Árvores floridas nos 200 anos de Franca
Por Elaise Maria de Mello Barbosa
Dizem que no Brasil não temos estações bem marcadas como no Hemisfério Norte. Entretanto, aqui em Franca é muito fácil identificar a época do ano pela floração das árvores. Impossível ignorar tanta beleza que é marcante em nossa floresta urbana.
Nos bairros encontramos várias paineiras que ficam vestidas de cor-de-rosa em março ou abril. O maior patrimônio verde da cidade é sem dúvida o “paineirão” da Rodovia Cândido Portinari, entre Franca e Cristais Paulista. Esta árvore centenária foi tombada em 2015 na ocasião da duplicação da rodovia, quando a estrada teve seu trajeto alterado para que a árvore ali permanecesse.
Os ipês ficam floridos a partir de junho, no caso os ipês roxos “de bola”, que podem ser vistos na lateral do Cemitério da Saudade e em outros pontos da cidade. Na sequência, entre julho e setembro virão os ipês amarelos, os brancos e os rosas. A avenida José Rodrigues da Costa Sobrinho fica lindamente pintada de amarelo. Estas árvores marcam a estação de seca e do tão esperado frio, que não tem se manifestado nos últimos anos.
Já em setembro, as sibipirunas florescem enfeitando o dia das árvores, 21 de setembro. Suas flores amarelas estampam nossa avenida Major Nicácio formando um lindo tapete amarelo nas calçadas do canteiro central.
Ao chegar novembro os flamboyants ficam rubros, anunciando o aniversário da cidade. Árvores nativas de Madagascar, uma ilha na costa leste da África, tem seu nome com origem francesa, significando “flamejante” devido à cor intensa de suas flores vermelhas. Aqui em Franca também encontramos variedades amarelas e alaranjadas, que igualmente florescem em novembro. As primeiras mudas foram trazidas ao Brasil no século XIX, durante o reinado de D. João VI.
Neste ano de 2024 Franca comemora 200 anos de emancipação política. Em 28 de novembro de 1824 a Vila Franca do Imperador com seus 5.800 habitantes, deixa de responder administrativamente a Mogi Mirim, passando a responder diretamente ao governo estadual. Devemos lembrar que o Brasil Império inicia em 1822 com a
Independência, tendo o Imperador Dom Pedro I como figura central, o que justifica o complemento dado ao nome da Vila.
Se temos tantas árvores grandes, imponentes e encantadoras precisamos também de nos lembrar das mãos determinadas que as plantaram pela cidade. Dra. Olga Toledo de Almeida é o nome que aparece imediatamente ao falarmos em paisagismo e plantio de árvores em Franca.
Dra. Olga se formou como única mulher da turma de 1953 na ESALQ, como agrônoma. Trabalhou por mais de 20 anos na Prefeitura de Franca em cargos de confiança. De 1993 a 1996, na gestão do Prefeito Ary Pedro Balieiro, assumiu a Coordenação de Paisagismo da cidade, cargo que infelizmente deixou de existir.
Nesse período Dra. Olga plantou inúmeras praças e áreas verdes públicas, plantou uma imensa quantidade de árvores na cidade, em especial os flamboyants que agora enfeitam avenidas como a av. Orlando Dompieri, a av. Chico Júlio, a av. Presidente Vargas e a av. Rio Negro.
Na época Franca contava com equipes de paisagismo, de plantio, de manutenção, de poda, de corte. A Prefeitura tinha caminhões para irrigação dos espaços verdes. Entre árvores e outras plantas chegava-se a plantar em torno de 40 mudas por dia. As mudas das árvores já com 2 metros de altura, como deve ser. Com este trabalho sistemático agora vemos o resultado pelas ruas de Franca.
Hoje a cidade conta somente com equipes de corte e poda, em grande parte terceirizadas. Infelizmente as podas tem sido mal feitas, podas agressivas, mutiladoras, por vezes mortais. Os flamboyants plantados há pelo menos 30 anos sofrem com os cortes de seus galhos, para que “não atrapalhem” a passagem de caminhões. Já vemos falhas nas linhas de plantio das árvores nos canteiros das avenidas.
Em época de verão permanente, nós como cidadãos, precisamos nos conscientizar dos benefícios das árvores, uma tecnologia pronta para refrescar a vida nas cidades. Soluções baseadas na natureza, é o que se preconiza. Precisamos cobrar o plantio e o cuidado de mais delas na cidade. Na área do verde temos pouco a comemorar neste
aniversário da cidade, mas sonhamos que Franca voltará a ser um modelo a ser seguido em breve se possível. Já fizemos melhor, podemos voltar a fazer.
Dra. Olga está com 94 anos de idade, lúcida. Há alguns anos me contou de sua paixão pelos flamboyants, e que um deles, majestoso, identificava a fachada da Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz” em Piracicaba, onde estudou. Disse que ao morrer gostaria de ter suas cinzas plantadas junto a uma muda de flamboyant. Desejo de quem ama a natureza, de quem deixou um legado verde para nossa cidade, sendo um exemplo e motivo de inspiração!
Árvores (nomes populares) – Floração Esperada
Janeiro – Canafístula, Faveiro, Jatobá
Fevereiro – Canafístula, Faveiro, Quaresmeira, Pau-ferro Março – Canafístula, Quaresmeira, Paineira
Abril –Paineira, Pau-formiga, Quaresmeira Maio – Pau-Formiga, Ipê roxo
Junho – Ipê roxo, Pau-formiga
Julho – Ipê roxo, Ipê amarelo, Ipê branco, Mulungu, Quaresmeira
Agosto – Ipê amarelo, Ipê branco, Ipê rosa, Mulungu, Sibipiruna, Quaresmeira
Setembro – Ipê amarelo, Ipê branco, Ipê rosa, Mulungu, Sapucaia, Sibipiruna, Jacarandá, Cássia grandis, Fedegoso, Pau-brasil
Outubro – Cássia grandis, Sapucaia, Jacarandá, Fedegoso, Pau-brasil
Novembro – Flamboyant, Jacarandá, Aldrago, Resedá, Cássia Imperial
Dezembro – Canafístula, Munguba, Cássia Imperial, Jatobá
Elaise Maria de Mello Barbosa é escritora e líder do Verdejar
Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.