Desde a incursão armada do Hamas em Israel, no último dia 7 de Outubro, ainda no ano de 2023, ofensiva israelense sobre a faixa de Gaza e seus desdobramentos, uma escalada de violência pôde ser observada naquela região, escalada essa que não era vista há, pelo menos, algumas décadas – mortes de civis, em grande medida crianças; sequestro de pessoas; violência sexual contra mulheres; além dos impactos mais “tradicionais”, por assim dizer, de um conflito dessas proporções.
Por mais que esse embate possa ser considerado algo local e, em alguma medida, isolado, tem, na verdade, explicitado uma cisão que segmenta a comunidade internacional em algumas zonas de influência. Ao lado do Hamas, posicionou-se de modo mais contundente nações como o Irã, a Turquia – países consideravelmente mais próximos da Rússia, China e similares –, além de alguns grupos como o Hezbollah – relevante movimento político e militar libanês –, Houthis – organização rebelde bastante influente no Iêmen –, dentre outros. Já em se tratando de Israel, identifica-se o apoio dos EUA, além de uma parcela expressiva da Europa Ocidental, ainda que com algumas ressalvas e, eventualmente, críticas.
Algumas regiões que podem ser consideradas estratégicas no Iêmen estão sob o controle dos Houthis, de modo que esse grupo domina alguns territórios que estão significativamente próximos ao Mar Vermelho, uma rota de grande relevância para o comércio e a economia global e, desse modo, para Israel e seus aliados também.
Nesse cenário, defendendo a retórica de uma vingança contra Israel, os Houthis têm empreendido diversos ataques a embarcações no Mar Vermelho, o que gerou grandes impactos, como citado, para o comércio e a economia internacional, até que, em meados de dezembro de 2023, os Estado Unidos lideraram a criação de uma força-tarefa, visando a proteção dessa rota e, portanto, minimizando os prejuízos econômicos causados pelos aludidos ataques.
Diante do exposto, nos últimos dias, os EUA e o Reino Unido – integrante da coalizão – afirmaram que a força-tarefa citada abateu 21 drones, além de alguns mísseis lançados pelos rebeldes Houthis, o que tem sido apresentado como o “Maior Ataque” já ocorrido no Mar Vermelho.
As tensões estão se elevando na região, o que se trata de um reflexo, em grande medida, dos conflitos atuais entre Israel e o Hamas, além da segmentação internacional mais acentuada em diferentes zonas de influência, como visto. Tal tensionamento no Mar Vermelho, é bem verdade, pode ser o estopim para uma regionalização ainda maior desses conflito, posto que grandes atores internacionais já têm se posicionado e em posições, por vezes, diametralmente opostas entre si.
Diante dessa fragmentação internacional em diferentes zonas de influência, o Brasil tem se colocado em uma posição de relativa neutralidade em muitas questões – não se alinhando diretamente com o chamado “Ocidente”, mas também com algum distanciamento de países como a China, Rússia e seus aliados –, o que pode, é bem verdade, ser positivo em alguma medida. Entretanto a falta de um posicionamento mais contundente no que tange a incorporação de certas zonas de influência, por assim dizer, traz, também, relevantes desdobramentos para a influência brasileira no contexto internacional, variáveis essas, que, certamente, devem entrar no cálculo ao se definir a postura que o nosso país deseja seguir, seus benefícios e contrapartidas.
Excelente análise! Parabéns!