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As loucas eleições da Venezuela

Fez bem o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ao cancelar o envio de técnicos à Venezuela depois que o atormentado ditador Nicolás Maduro disse, num comício da ultima terça-feira, que os boletins de urnas das eleições brasileiras não são auditáveis e, ainda aconselhou o presidente Lula a tomar chá de camomila se assustou com a previsão (do próprio Maduro) de que se ele perder a eleição haverá um “banho de sangue” no vizinho país. “Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo”, diz nota emitida pela presidente, ministra Carmen Lúcia.

Espera-se, agora, a reação de Lula, no mínimo menosprezado em suas preocupações com os resultados (e conseqüências) das eleições venezuelanas. Como cidadão brasileiro, desagrada-me ver o governante do meu Pais ironizado como fez o mal-educado Maduro, contumaz detentor de grosserias que levam o seu país – a outrora progressista Venezuela – à bancarrota e ao isolamento internacional. O governo brasileiro também deveria cancelar a viagem do ex-chanceler Celso Amorim a Caracas, para evitar a sua participação num possível fiasco ou coisa pior.

As eleições da Venezuela correm sério risco visto que, na sua preparação, o governo impediu a participação de opositores e Maduro – bravateiro já conhecido pelo mundo – percorreu o país fazendo ameaças que podem ser decorrentes do temor de perder no voto e estar preparando alguma fraude ou artimanha para permanecer no poder mesmo que sem o respaldo do eleitor. Lula, o governo e as instituições brasileiras precisam manter distância dessa possivel armação.

O chavismo – que Nicolás Maduro encarna depois da morte do líder Hugo Chávez – conduziu a Venezuela ao caos econômico, onde chegou a faltar até papel higiênico, e tem se mantido no poder a custas de estratégias que passam muito longe da democracia. Persegue opositores e faz toda sorte de esquemas para não correr o risco de ser retirado do poder. Recorda-se do governo paralelo de Juan Guaidó, quem nas eleições passadas, denunciou o quadro adverso, mas de nada serviu. A política radical dos chavistas já provocou grande êxodo na população venezuelana. Estima-se que hoje existam 6,8 milhões de venezuelanos vivendo no exterior, dos quais 550 mil no Brasil. O melhor que nosso País tem a fazer é manter-se longe do conflito e do governo temerário, até em respeito aos refugiados que acolheu e autorizou a aqui permanecerem.

Embora tenha construído sua vida política na esquerda e até feito coisas discutíveis como o Foro de São Paulo e a tentativa de montagem de uma republica de padrão soviético na América Latina, nosso presidente não pode ignorar que hoje vivemos novos tempos. Ele não é mais aquele revolucionário rebelde e romântico e o mundo parece estar virando novo ciclo político, longe da Guerra Fria e da luta esquerda-direita do passado. As eleições européias, onde a extrema direita progrediu e as próprias eleições norte-americanas, onde o presidente foi convencido a não concorrer à reeleição, são testemunhas do novo momento.

Não se esqueça que o senhor é o presidente de todos os brasileiros – tanto dos que lhe deram o voto quanto dos que o negaram. Assim, deve preserva-se das saias justas em que tem se metido. Encontre um meio de não se meter em questões que não digam respeito ao seu governo. Facilite a conciliação com o presidente argentino Javier Milei (que será boa para os dois países) e fique longe de Maduro para que o destino faça dele o que interessar ao povo venezuelano. Sua parte de revolucionário já está feita. Agora, limite-se a governar o Brasil, que também precisa de pulso forte para vencer os desafios. Evite mediar questões que não são suas. Isso só poderá trazer ruídos ao seu governo e incomodar os 203 milhões de brasileiros. Especialmente neste momento, não permita que uma figura caricata como Nicolás Maduro façam pouco de sua pessoa e do Brasil…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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