Agronegócio brasileiro já produz o previsto para 2029

O Brasil colhe agora, em 2025, a safra de grãos que previa obter só em 2029. E também obtem recordes na produção de carnes, produtos florestais e combustíveis. Mas, mesmo operando como esteio da economia nacional, padece de dificuldades de financiamento e logística para o escoamento das safras. A força indutora da economia agrícola está na condição climática da região, que permitiu o desenvolvimento de métodos, tecnologias e suprimentos capazes de garantir a execução de três safras por ano, fenômeno difícil em outras regiões do planeta. Não é àtoa que somos observados como celeiro e alternativa para o fornecimento de alimentação ao povo, especialmente na China, Índia e outras regiões de grande densidade populacional.
A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que os produtores brasileiros deverão colocar este ano no mercado 345,2 milhões de toneladas — alta de 15,6% sobre 2023/24. A maior produção de grãos da história do Brasil deverá ser impulsionada por marcas inéditas em produtos como a soja, cuja previsão é crescer 15% em relação à safra anterior; o milho, com aumento projetado em 19%; o algodão, que deve ter incremento de 7%; o sorgo, com expectativa de salto de 23%; e o amendoim, que deve ter acréscimo de 45%, ultrapassando, pela primeira vez, 1 milhão de toneladas.
Os números surpreendem até as perspectivas mais otimistas. Um documento com as projeções do agronegócio nacional elaborado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária em parceria com 13 entidades, publicado em 2024, traçou previsões de produção de grãos para dez anos. Pelo levantamento, o Brasil produziria, em 2024/25, 319 milhões de toneladas. Um volume de quase 345 milhões, 8% acima da expectativa, só era previsto para 2028/29.
Fora dos grãos, um recorde de produção deverá ser registrado neste ano em produtos florestais — alta de pelo menos 11% em relação ao ano passado, segundo entidades do setor. Nos combustíveis, o etanol foi o maior já registrado, com 34,96 bilhões de litros no ciclo 2024/25 da cana-de-açúcar, encerrado em março — 4,06% acima da safra anterior. Já o biodiesel deve crescer 10% em 2025, chegando a 9,9 bilhões de litros.
As carnes também bateram recordes: em 2024, foram 10,2 milhões de toneladas de carne bovina, 14,2% a mais que em 2023; 13,6 milhões de toneladas de frango, avanço de 2,4%; e 5,3 milhões de toneladas de carne suína, alta de 1,2%. Para 2025, as projeções indicam novos crescimentos para o frango e os suínos. Apenas a bovina deve recuar levemente, por menor oferta de novilhas.
Para se ter uma idéia do tamanho do pólo econômico em que se transformou, estudos e levantamentos revelam que se Mato Grosso fosse um país e não um Estado, seria o terceiro maior produtor de soja do mundo, superado apenas por Brasil e Estados Unidos, pois já superou a Argentina.
Estudos dizem que, mesmo com o tarifaço estabelecido pelos Estados Unidos – 50% sobre os produtos brasileiros – o agronegócio ainda é competitivo e lucrativo. Além dos EUA são muitos os países que necessitam de nossas mercadorias para alimentar suas populações. Isso sem dizer dos interesses da China e de outras nações com mercado para receber os grãos, a carne, os combustíveis e outros produtos que o Brasil tornou-se gerador avançado.
O agronegócio é uma grande força econômica para nosso país. Precisa, no entanto, imunizar-se em relação às divergências de ordem econômicas e principalmente ideológicas para a sua produção continuar alavancando o desenvolvimento econômico nacional.
Deve o governo, por seu turno, apressar-se para negociar a solução do tarifaço com Donald Trump e o estabelecimento de boas relações com a Comunidade Européia e outros organismos que podem ser nossos bons clientes.
Maior porção territorial sul-americana e titular da maior economia do continente, o Brasil não pode perder-se em discussões ideológicas ou políticas – tanto de esquerda quanto de direita – e priorizar seu bom relacionamento com os vizinhos sem esquecer do Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul), que ainda não decolou por causa das divergências entre seus membros. A movimentação dos Estados Unidos sob o governo Trump está preocupando o mundo inteiro. A maioria dos países já negociou suas tarifas com o governo de Washington. Espera-se que o presidente Lula tenha o jogo de cintura suficiente para discutir a questão com o colega norte-americano e saia fora das divergências que os vêm separando. Os dois maiores países das Américas não devem atuar em separado por mais diferenças que tenham a negociar. Se romperem, ambos acumulam prejuízos. Principalmente o nosso Brasil que, temos de reconhecer, é o elo mais fraco dessa relação.







