção nas esquinas; que quase todo mundo passa com o sinal vermelho se não vem ninguém do lado em que ele está verde; e que estacionar em fila dupla, nas zebras ou nas calçadas nem chama mais a atenção nem da polícia etc. E nem vamos cogitar do trânsito nas rodovias, onde podemos ser assaltados ou levar tiro oficial, ou federal se se preferir…

Indo ao tema do título, tenho acompanhado com atenção o noticiário sobre os carros voadores. Soube que estarão sobre as cidades do Brasil em menos de dez anos. Lá pelo ano 2030! E fico imaginando a maravilha que será o deslocamento pelos ares da cidade, livre de solavancos, de semáforos com seus congestionamentos e das pessoas querendo ultrapassar pela direita. Bem, nesse caso, uma parábola, ou um desvio para qualquer direção, inclusive para cima ou para baixo, resolveria a disputa por espaço!
Mas, confesso que tenho pensado naquele pessoal estressado das rotatórias fazendo suas peripécias pelos céus da cidade. Naturalmente não haverá rotatórias congestionadas nem semáforos mal dimensionados, mas o problema é que os motoristas serão os mesmos. Alguém lembrava que comparados com automóveis, os acidentes aéreos são infinitamente menores. Mas, quantos aviões sobrevoam a nossa cidade por dia?

Uma empresa está adiantando propaganda de que os seus carros voadores elétricos serão dirigidos por qualquer pessoa. Que menos de uma hora de treinamento será suficiente para habilitar um piloto comum. Outra empresa americana está prometendo que os carros voadores estarão nos ares por lá até o final de 2025, a preços de carros populares! Essa última informação é inclusiva, porque as mesmas pessoas que têm automóveis hoje poderão possuir um desses veículos voadores. Mas, pela razão de serem as mesmas pessoas a conduzi-los pelos céus da cidade é que vem a preocupação: muito em breve elas irão substituir os automóveis que infernizam as cidades na hora do rush.

Os fabricantes das novas máquinas voadoras garantem que elas serão mais seguras do que os atuais veículos de transporte de pessoas. A promessa é análoga à feita quando cavalos foram substituídos por automóveis no início do século XX. E sabemos o que aconteceu depois. O Brasil ocupa a terceira posição no cenário mundial de mortes no trânsito, só perdendo para a Índia e para a China…

Não costumo ser pessimista, mas ando refletindo sobre a possibilidade de me mudar para um lugar mais afastado do espaço aéreo do tráfego urbano dos próximos anos!

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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