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Ave, Mulheres!

Por Cirlene de Pádua

Vim do mato, sou roceira, mineira,  sim Senhor! Cresci  enfrentando tempestades e trovoadas, conversando com os bichos, com as plantas. Por isso, não tenho medo de nada. Não tenho medo de cara feia ,  gente mal humorada, mal amada.  Af!  Homem machista? Deus me livre! Amo muito e creio ser também amada. Vim de uma família numerosa e construí uma família.


Virtuosa  também.  Sou um pouco narcisista, às vezes fada;  outras, bruxa. Sou amorosa, espírita, coralista . Gosto de amoras e de uma boa prosa. Apesar das lutas enfrentadas, meu coração é leve, grato a Deus, à família e aos amigos. Sou professora com muito orgulho.

Mas… hoje não quero falar de minhas aventuras, o ensejo é homenagear três MULHERES que me representam: Dona Clarice, minha mãe;  Francisca Júlia, minha patrona na AFESMIL ( Academia Feminina Sul-Mineira  de Letras) e Claryssa, minha filha caçula.

Sou a segunda dos 11 filhos gerados, todos vivos, unidos, saudáveis. Mamãe era guerreira, discreta, bonita, sensata, braço direito do meu pai nos negócios, no sítio, bem à frente de seu tempo. Leiga, era alfabetizadora na escolinha da roça, mostrou-me as primeiras letras e por elas me apaixonei. Seus conselhos eram assertivos. Embora meu pai fosse pouco ajuizado, porém, dono de um coração enorme, nunca falava mal dele, uma fidelidade admirável. Eles se amavam tanto, em tempos bons ou de tribulações, que desencarnaram com a diferença de 04 dias. Gratidão eterna a essa mulher gloriosa.

Francisca Júlia da Silva Mister, a “Musa Impassível” do Parnasianismo brasileiro, embalou minha infância com seus poemas infantis. Foi minha referência literária. Hoje, pesquisando, descobri que ela era subestimada ao lado dos poetas parnasianos Olavo Bilac, Raimundo Correa, Vicente de Carvalho e Emílio Menezes, por ser mulher.

Grande poetisa, sonetista, com linguagem nobre e rimas raras, Francisca Júlia  é a expressão documental de adversidades sociais e pessoais, na poesia do desencontro, que foi a sua. Vivera num momento de transição da sociedade escravista e patriarcal para a sociedade capitalista, apenas esboçada. Ela chegou a participar da Semana de Arte Moderna, de 22, mas suicidou-se  após o velório do marido, Filadelpho  Mïster, por não suportar a solidão.

Claryssa, minha filha, nasceu num momento de muita dor – estava no sexto mês de gestação, quando meus pais se foram. Com sua meiguice e carisma, enlaçou  todos nós,  fortalecendo nossa vontade de viver. Desde criança, já sabia o que queria. Começou a estudar violão aos 7 anos e, atualmente, cursa doutorado pela Unicamp, onde se formou em violão erudito. Já participou de intercâmbios em Santiago do Chile, em Denver, Estados Unidos, e se encontra em Havana, Cuba, estudando de perto a obra  do músico escolhido, Leo Brower. Ela aproveita bem o seu tempo, estudando, apreciando as belezas naturais e a Cultura Cubana. E o melhor, é muito simples, amorosa, não se esquece de suas raízes. Cuida dos pais idosos com carinho e respeito. Claryssa compõe o Quarteto Enredado, em Franca, ao lado de Ronaldo Sabino, Daniel Palermo e Gabriel Terra.

Voltando ao meu  “narcisismo” (quem não o possui um pouco), sou inteira. Quero mais é ser feliz, andar de bicicleta lilás, comer churros  na rua e brincar com meus netos, por quem sou cognominada Vó Gaimer.

2 Comentários

  1. Parabéns a Profa. Cirlene de Pádua, cada dia que passa continuo sendo seu fã na literatura e nas artes.
    Atualmente estou concluindo a leitura de seu livro de crônicas: “Dona Moça Toda Prosa”, já pensando no próximo ,”Pingos de ProEsia entre Telas”. Abraços. Evoé.

  2. Querida Cirlene adorei suas palavras. Você é tudo isso e muito mais.
    Parabéns!
    Admiro muito as tres mulheres que você homenageia. Sua mãe por ser esta mulher que conseguiu criar os filhos tao bem. Francisca Júlia que aos poucos vou conhecendo através dos livros e que é nossa Patrona na AFESMIL e a Claryssa que a cada dia se aprimora um pouco mais.
    Admiro em você esta alegria de viver que nos contagia. Feliz dia da mulher á todas nós! Beijos!

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